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Gêmeas siamesas são separadas com sucesso no DF

Caio Barbieri/Agência Brasil - 02 de outubro de 2003 - 16:39

Desde o dia 17 de setembro, o motorista Francisco das Chagas da Silva e a dona de casa Maria José da Silva vivem apreensivos. Eles são os pais de Lorena e Letícia, irmãs gêmeas ligadas pela região do umbigo, as chamadas onfalópagas, único caso de sobrevivência de siamesas registrado no Distrito Federal. “Geralmente esse tipo de criança falece nos primeiros minutos após o parto”, diz o pediatra Márcio Morem, responsável pelo berçário patológico do Hospital de Base de Brasília. “Letícia e Lorena mudaram as nossas vidas”, revela o pai. “Elas são um exemplo de luta”, completa Maria José da Silva.

A mãe teve um acompanhamento pré-natal todo feito da rede pública de Saúde, em Brasília. Desde o início já sabia que seriam gêmeos, mas não poderia imaginar que seriam siamesas. “Só na hora do parto que percebemos que se tratava de um caso como esse”, informa o médico Morem. As meninas viraram a paixão de enfermeiras e funcionários do Hospital de Base de Brasília. “Não tem quem olhe e não se apaixone por essas gracinhas”, derrete-se uma das enfermeiras de plantão.

Não demorou muito para surgir o assunto da marcação da cirurgia de separação das crianças, mas os médicos mostravam insegurança, por ser um caso delicado e as crianças terem uma saúde frágil. Exames e mais exames foram feitos nos bebês. A rotina das crianças era estressante: berçário - sala de exames – berçário, umas três ou quatro vezes por dia. “Quase não conseguia vê-las”, protesta o pai. A maior preocupação de todos era na dúvida sobre a reação das únicas gêmeas siamesas nascidas no Distrito Federal.

Na verdade, outros casos de nascimento de siameses já foram registrados em Brasília. “Mas nenhum sobreviveu”, afirma o médico Ubiratan Moreira. Nesse período, um fato preocupou a equipe médica. Uma das meninas, Letícia, teve uma crise de apnéia – suspensão temporária da respiração –, natural em bebês recém-nascidos. Os médicos informaram que isso acontece por causa do pouco desenvolvimento do aparelho respiratório. A medicação foi dada e Letícia teve uma noite tranqüila, sem alterações clínicas. A outra irmã parecia lutar pela sobrevivência de Letícia. “Ela não dormiu em nenhum momento”, informa a plantonista.

Enfim, a data da cirurgia foi marcada: 1º de outubro. Os pais, Francisco e Maria, estavam muito preocupados. “Já perdemos um bebê com 15 dias de vida”, relembra a mãe.

Cerca de três horas foram necessárias para a equipe de quatro cirurgiões concluir a cisão das meninas. A equipe médica esteve de prontidão durante todo esse tempo. O pai, aflito, andava de lá para cá. A mãe aguardava serenamente, em estado de prece, a aparição dos médicos com alguma novidade. “Quando o doutor chegou com a notícia, nem acreditei. Foi milagre de Deus”, emocionam-se.

Os médicos podem comemorar o êxito da cirurgia. Na manhã de hoje, a mãe e o pai eram só sorrisos. “É muita bênção do Senhor”, diz a mãe, religiosa fervorosa.

Os médicos acreditam na recuperação rápida das meninas. “Se tudo correr bem, elas voltam para o berçário em 36 horas”, revela o cirurgião responsável pela UTI, Idelrico Lima. Eles temem o surgimento de hemorragia ou infecção. “Elas são muito novas. Possuem pouca imunidade no corpo”, completa.

Um corte de aproximadamente 8 centímetros vai marcar a barriga das meninas. Os pais não tinham palavras para agradecer pelo êxito na operação.

Nas próximas 24 horas, provavelmente, mais uma vitória estará a caminho. O prazo de risco pós-cirurgia acaba e as chances de uma vida normal se aproximam. O “milagre”, denominado pela mãe, vai ser motivo de mais comemoração da família e da equipe médica do hospital.

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