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Língua portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 20 de abril de 2006 - 07:35

Língua portuguesa, inculta e bela!
Alcides Silva
Super-humano – subumano

“Se na palavra super-humano existe hífen separando o prefixo do resto da palavra, por que não o há em subumano?”, foi a pergunta que me veio pelo correio eletrônico, enviada por Gabriela Lemes. Ela se diz cada vez mais confusa quando procura, nas regras gramaticais, uma solução para as suas dúvidas quanto à grafia de palavras que têm prefixos ou elementos prefixados. E me pede que lhe explique ‘as regras da hifenização’.
A pergunta será respondida já e agora: o prefixo super exige hífen nos radicais começados por h ou r (super-homem, super-hidratação; super-resfriado, super-requintado – superabundante, supercampeão, superdose) e o sub só o quer com radical iniciado por r (sub-reitor, sub-remunerado, sub-reptício). Fora disso, sem hífen: subsalário, subscrever, subsecretário, suboficial.
O hífen não é um fato lingüístico (próprio da língua), mas uma convenção ortográfica, um acordo, a única parte da língua que pode ser estabelecida por lei. Aliás, a ortografia, isto é, a maneira correta como se escrevem as palavras de uma língua, não é gramática. Erro de ortografia não é erro de português. É infração a uma norma ou a um preceito.
Porém, com referência “às regras da hifenização” (ou de como se usar o hífen), que são muitas, antes de qualquer comentário, é bom lembrar uma advertência do erudito professor Celso Pedro Luft em seu Novo guia ortográfico: “Arqui-secular / arquicélebre; bem-querer / benquisto; pseudo-original / pseudoprofético; sobre-humano / sobrenatural... Quem olha essas grafias, e não conhece os usos idiomáticos de composição, justaposição e aglutinação, pode facilmente concluir chamando anárquica, contraditória, a ortografia vigente. A que normas obedece a escrita justaposta ou aglutinada dos prefixos?”. E o mestre Luft as esmiuça em cinco páginas de seu precioso livro.
Não havendo como resumi-las aqui, vai uma orientação: usa-se o hífen (a) para ligar os elementos de palavras compostas, (b) para unir pronomes átonos a verbos, (c) para a partição da palavra no fim de uma linha, e (d) para separar, nas palavras derivadas por prefixação, o prefixo do radical.
Com referência à prefixação, que é a dúvida da Gabi, como orientação, um lembrete: a regra é os prefixos aglutinados ao radical, isto é, sem hífen. As exceções que conheço são estas:
1-contra-, extra-, infra-, intra-, supra- e ultra-, quando o radical começa por vogal, h, r ou s: contra-ordem, extra-escolar, infra-assinado, intra-abdominal, supra-renal, ultra-humano. As palavras extraordinário e extraordinária não têm hífen; a aglutinação foi consagrada pelo uso.
2- ante-, anti- e sobre-, quando seguidos de radical que se inicia por h, r ou s: ante-histórico, anti-herói, sobre-humano;
3- super e inter quando o radical for iniciado por h ou r: super-homem – super-humano, inter-regional;
4- ab-, ad-, ob-, sob- e sub-, quando seguidos de radical começado por r: ab-rogar (revogar), ad-rogação (adoção), sob-repção (obter algo com ardil), sub-regional, sub-rogar (substituir);
5- ex-(com o sentido de estado anterior), sota-, soto- e vice: ex-presidente, sota-capitão ou soto-capitão (indivíduo que substitui o capitão a bordo), vice-prefeito; e
6- pós-, pré- e pró-, quando o prefixo conservar seu acento e tiver significado próprio: pós-colonial (poscênio, a parte do teatro que fica atrás do palco, os bastidores), pós-fixado (posfácio, texto posto no final de um livro), pré-ajustar (preâmbulo), pré-escola (preexistência), pré-filosófico (prefácio, texto que antecede uma obra escrita), pró-labore (procônsul). pró-reitor (prorromper).

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