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A crônica do Corino - Cadê a ética?

03 de dezembro de 2006 - 08:11

Cadê a ética?

O brasileiro adora dizer pelas esquinas da vida que o Brasil vai mal. E nós acreditamos mesmo que o Brasil vai mal. Aliás, acreditamos piamente que o Brasil vai mal.
E o pior: vai mal mesmo. Vai mal porque nós, brasileiros, queremos que o Brasil vai mal. Vai mal porque nós não fazemos nada, absolutamente nada, para mudar essa realidade.
Vai mal porque elegemos o vereador que vende o seu voto para o prefeito, trocando votos na Câmara por concessão de linha de ônibus para o transporte escolar ou pelo emprego para aquele presidente de associação que lhe arrumou oitenta e cinco votos; vai mal porque elegemos deputados corruptos que negociam com o governador a formação de maioria na Assembléia Legislativa em troca de benesses, por obras superfaturadas, de cuja planilha já consta o item “despesas extras” que significam a porcentagem que ele irá enfiar no bolso.
O Brasil vai mal porque elegemos senadores viciados que, a cada mudança de humor, inventa mais um imposto, faz conchavos e fecha negócios de duvidosa legalidade em nome da tal governabilidade, em nome das convenções sociais, que, no caso do Brasil, são anti-sociais.
O Brasil vai mal, sim, porque não temos capacidade para discernir o que é moral do que é imoral, o que ético do que é antiético, o que é legal do que é ilegal.
Enfim, o Brasil vai mal porque não movemos uma palha sequer para mudar essa situação.
O Brasil, a bem dos fatos, é uma gigantesca massa falida que vem de há séculos. E isso acontece por um único e exclusivo fator: nós somos coniventes, somos cordeiros e, portanto, somos os únicos responsáveis. Somos os responsáveis diretos.
Quando a mídia manipula e diz que um político é corrupto só porque este está combatendo a corrupção, o que fazemos? Simplesmente o chamamos de corrupto e não buscamos informação segura acerca da assertiva.
Continuamos no mesmo canal assistindo à novela das oito, depois do telejornal, e nada buscamos de informação.
Quando a mídia manipula e diz que um determinado político é inocente, nós continuamos lá, no mesmo canal, assistindo ao filme que vem depois do telejornal da noite e simplesmente não buscamos informação segura acerca daquele assunto para saber se aquele político citado na reportagem é inocente mesmo ou tudo não passa de mais uma matéria paga – quase sempre com dinheiro público envolvido na negociata.
É por isso que o Brasil vai mal. O Brasil vai mal porque nós não cuidamos, como deveríamos, da educação de nossos filhos, porque não participamos de sua vida escolar, porque nunca vamos à escola, não participamos das reuniões de pais e mestres.
Mas nós, que não participamos das reuniões escolares nem acompanhamos a vida escolar de nossos filhos, somos os primeiros a dizer por aí, pelas esquinas e praças da vida, que o ensino vai de mal a pior.
É claro que vai! É claro que vai mal se nós não fazemos nada para mudar a situação; se nós não vamos à escola para exigir a saída daquela professora perdulária e corrupta que recebe o seu salário sem lecionar; se não vamos à escola para cobrar melhores condições para aquela professora honesta e séria que trabalha duro e recebe o mesmo salário, que não recebe o mínimo de estrutura pedagógica para dar boas lições aos nossos filhos.
Assim, prezado amigo, prezada amiga, o Brasil vai mal mesmo. Pior: vai de mal a pior.
E o que temos que fazer para o Brasil melhorar?
Agora, sim: você fez a pergunta certa. O que temos que fazer?
Temos que estudar mais, ler mais, interpretar mais as nossas leituras diárias obrigatórias e, mormente, as leis. Temos que exercer mais cidadania no dia-a-dia.
E o que eu estou fazendo? Faço algumas coisinhas. São poucas, confesso.
Estou lidando com uma biblioteca comunitária aqui em Jacobina, pregando no deserto. Mas estou tentando difundir a importância da leitura para os meus irmãozinhos baianos. E fico aqui a escrever todos os dias. Escrever sem parar. Por compulsão, é verdade. Mas a escrever.
Tenho que melhorar muito como brasileiro ainda. E você também. Todos nós temos que fazer muito mais do que o limite imposto por nossa sempre presente preguiça.
Educação, ética, moral, civismo.
Eu quero fazer uma sugestão a você, amigo leitor, amiga leitora: se a escola do seu filho vai mal, se as paredes estão pichadas ou sujas, se o professor não reúne condições para lecionar, que tal fazer a sua parte? Que tal juntar outros pais de alunos, fazer uma quermesse ou um bingo beneficente em prol da escola, e, com o dinheiro, comprar tinta, comprar material escolar, comprar apostilas ou tirar cópias de apostilas de boas escolas particulares, e começar a fazer a mudança?
Você precisa mudar o seu pensamento para fazer com que as coisas à sua volta também mudem.
Eu estou aqui tentando fazer a minha parte. Tenho consciência de que não estou fazendo o suficiente. Tenho, portanto, que melhorar como brasileiro. A mudança ocorre aí: na atitude.
Se não fizermos nada agora, de nada adiantará ir para as esquinas e praças da vida para dizer que o Brasil vai mal.
O Brasil poderá ir bem – muito bem, obrigado! – se fizermos a nossa parte. Que tal começarmos agora?

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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