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A crônica do Corino - A redação

Corino Rodrigues Alvarenga - 08 de outubro de 2006 - 02:35

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A redação

Eu cheguei, numa certa época, de ser chamado de Axila de Dom Casmurro. Era a turma que não gostava de ler. A gozação era grande nesse período. O motivo? Ora: eu vivia com um livro sob a axila. Axila de Dom Casmurro. Que horrível era aquilo!
Desde os primeiros anos da adolescência lá estava eu com um livro, de preferência de autores como Machado de Assis, José de Alencar, Olavo Bilac, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Mauro Vasconcelos, Cora Coralina, Vinicius de Morais, Carlos Drummond de Andrade, Apolinário Porto Alegre, Mário Quintana e daí por diante. Menos Paulo Coelho. Paulo Coelho só consegui ler umas duas ou três folhas.
Eu era o próprio Axila de Dom Casmurro. Mas que isso era horrível, amigo, isso era.
O engraçado aconteceu na escola quando eu tinha uns onze ou doze anos. Devia estar na quinta série. Houve uma redação, com tema livre, e eu mandei brasa. O texto foi mais ou menos este:

Raul Quintanilha

Após a mosaica senhora deixá-lo só e taciturno, Raul Quintanilha arrancou do seu penhasco agreste todo delinqüir demasiado que compunha-lhe e enalteceu a lufada amante e desvairada que o impregnara numa quase lufada sentimental...

E o texto prosseguia nesta linha aí. Resultado: foi a maior gozação dentro da sala de aula. Todos os meus colegas, praticamente todos, caíram na gargalhada. Muitas gargalhadas. Passei a maior vergonha do mundo. Mas uma pessoa adorou e me elogiou diante de todos: a professorinha. Pobre professorinha.
- Corino é um verdadeiro artista das palavras. Tão jovem e tão brilhante! Vocês deviam se envergonhar de rir de uma obra-prima dessa.
Obra-prima. Essa palavra composta nunca mais saiu da minha cabeça. A professora – pobre coitada! – me achou um gênio. E eu também fiquei me achando um gênio após ouvir aquelas palavras tão elogiosas. Havia esquecido inclusive a galhofa da classe.
Não sei bem se aprendi a escrever. Tem dia que gosto do que escrevo e tem dia que odeio.
Aprendi, no entanto, uma coisa: a confiar mais nas críticas do que nos elogios. As críticas bem fundamentadas ajudam e muito, enquanto os elogios corrompem e enganam.
Aprendi outra coisa com os cabelos brancos: quando alguém me elogia, eu ponho logo a mão na carteira. É para cuidar do dinheiro.
Elogios gratuitos são perigosos. E podem lhe custar algum dinheiro também.
E, por falar nisso, o que você está achando desta crônica que está lendo agora?
Pensando bem, é melhor não dizer se for para elogiar. Estou sem nenhum na carteira hoje.
Agora, se for para criticar, amigo... sou todo ouvidos.
Mas, por favor, não pegue muito pesado.

Corino Rodrigues de Alvarenga
Contato com o colunista:
[email protected]

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