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Zagalo conta a sua história na Copa do Mundo
Mario Jorge Lobo Zagallo é o profissional que mais vezes disputou a Copa do Mundo: 1958 e 1962 (bicampeão como jogador), 1970 (tricampeão como treinador), 1974 (quarto colocado como treinador), 1994 (tetracampeão como coordenador técnico) e 1998 (vice-campeão como treinador).
Recordista em participações, portanto, o coordenador-técnico da Seleção Brasileira vai disputar a partir de 13 de junho, o dia da estréia do Brasil contra a Croácia, a sua sétima Copa do Mundo - uma verdadeira façanha.
No futebol desde 1948, quando começou no juvenil do América, Zagallo construiu uma carreira vitoriosa como jogador, encerrada em 1965, e depois como treinador, colecionando títulos em todos os clubes e seleções que dirigiu.
Mas foi na Seleção Brasileira que Zagallo, o Senhor Copa do Mundo, viveu os momentos mais marcantes da sua trajetória profissional. Profundamente identificado com a camisa "amarelinha", como não se cansa de dizer, Zagallo se transformou em exemplo e símbolo da Seleção Brasileira.
Nos seus quase 60 anos de futebol, Zagallo viveu muitas histórias. Algumas delas, das seis Copas do Mundo que participou, serão registradas aqui no CBF NEWS todos os domingos.
A primeira delas é sobre a Copa do Mundo da Suécia, em 1958, a do primeiro título do Brasil.
De cotado para o corte a titular absoluto na Suécia
Desde quando começou no juvenil do América, Zagallo tinha como meta chegar à Seleção Brasileira. Era tamanho o desejo que ele não hesitou em trocar de posição para ficar mais perto do objetivo: de meia-esquerda considerado habilidoso, que abusava dos dribles, passou para a ponta-esquerda.
- Logo vi que jogando como camisa 10 não ia chegar nunca à Seleção, já que era a posição em que havia os jogadores mais talentosos do Brasil. O caminho mais curto era a ponta-esquerda.
Já com a camisa 11, transferido para o Flamengo, tricampeão carioca em 53-54-55, Zagalo só foi convocado para a Seleção em 1958, no grupo que se prepararia para o Mundial da Suécia. Estreou no amistoso contra o Paraguai, no dia 4 de maio de 1958, e marcou dois gols na goleada de 5 a 1.
Para a ponta-esquerda, Pepe, do Santos, e Canhoteiro, do São Paulo, eram os outros dois jogadores convocados. Pepe tinha um chute potente com a perna esquerda, marcava muitos gols, e Canhoteiro era considerado um dos maiores pontas-esquerdas do país em todos os tempos.
- Os dois eram excelentes. Percebi que tinha de fazer algo diferente do estilo deles e passei a jogar mais recuado, ajudando na marcação no meio-campo.
Apesar de continuar como titular nos dois amistosos preparatórios que se seguiram ao jogo contra o Paraguai, Zagallo era apontado pela imprensa como o jogador que seria cortado na posição.
- Todo dia saía uma matéria com análises sobre quem seria cortado, e meu nome estava sempre lá. Passei até a não ler mais nada sobre Seleção.
No último amistoso no Brasil, antes da viagem para a Suécia, na vitória de 3 a 1 sobre a Bulgária, no dia 18 de maio 1958, no Pacaembu, Vicente Feola escalou Canhoteiro - Pepe ficou no banco de reservas e Zagallo sequer foi relacionado.
- Ali cheguei a pensar que eu seria mesmo cortado. Mas foi o Canhoteiro. Ficamos eu e o Pepe.
A delegação do Brasil seguiu para a Suécia, com parada na Itália, para jogar dois amistosos. No primeiro, no dia 29 de maio de 1958, Pepe foi o titular e marcou um dos gols na vitória de 4 a 1 sobre a Fiorentina. Mazzola (dois) e Garrincha fizeram os outros gols.
Mas três dias depois, no último amistoso antes da Copa, Zagallo entrou como titular e também marcou um gol na vitória de 4 a 0 sobre o Internazionale. Dino Sani, Mazzola e Dida completaram o marcador.
Zagallo ganhou neste jogo definitivamente a posição de titular. Escalado na estréia do Mundial contra a Áustria, não saiu mais do time, disputando as seis partidas como destaque no aspecto tático e ainda marcando seu gol na goleada de 5 a 2 sobre a Suécia que deu o primeiro título mundial ao Brasil.
- Foi uma emoção que jamais vou esquecer. Tudo com que sonhei ainda garoto no juvenil do América estava realizado. Eu fui campeão mundial em uma Seleção que muitos consderam a melhor que já foi formada em todos os tempos.