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Alcides Silva: Língua portuguesa, inculta e bela!

Alcides Silva - 06 de março de 2009 - 08:05

Histórias de palavras

Produtos da inteligência humana, as palavras não morrem como os seres vivos; em desuso, repousam nos dicionários, ficando delas o registro. Um dia poderão ressurgir com roupagem nova e significações semelhantes ou até mesmo antagônicas. Dentre centenas, talvez milhares de exemplos clássicos e significativos, destaco os nomes ‘fantástico’ e ‘formidável’.
Fantástico derivou-se do grego phantastikós, nome que se dava ao visionário e às coisas que tivessem origem na imaginação ou na fantasia. Hoje, no conceito correntio, fantástico é o excelente, o prodigioso, o que é fora do comum e, também o fato que não tem nenhuma veracidade.
Formidável, no latim formidabile era aquilo que fazia tremer, isto é, o temível. No uso atual, formidável é o que é bom, excelente, belo, colossal. Gigantesco, mas, também, aquilo que inspira grande medo.
No antigo Portugal, havia uma moeda de cobre, de pequeno valor, chamada mealha: (“Querei vós, senhor, um conselho, e não vos custará nem mealha?”- Alexandre Herculano: “Lendas e Narrativas”, 13ª ed. vol. II, p. 17). A mealha deixou de ser cunhada, a palavra foi esquecida, até renascer em amealhar, juntar pouco a pouco, economizar, poupar.
Cunhada, particípio do verbo cunhar (amoedar, fazer moeda, imprimir cunho), nada tem a ver com a homófona e homógrafa, descendente do latim cognata que é a irmã de um dos cônjuges.
Cambito era o nome que se dava às pernas finas. E qual a razão? ‘Cambito’ vem de cambar (entortar as pernas ao andar, pender, inclinar). E só as entortam os que as têm finas. Quem assim anda, pode cair, pode inclinar, daí descambar.
Vindo do castelhano lumbre (luz, clarão, fulgor), já tivemos o desaparecido verbo lumbrar, com a significação de alumiar, clarear. Renasceu com deslumbrar (ofuscar pelo excesso de brilho, de luz), deslumbrado (maravilhado, assombrado, fascinado, embevecido) e deslumbramento (encantamento, maravilha, cegueira, obcecação).
A propósito, obcecação não é parente de obsessão e nem com ela tem afinidade. A primeira significa ficar cego, perder o entendimento, a razão; a segunda, é impertinência, persistência.
Guarir é um verbo fora de moda, que já significou curar, sanar. Tem raiz germânica warjan (proteger). Dele a prole é grande: temos hoje guarida (asilo, refúgio, abrigo, proteção) e guarita (casinha destinada ao abrigo de guardas ou sentinelas), guarnição (prover do necessário).
Alvenel ou alvanel, ou, ainda, alvanéu são palavras que só encontramos nos bons dicionários. De origem árabe, significa mestre-de-obras, ou, simplificando, pedreiro. E quem era o pedreiro no passado? O operário que construía casas de alvenaria. Segundo o Houaiss, em 1611, alvenaria era um processo de utilização de pedras não lavradas no levantamento de paredes, muros, arcos, etc., com ou sem argamassa de ligação. Essas pedras eram tiradas da rocha com o auxílio de alvião (picareta). Hoje, alvenaria é o nome que se dá ao conjunto de elementos utilizados na construção de paredes, alicerces, muros, etc.: alvenaria de pedra, alvenaria de tijolo ou alvenaria mista.

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