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Palocci admite que há brechas para aumento de impostos
Brasília - A preocupação com o aumento da carga tributária deu o tom, ontem, da primeira audiência pública sobre a reforma tributária na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. O convidado foi o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Nunca vi um projeto de reforma tributária, seja ele americano, brasileiro, europeu ou japonês que não tenha brechas para aumento de carga. O aumento da carga pode está dentro da reforma, fora dela, antes dela, durante ela e depois dela. Reforma tributária não tem a ver com o tamanho da carga. O tamanho da carga é um processo e a reforma é a qualidade e o tipo de imposto, disse Palocci. A audiência pública durou perto de dez horas.
Palocci contestou afirmações de que teria ocorrido aumento de carga tributária no primeiro semestre deste ano. O que foi citado aqui de carga este ano foi um ajuste da Contribuição Social sobre Lucro Líquido, que faz com que muitas pessoas utilizem a estrutura de empresa para pagar menos imposto, a partir do imposto sobre lucro presumido. O aumento da Cofins se deu no sistema financeiro, mas não foi aumento de alíquota, foi na verdade ajuste de alíquota, porque a base de cálculo do sistema financeiro para a Cofins é diferente dos demais setores e o resultado da tributação estava abaixo de 3%, que é a alíquota dos demais setores. O que teve que ser feito foi equiparar o sistema financeiro aos demais setores, explicou o ministro.
Palocci acrescentou que, após o aumento de carga produzido nos últimos anos, os agentes políticos e econômicos do país devem fazer um esforço para evitar novos aumentos. A experiência passada mostra que o aumento de carga leva ao constrangimento econômico, ressaltou, lembrando também que, para vencer a crise do início deste ano, o governo optou por fazer ajuste fiscal e cortar gastos, em vez de aumentar o bolo de impostos. Segundo o ministro da Fazenda, a carga tributária este ano está em 21,4%, contra 23,7% registrados no ano passado. A afirmação de que nós precisamos, no mínimo, manter a carga este ano, está sendo um fato e não uma retórica, reforçou.
Reforma tributária
Sobre a consistência da proposta de reforma, o ministro voltou a afirmar que se trata de discutir as mudanças possíveis a um país que passa por momentos de recessão. Hoje, a única reforma cabível é a simplificação e a melhoria da qualidade de impostos, afirmou, ao ressaltar que não há como promover mudanças profundas no sistema de tributação. O governo está disposto a discutir com o Senado a redução da incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para apenas três ou quatro produtos, deixando o restante tributado com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), disse Palocci.
Na avaliação do ministro, haveria um ganho brutal para a economia e para as atividades do Fisco. Ele disse concordar com alguns governadores de que haverá perda se a mudança não for bem feita. Com relação ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, o ministro disse não concordar com a transferência direta de recursos. "Isso não é política de desenvolvimento", afirmou. Para ele, os recursos terão que ser vinculados ao financiamento de projetos de desenvolvimento.
Questionado, em diversos momentos sobre a divisão da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) com os estados e municípios, Palocci lembrou que alíquota de 0,38% da contribuição, 0,20% da saúde e mais 0,08% do Fundo de Combate à Pobreza, já são integralmente repassados aos estados e municípios. O governo federal fica com 0,10% para a Previdência.
Palocci fez um apelo aos senadores sobre a necessidade de ser votada ainda este ano a parte constitucional da reforma tributária. Mas observou que tem consciência de que não há nenhuma hipótese de concluir todo o processo da reforma em 2003, por ser um projeto novo, que tem que ser feito com serenidade. O ministro também disse aos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça que não vê na reforma tributária nenhum impedimento para a criação de um mecanismo que possa reduzir a carga tributária quando houver queda na relação da dívida pública com o PIB (Produto Interno Bruto).
Ele ressaltou, no entanto, que para que isso ocorra é preciso um dispositivo que diminua os gastos públicos. O ministro lembrou que o governo tem feito um trabalho sistemático para reduzir a qualidade da dívida pública do país: "Esse mecanismo pode ser usado, mas tem que vir dotado da redução dos gastos públicos. Se o Senado quiser fazer isso (criar um dispositivo), nós só podemos agradecer, podemos adotar um viés de baixa nesse sentido, considerando que Deus é brasileiro, temos que ter viés de baixa e viés de alta".