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A crônica do Corino - Ivan, o discípulo

Corino Rodrigues Alvarenga - 25 de setembro de 2006 - 07:31

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Faz quase vinte anos que saí de Cassilândia, mas jamais irei perder a impressão primeira dos diálogos que tive com o amigo Ivan Fernando Gonçalves Pinheiro, que eu o defino como “um bom discípulo de Sócrates”.
Ivan é questionador e, portanto, está mais para Platão do que para Xenofonte. Ivan sempre te dá corda para você se comprometer ou se sair bem. Tudo depende diretamente da sua capacidade na hora do contraditório. Ivan é um socratiano com fino esmero: certa vez me disse algo mais ou menos assim quando eu iniciava minhas atividades no antigo Cassilândia Jornal:
- Por que nós nascemos com dois ouvidos e apenas uma boca?
Eu passei um bom tempo pensando nisso, pois o amigo advogado não me dera a resposta, evidente. Depois percebi que temos dois ouvidos para ouvir duas vezes, e uma boca para, depois de ouvir duas vezes, fala apenas uma. Falar é uma coisa; dizer é outra, anote aí.
Mas como ia dizendo, Xonofonte foi, no máximo, o relator da vasta obra filosófica de Sócrates – que não escrevera nem parte de sua obra, ao contrário do ribeirão-pretense Sócrates, o médico e ex-jogador do Corinthians, que, por sinal, escreve bem pacas! – e não questionou praticamente nada, não acrescentou praticamente nada, só escreveu.
Já Platão, não. Plantão, como discípulo de Sócrates, acredito, foi até além dele. Sócrates nos ensinou a tirar a felicidade de dentro de nós mesmo, exercendo a virtuosidade, o caráter, o respeito às leis e o civismo, e Platão acrescentou à sua obra as várias formas de nos tornarmos seres virtuosos e fundamentais na sociedade em que vivemos.
Ivan tem um pouco de Platão ao defender, ferrenhamente, esses bons princípios, por sinal, imprescindíveis a um bom advogado, profissão que tão bem é exercida por ele.
Mas eu não quero entrar muito nesse mérito socratiniano-platoniano, mesmo porque sou leigo e a minha praia é outra. Ah!, não falei de Aristóteles, é verdade. Mas Aristóteles, meu amigo, merece um capítulo à parte. Ou vários capítulos, com certeza.
A intelectualidade em Cassilândia sempre foi muito escassa, com o perdão da falta de modéstia. Uma vez vi uma pichação no muro de uma escola:
- A educação em Cassilândia está pecuária...
É claro que o pecuária estava no lugar de precária. Deve ter sido revolta de algum professor da disciplina de Língua Portuguesa. Deve ter sido.
Aliás, amigo Ivan, essa preocupação deve ser levada em conta na eleição do próximo domingo.
Que políticos estão com programas educacionais concretos para a nossa querida terra de Cassinha? Maus políticos, meu amigo... Tomem banana nas urnas!
Mas como ia dizendo, Ivan sempre foi esse porto seguro quando dá vontade de conversar com alguém que tenha algo de bom a lhe oferecer. Ele é, afinal, o resultado prático de algo tão elementar, mas que nossos governantes poucos investem: o livro.
O livro, meu amigo. O livro, o livro, o livro.
Em vez de bobagens, nossos governantes deveriam dar livros para o povo. Bons livros, muitos livros, milhões de livros.
Cultura é um bem que irá junto com a pessoa até as portas do além. Uma casa, o ladrão rouba. Um carro, o ladrão leva. Uma fazenda, o esperto tira. A escritura, o cupim come. Mas cultura, não.
Ninguém jamais irá roubar o seu conhecimento.
Sob as bênçãos das águas límpidas (pelo menos espero que ainda sejam) do Salto do Aporé, o meu amigo Ivan Fernando continua sendo um salto de qualidade na necessidade inclemente e urgente de um bom papo.
Beber a água dessa fonte do saber é mais do que imprescindível. E Ivan Fernando, como raros, sabe disso.
Permaneça por aí, Ivan. Quietinho, introspectivo, calado, como ensinara Sócrates. Prefiro, amigo, o seu silêncio ao que tenho ouvido por aí. E tenho ouvido cada coisa feia!
E, sábio como sempre, Ivan cumpre, na prática e à risca, a célebre frase de Aristóteles: “Trata bem as pessoas quando estiveres subindo, porque provavelmente as encontrarás quando estiveres descendo.”
Como conheço Ivan o suficiente, sei que ele está pê da vida com esta crônica. Modesto, certamente irá me dizer:
- Pó, Corino! Eu não sou merecedor desta homenagem! Não sou digno disso, blá, blá, blá...
Paciência.
Bom-dia, discípulo de Sócrates.
A priori, quantum satis, Ivan.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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