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Geral

Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 23 de abril de 2009 - 16:32

Bem-querido e malquerido

Que razão existe para o radical querido estar aglutinado ao mal e separado do bem?
Se o bem-querido é benquisto, por que esta última palavra não é escrita separadamente? Em benquerença e malquerença não há separação dos prefixos. Por quê?
Novamente o assunto é a hifenização, isto é, aquele risquinho que parece sem importância, mas deixa a gente em dúvida e com severas dores de cabeça. Se escrevo pré-nupcial (o que acontece antes do casamento) com hífen, por que tenho que grafar prenunciar (o que é anunciado antecipadamente) sem aquele bendito sinal? Pré-alegar é alegar antes uma preliminar e tem hífen, qual a razão de preâmbulo, que significa a parte preliminar, ou o caminhar antes, ser escrito numa palavra só? Teria razão eu escrever microempresário e ser obrigado a grafar micro-habitat? E qual a razão de subumano ser emendado e sub-remunerado estar separado? Se em teleducação houve a fusão da vogal, o mesmo fenômeno não deveria ocorrer em microondas? Por quê microônibus e auto-ônibus? Idem quanto a auto-escola e autoposto, super-homem e superestima, co-autor e coadjuvante etecétera e tal.
Se fosse buscar os aparentes contrastes de palavras semelhantes ou cognatas com hífen e sem ele, o espaço da coluna seria inteiramente gasto sem qualquer conclusão.
Afinal, que palavra leva hífen e qual admite fusão de vogais ou conserva ambas?
Dizem que quando escrevo santafessulense ou matogrossense sem hífen, estou maculando o bom português. Querem que eu me defina, descomplicando, já que essa tem sido a linha da coluna.
Mas não dá. O hífen até parece o travesseiro entre dois ex-amantes: intransponível, inarredável, e outros muitos in semelhantes.
O hífen não é um fato linguístico, mas uma convenção e que a ortografia, isto é, a maneira como se escrevem corretamente as palavras de uma língua, não é gramática. Aliás, como filosofa o professor Marcos Bagno, “a ortografia de uma língua, o modo de escrever, não faz parte da gramática da língua”. Erro de ortografia, completa ele, “não é erro de português”. Isso porém não resolve a dúvida que o título acima sugere.
Não há como descomplicar e nem como resumir, aqui, as normas que regem a hifenização. A recente reforma ortográfica dificultou ainda o aprendizado Vai, porém, uma orientação geral. Regra básica: sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-homem.
Outros casos recolhidos em Guia Prático da Nova Ortografia, de Douglas Tufano:
1. Prefixo terminado em vogal: Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, semicírculo. Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracismo, antissocial, ultrassom. om hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-ondas.
2. Prefixo terminado em consoante: com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-bibliotecário; sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, supersônico; Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
3. Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r sub-região, sub-raça etc. Palavras iniciadas por h perdem essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
4. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano etc.
5. O prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, cooperação, cooptar, coocupante etc.
6. Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-almirante etc.
7. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista etc. E aí entra minha opção por santafessulense e matogrossense.
8. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.

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