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Geral

Alcides Silva: Língua Portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 11 de agosto de 2011 - 18:07

Eco

Comentando recentemente sobre a figura de linguagem ‘aliteração’, citei o “eco” como um vício de linguagem. Vindo do latim echos, us, no vernáculo eco é a repetição de um som ou de uma palavra; é o ruído, o rumor, o brado, o grito, a repetição e, também, o bom acolhimento, a fama, a notícia.
Em gramática, é a sucessão de palavras com mesmo final sonoro, constituindo, às vezes, dissonância desagradável, e, em outras, excepcionalmente, recurso estético.
Quando o eco não passa de simples rima na prosa é um vício de linguagem, deve ser evitado: Finalmente, o valente tenente, corajosamente, prendeu o servente. - O desbocado acusado foi interrogado pelo delegado.
Nos versos de Cecília Meireles, a repetição do mesmo som cria uma consonância harmônica e musical nos versos, e é um recurso estilístico:
“A ponte aponta / e se desaponta. / A tontinha tenta / limpar a tinta, / ponto por ponto / e pinta por pinta...”
Isso é uma figura de linguagem chamada de aliteração.
“Que um fraco rei faz fraca a forte gente” (Camões),
A diferença entre vício e figura é que o primeiro é um defeito e o segundo, um efeito da linguagem.
Na Grécia antiga, ‘nymphe’ (= ninfa) era a noiva coberta de véus, e, às vezes, a mulher jovem e bela; na mitologia greco-romana, a divindade dos rios, dos bosques, das fontes e dos campos; na língua portuguesa, é a mulher jovem e esbelta; em anatomia humana, cada um dos pequenos lábios da vulva; em zoologia, um dos estágios da larva, naquele em que parece estar envolvida em véus, antes de se tornar inseto adulto.
Na Grécia e em Roma, os deuses-lares eram tantos que quando se sentia algum efeito inexplicável, algum medo sem razão aparente, alguma angústia sem nome, atribuía-se isso aos “deuses desconhecidos”. Povos politeístas, para eles todo o inexplicável era deus. Aliás, deuses e demônios naqueles tempos eram conceitos que se confundiam, vez que ambos significavam espíritos sobrenaturais. Os demônios eram considerados uma classe intermediária entre o ser mortal e a entidade divina. Atuavam, na crendice primitiva, através das ninfas – divindades femininas, mais próximas e mais acessíveis. Naquelas épocas a mulher era considerada um ser frágil e inferior.
Uma dessas ninfas foi Eco, da qual existem muitas lendas. O poeta Ovídio conta, nas ‘Metamorfoses’ (poema que traça a história lendária da humanidade, desde a criação do mundo), que, alcoviteira, Eco ofendeu Harra, favorecendo os amores de Zeus. Como castigo, foi privada da fala e condenada a não poder repetir senão a última sílaba das palavras. Numa outra versão, Eco repudiou o amor de Pã e este, para se vingar, instigou a ira dos pastores contra ela, que acabou apedrejada e despedaçada. Seu corpo foi enterrado, mas sua voz ficou vagando. Uma outra variante da lenda, diz que Eco amou Narciso, que se preocupava mais com sua própria beleza do que com o resto das coisas, e, sem ser correspondida; morreu de tristeza, transformando-se num rochedo que refletia os últimos sons da fala humana.
A isso passou-se a chamar de eco.

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