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Gêmeas siamesas são separadas com sucesso no DF
Desde o dia 17 de setembro, o motorista Francisco das Chagas da Silva e a dona de casa Maria José da Silva vivem apreensivos. Eles são os pais de Lorena e Letícia, irmãs gêmeas ligadas pela região do umbigo, as chamadas onfalópagas, único caso de sobrevivência de siamesas registrado no Distrito Federal. Geralmente esse tipo de criança falece nos primeiros minutos após o parto, diz o pediatra Márcio Morem, responsável pelo berçário patológico do Hospital de Base de Brasília. Letícia e Lorena mudaram as nossas vidas, revela o pai. Elas são um exemplo de luta, completa Maria José da Silva.
A mãe teve um acompanhamento pré-natal todo feito da rede pública de Saúde, em Brasília. Desde o início já sabia que seriam gêmeos, mas não poderia imaginar que seriam siamesas. Só na hora do parto que percebemos que se tratava de um caso como esse, informa o médico Morem. As meninas viraram a paixão de enfermeiras e funcionários do Hospital de Base de Brasília. Não tem quem olhe e não se apaixone por essas gracinhas, derrete-se uma das enfermeiras de plantão.
Não demorou muito para surgir o assunto da marcação da cirurgia de separação das crianças, mas os médicos mostravam insegurança, por ser um caso delicado e as crianças terem uma saúde frágil. Exames e mais exames foram feitos nos bebês. A rotina das crianças era estressante: berçário - sala de exames berçário, umas três ou quatro vezes por dia. Quase não conseguia vê-las, protesta o pai. A maior preocupação de todos era na dúvida sobre a reação das únicas gêmeas siamesas nascidas no Distrito Federal.
Na verdade, outros casos de nascimento de siameses já foram registrados em Brasília. Mas nenhum sobreviveu, afirma o médico Ubiratan Moreira. Nesse período, um fato preocupou a equipe médica. Uma das meninas, Letícia, teve uma crise de apnéia suspensão temporária da respiração , natural em bebês recém-nascidos. Os médicos informaram que isso acontece por causa do pouco desenvolvimento do aparelho respiratório. A medicação foi dada e Letícia teve uma noite tranqüila, sem alterações clínicas. A outra irmã parecia lutar pela sobrevivência de Letícia. Ela não dormiu em nenhum momento, informa a plantonista.
Enfim, a data da cirurgia foi marcada: 1º de outubro. Os pais, Francisco e Maria, estavam muito preocupados. Já perdemos um bebê com 15 dias de vida, relembra a mãe.
Cerca de três horas foram necessárias para a equipe de quatro cirurgiões concluir a cisão das meninas. A equipe médica esteve de prontidão durante todo esse tempo. O pai, aflito, andava de lá para cá. A mãe aguardava serenamente, em estado de prece, a aparição dos médicos com alguma novidade. Quando o doutor chegou com a notícia, nem acreditei. Foi milagre de Deus, emocionam-se.
Os médicos podem comemorar o êxito da cirurgia. Na manhã de hoje, a mãe e o pai eram só sorrisos. É muita bênção do Senhor, diz a mãe, religiosa fervorosa.
Os médicos acreditam na recuperação rápida das meninas. Se tudo correr bem, elas voltam para o berçário em 36 horas, revela o cirurgião responsável pela UTI, Idelrico Lima. Eles temem o surgimento de hemorragia ou infecção. Elas são muito novas. Possuem pouca imunidade no corpo, completa.
Um corte de aproximadamente 8 centímetros vai marcar a barriga das meninas. Os pais não tinham palavras para agradecer pelo êxito na operação.
Nas próximas 24 horas, provavelmente, mais uma vitória estará a caminho. O prazo de risco pós-cirurgia acaba e as chances de uma vida normal se aproximam. O milagre, denominado pela mãe, vai ser motivo de mais comemoração da família e da equipe médica do hospital.