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A crônica do Corino - Dívida preocupante

Corino Rodrigues Alvarenga - 17 de outubro de 2006 - 07:36

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Dívida preocupante

O filho Diego pergunta ao pai Adalberto:
- Pai, é verdade que eu devo R$ 5.500,00?
- Você? Claro que não, filho. Você não tem nem CPF e, portanto, não pode ter contraído legalmente nenhuma dívida.
- Contraído... legalmente? – indagou, contraindo a face rosada. - O que é isso, pai?
- Feito, você não poderia ter feito dívida sem ter documentos pertinentes e...
- Pertinente? O que é pertinente, pai?
- Filho, pertinente significa... significa...
- Bem, pai, deixa isso pra lá. Eu vi na televisão que cada brasileiro deve cerca de R$ 5.500,00. Como eu sou brasileiro e já tenho oito anos, então eu devo também.
- Filho, essa é uma estatística de dívida per capita, entende?
- Não, não entendo. Agora é que piorou tudo. O que é per capita, pai?
- Por cabeça. Quer dizer, cada brasileiro, por cabeça, deve esse valor aí que você falou.
- Xi, pai... estou ferrado, então. Eu só tenho R$ 9,65 no meu cofrinho. E quanto há na poupança mesmo? Acho que uns R$ 200,00. Virgem Maria! Falta muito para chegar aos R$ 5.500,00. Estou preocupado, paizinho.
- Não esquenta, não. Essa dívida toda já tem uns 500 anos. Ela aumentou quando o Brasil assumiu a dívida que a coroa portuguesa tinha contraído junto à coroa inglesa. Eram aproximadamente dois milhões de libras esterlinas...
- Credo, pai! Agora é que eu fiquei confuso mesmo. Então esses coroas todos aí é colocaram o Brasil nessa fria?
O pai se coçou todo:
- Mais ou menos isso, filho.
- Então o governo brasileiro é caloteiro e não paga ninguém?
- Mais ou menos isso, filho. Paga e não paga.É difícil explicar, filho, porque eu não sou economista. O Brasil, a bem da verdade, já pagou essa dívida várias vezes porque paga juros, paga spreads, paga multas, enfim, paga o diabo. E a dívida nunca acaba.
- Ora, ora, pai: se a gente tem uma dívida e paga, então a gente não tem mais essa dívida, certo?
- O problema é a bola de neve que vai crescendo, crescendo. Paga juros hoje, fica devendo spreads amanhã. Paga spreads hoje, fica devendo juros amanhã. Assim, a bola de neve vai crescendo.
- Pai, você tem certeza que não é economista? Você fala igualzinho o homem da televisão.
- Tenho certeza, filho. Eu sou mesmo é professor. Um pobre e mal remunerado professor brasileiro.
- Mas fala igualzinho o homem da televisão.
- É que o papai assiste o jornal da TV todas as noites, não é mesmo? O ser humano é igual papagaio: de tanto ouvir, acaba aprendendo a falar igual. É isso aí.
- O bom é que papagaio não faz dívidas, né, pai?
- Só leva a fama. Periquito come filho, papagaio leva a fama. Coitado do bichinho.
- Pai, vamos deixar esse papagaio para lá e vamos falar da minha dívida? Eu devo ou não devo os R$ 5.500,00 para a gringaiada?
- Deve e não deve, filho. Você deve porque é brasileiro, mas não deve porque não foi você quem fez a dívida, entende?
- Não, paizinho – o filho fez biquinho. - Explica aí, vai. Fiquei mais confuso agora.
- É o seguinte: cada brasileiro deve proporcionalmente esse valor, é só uma estatística...
- O que é estatística, pai?
- Estatística... como vou explicar? Estatística é... é...
- Pai, quer saber de uma? Vamos deixar essa estatística para lá, vamos deixar essa dívida para lá. Se o governo brasileiro, que é rico, não paga, imagina eu...
- É, filho, você tem razão. Que tal a gente falar do Flamengo?
- Não, pai; do Flamengo, não.
- Então vamos falar do Corinthians...
- É melhor a gente falar do São Paulo, que só ganha, ganha, ganha...
- E o Corinthians, filho?
- Só perde, só perde, só perde. E por falar nos times, pai, eles têm dívidas também?
- Têm, filho. E como os clubes de futebol devem!
- Agora fiquei retado. Vamos falar sobre... o amor entre pai e filho. Está bem assim, pai?
- Ótimo tema, filho. Ótimo tema.
- Gostei também.
- É melhor falar sobre o amor.Entre pais e filhos, como na canção de Renato Russo. Também acho, também acho.


Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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