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A crônica do Corino - José Brígido e o frango

Corino Rodrigues Alvarenga - 05 de setembro de 2006 - 07:16

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José Brígido e o frango

Uma notícia publicada nos sites www.campograndenews.com.br e www.cassilandianews.com.br, neste domingo, dia 3 de setembro, me chamou a atenção. A notícia eu faço questão de transcrever na íntegra:

Homem passa mal e morre engasgado com osso de frango

José Brígido dos Santos, 55 anos, morreu por volta de 11 horas deste domingo após passar mal enquanto almoçava com familiares na residência dele, localizada na Rua Independente, bairro Aero Rancho, em Campo Grande – MS.
Ao passar mal, Santos caiu no chão e começou a salivar em excesso. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado, mas quando os médicos chegaram na casa, ele já estava morto. Um osso de frango foi encontrado dentro da garganta de Santos.

O fato me chamou a atenção e estou aqui a tentar entender como o meu conterrâneo, um trabalhador, com certeza, descansando em casa para mais uma semana de batente, veio morrer dessa forma.
É cena comum: um franguinho na panela no almoço de domingo não chega a ser nada anormal. Praticamente todo mundo come um franguinho no domingo. E nos dias de semana também.
Eu acredito que essa morte trágica de José Brígido se deve mais às estatísticas do que propriamente à ocorrência de um fato isolado. Senão vejamos: a possibilidade de alguém morrer engasgado com um osso de avestruz é remotíssima, afinal ninguém – ou quase ninguém – come carne de avestruz. Eu pelo menos não conheço ninguém que come avestruz.
Mas milhões de brasileiros comem, todos os dias, comem o seu franguinho preparado na panela. Ainda mais em Mato Grosso do Sul, que possui a melhor galinha caipira do mundo. E o melhor tempero. Os frangos goianos e mineiros vêm a seguir. A liderança, nesse quesito, é morena.
Mas voltando ao tema, eu me coloco neste momento no lugar de José Brígido. A sua morte é um sinal de alerta: tudo que fazemos e tudo que não fazemos também podem nos levar à morte. Eu jamais poderia imaginar um tipo de morte assim: a pessoa, na tranqüilidade do domingo e ao comer um inocente franguinho, venha a perder a vida de forma prematura, aos 55 anos.
E não foi uma morte à-toa, uma morte qualquer. Deus, em sua infinita sapiência, sabe o que faz. José Brígido viu chegar a sua hora.
O Criador, lá de cima, naquele domingo tranqüilo, talvez tenha se decidido. E dito em voz baixa:
- Vou trazer o José Brígido para ficar aqui ao meu lado. Ele já está bem alimentado mesmo. Já comeu o seu franguinho. Já está terminando de saborear o último osso, tirando o tutano... Ah!, eu adoro o tutano! Preciso dele aqui. José é um rapaz bom.
E Deus pode ter seguido em seus pensamentos divinos. E voltando-se para São Pedro, o porteiro oficial do Céu, imagino que tenha dito algo assim em voz baixa:
- E mais: você, Pedrinho, sai demais da portaria. Quando você sair, eu vou pôr o José Brígido para tomar conta desse enorme portão. Olha: esse portão está precisando de uma reformazinha. Será que o José Brígido sabe consertar portão?
Eu acredito piamente nisso. Quem morre num domingo tranqüilo na Capital Morena, saboreando um franguinho, não pode ter morrido em vão. Alguma coisa veio lá de cima. Com certeza, com certeza.

Corino Rodrigues de Alvarenga é cassilandense que mora na Bahia
Contatos com o colunista:
[email protected]

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