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Luciane Buriasco

Luciane Buriasco - Mais atenção aos patrocinadores

Magistrada Luciane Buriasco Isquerdo - 05 de fevereiro de 2018 - 08:20

Luciane Buriasco - Mais atenção aos patrocinadores

Nunca fui de prestar atenção aos patrocinadores dos filmes, programas de TV e jornais que tanto fazem parte de minha vida. Mas à esta altura dela, já tendo tido a oportunidade inclusive de estar por trás da notícia, já sei o quanto de inverdade se diz para se levar a opinião pública no rumo de seus próprios interesses. Talvez não seja tão mal assim que estejam todos morrendo para a internet: filmes para streaming, com séries em ascensão, e TV e jornais para sites de internet. Mas eles também têm seus patrocinadores.

José Padilha, o premiado diretor brasileiro, famoso por Tropa de Elite, que há dez anos recebia seu Urso de Ouro, disse ontem na Folha de S. Paulo que plataformas de streaming como Netflix ganham dinheiro com assinatura, daí preferirem séries a filmes. E eu que pensava que era uma nova linguagem, mais jovem, a que eu deveria me adaptar, sem me ater a esta questão econômica.

Outra novidade para mim revelada pelo diretor que nos traz tanta verdade em seus filmes, é que os filmes brasileiros eram feitos por marxistas, daí nunca termos os tradicionais filmes policiais americanos e sim sempre a lógica do coitado. Seu « ônibus 174» se insere nessa lógica, pois seu protagonista que mata e tortura era um coitado. Já seu « Tropa de Elite » inverteu essa ótica e mostrou uma polícia desestruturada, corrupta, que produz matadores e torturadores como o protagonista do filme, Capitão Nascimento. Como sem querer a sociedade ficou a favor dessa polícia, José Padilha nos trouxe a grande verdade sobre a segurança pública no Brasil: finge que existe (pouco nela se investe), porque na verdade é conduzida por políticos que foram « patrocinados » por grandes criminosos.

Então não é para acabar com o tráfico: só « estourar bocas de fumo » ou pegar pequenos transportes, sem importância, produzindo notícias que incrementem o medo - aquele que vende alarmes, serviços de segurança, seguros, etc. A esta realidade Padilha talvez não tenha se atentado, pois foi por isso que ficaram a favor da polícia: a sociedade se insere nesta violência e alimenta seu medo de sofrer violência física ao acompanhar todos os dias as notícias policiais, sabendo inconscientemente de sua própria capacidade de torturar e matar, aliás roubar também, lesando quem pode, o que a arma contra o outro (nunca ela ou os seus), num caldeirão nada fraterno de convívio social.

Precisamos ficar mais atentos: por trás de notícias de regalias na Previdência, angariar apoio popular à Reforma; por trás de notícias contra juízes, desqualificar o trabalho que tem sido feito contra os detentores de - ou ex/pretendentes - a cargos do Executivo e Legislativo, como é o caso da Operação Lava Jato, que vai ser mostrada por Padilha, inclusive, na forma de série: « O Mecanismo », com estreia prevista para 23/3.

Todo discurso, afinal, guarda um interesse. A Odebrecht patrocinou o filme « Lula, o Filho do Brasil », lembra também Padilha. Mas esse era fácil de perceber. Nível 1 de dificuldade. Que estejamos treinados para os níveis mais avançados. Assim poderemos assistir e ler de tudo, conviver com qualquer pessoa. Isolar-se, além de impossível, é doloroso para quem se isola. E o mundo não muda. Entrar no jogo? Ninguém se dá bem o tempo todo. Foi, aliás, o que pensei quando sentei para assistir a série House Of Cards pela primeira vez. Na ficção, o protagonista se dava bem o tempo todo; na vida real, um escândalo de assédio sexual fez cancelar a série.

Luciane Buriasco Isquerdo é Juíza de Direito da 2.a. Vara Cível e Criminal de Cassilândia-MS, apresentadora dos programas de rádio Culturativa (http://www.radiopatriarca.com.br/culturaativa.asp) e Em Família, na Rádio Patriarca. Siga-a no Tweeter: @LucianeBuriasco

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