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Geral

Língua portuguesa, inculta e bela, por Alcides Silva

Alcides Silva - 06 de abril de 2006 - 14:37

O uso irregular do gerúndio

Está se tornando muito freqüente - talvez influência da sintaxe inglesa – o emprego do gerúndio para expressar aspecto de ação futura: “A escola vai estar realizando uma reunião de pais” – “Na quinta-feira a polícia vai estar fazendo uma blitz na rodovia” - “A cidade vai estar comemorando mais um aniversário” – “Vou estar revendo meus conceitos”.
Se na linguagem oral esses “vai estar” ou “vou estar” ainda poderiam ser tolerados – até porque na fala, a liberdade sintática é conseqüência da naturalidade -, na linguagem escrita essas construções não devem ser admitidas.
O verbo estar, seguido de gerúndio, expressa uma ação que se prolonga por algum tempo: “Está fazendo forte calor”; o verbo ir, se acompanhado de gerúndio, exprime uma ação de retirada ou de saída, também de caráter durativo: “Já é tarde e eu vou chegando”. Em ambas as situações, o tempo da ação é o do presente. Isso porque o gerúndio sempre apresenta um processo verbal em curso, em andamento, simultâneo, que está acontecendo ou aconteceu imediatamente antes da ação indicada na oração principal: “Abrindo as janelas, respirei o ar puro da manhã”.
É sabido que o gerúndio é a forma nominal do verbo usada para exprimir uma circunstância ou formar, quando conjugada com os auxiliares andar e estar, verbos freqüentativos, ou para expressar a ação incoativa de um verbo (começo, princípio), quando estiver junto dos auxiliares ir e vir.
Nos exemplos apresentados na abertura deste comentário, o emprego do gerúndio é irregular porque a ação verbal está a ser realizada, no futuro e o uso do gerúndio é impróprio quando houver distância entre o tempo da ação por ele expressada e o da ação do verbo principal.
É aí que está a influência da língua inglesa. O tal do tempo “present continuous” do falar americano, quando reflete ações já planejadas: “They are moving next week” = Eles estão se mudando na próxima semana. Que, aliás, nada mais é que o nosso futuro simples: Eles estarão se mudando... (ação simultânea).
O bom uso do gerúndio
O prof. Agostinho Dias Carneiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicou pela Editora Moderna, do Rio, um livro-guia muito bom: “Redação em construção”. E lá ele mostra que o bom emprego do gerúndio traz significados distintos:
1- Gerúndio modal: “Chegou cantando”.
2- Gerúndio temporal: Indica contemporaneidade entre a ação expressa pelo verbo principal e o gerúndio: “Vi o João passeando”.
3- Gerúndio durativo: “Ficou escrevendo sua redação”.
4- Gerúndio cuja ação é imediatamente anterior à do verbo principal: “Levantando o peso, deixou-o cair sobre o pé”.
5- Gerúndio condicional: “Tendo sido publicada a lei, obedeça-se”.
6- Gerúndio causal: “Conhecendo sua maneira de agir, não acreditei no que me disseram”.
7- Gerúndio concessivo: “Mesmo nevando muito, iria à festa”.
8- Gerúndio explicativo: “Vendo que o leme não funcionava, o comandante chamou o mecânico”.
Como regra geral, o prof. Agostinho Dias Carneiro sintetiza: “O gerúndio está bem empregado quando”:
- há predominância do caráter verbal ou adverbial;
- o caráter durativo da ação está claro; e.
- a ação expressa é coexistente ou imediatamente anterior à ação do verbo principal.”.
Pelo que se vê, os exemplos com que iniciei este comentário, por expressarem ações futuras, fogem dessa regra geral, constituindo-se todos, destarte, em uso irregular do gerúndio, ou gerundismo, assunto já tratado nesta coluna.

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