Geral
Onde & Aonde & Donde
Língua Portuguesa, inculta e bela
Alcides Silva
Onde Aonde Donde
Apesar de muito semelhantes e de vez em quando serem usadas indistintamente, essas palavras têm sentidos diferentes. Onde significa em que lugar um lugar estático, fixo (Gosto da cidade onde moro), aonde expressa uma idéia de movimento: a que lugar (Aonde vais?) e donde é uma contração da preposição de com o advérbio onde e indica procedência, origem, de que lugar ou idéia de conclusão: (Donde vieste?): "Ele está magro, abatido; donde se conclui não ter força alguma".
Quando
"Estamos no inverno, onde é baixa a umidade relativa do ar". Inverno é uma das estações do ano e não um "lugar" do ano. Assim, o emprego correto não é onde, que indica lugar, mas quando, que se refere a tempo: "Estamos no inverno, quando é baixa a umidade relativa do ar". "A reunião será na Câmara, quando falará o prefeito". Repetindo, quando é advérbio de tempo ou conjunção temporal. Se a reunião será na Câmara (lugar), o termo será onde: "A reunião será na Câmara, onde falará o prefeito". Se indicar movimento, o emprego será do advérbio aonde: "A boatinha é um lugar aonde só vai a juventude". "Fulano esteve na reunião onde falou-se de política". Nesta frase, o advérbio a ser empregado é quando, significando ocasião em que: "Quando sentires uma angústia sem nome / misto de medo e de felicidade, / e morrerem nos teus lábios / as palavras de ingenuidade; /... quando te surpreenderes chorando baixinho, / sem motivo, docemente; /... o Amor, que desconheces e procuras, / terá entrado em tua vida, / para a tua ventura e desventura" (Rodrigues de Abreu).
Si, consigo
É comum também se ver e ouvir o emprego dos pronomes si e consigo como se referissem à pessoa com quem se fala ou a quem se está escrevendo: "Aquele valentão vai brigar consigo" "Disseram-me que a moça andou consigo o dia todo" "Seu pai comprou um lápis para si".
Essas variantes reflexivas do pronome se só podem aparecer quando se referirem ao sujeito da oração. No primeiro exemplo, o sentido da frase como está escrita, é que o valentão (sujeito da oração) quer brigar com ele mesmo. No segundo, é a moça que andou com ela mesma. E no último exemplo, o lápis foi comprado para uso do próprio pai e não para o filho.
Em bom português aquelas frases são escritas (ou faladas) assim: "Aquele valentão vai brigar com você" (ou com o senhor) "Disseram-me que a moça andou com você o dia todo" "Seu pai comprou-lhe um lápis".
Jamais escreva ou diga: "Quero ficar consigo", "Irei consigo" "Não me referi a si". Troque o consigo ou o si por você, ou por senhor ou senhora e tudo ficará corretíssimo.
Os pronomes se, si e consigo são reflexivos, isto é, indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo verbo: Ele feriu-se ao cair - Ela só fala de si - Trazia consigo a arma do crime.
Quede Quedê Cadê
Na linguagem informal, falada, quede é uma corruptela de "Que é (feito) de = que é de = quede, significando o interrogativo Onde está? Daí, por atração da última sílaba, Quedê e Cadê? Nos carnavais dos anos 50, uma música, "Jarro da Saudade", de Daniel Barbosa e Gildo Blota, deu-lhe o destaque popular: "Iaiá cadê o vaso/ o vaso que plantei a flor..." Drummond, em "Caso do Vestido", deu-lhe foro de linguagem escrita: "Olhei para a cara dela, / quede os olhos cintilantes? / quede graça de sorriso, / quede colo de camélia?/ quede aquela cinturinha / delgada como jeitosa? / quede pezinhos calçados / com sandálias de cetim".
Todavia, apesar da autoridade de Carlos Drummond de Andrade e da graciosidade da música carnavalesca, essas expressões devem ser evitadas na linguagem escrita padrão culto -, até porque a língua que falamos não é a mesma que escrevemos.