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Entrevista com o porta voz André Singer. Confira

Paula Medeiros e Gabriela Gerreiro/Agência Brasil - 06 de setembro de 2003 - 15:09

Pouco se fala de André Singer fora de seu ambiente de trabalho. Mas é difícil imaginar que, com uma rotina tão intensa no Palácio do Planalto, o porta-voz consegue reservar tempo para fazer exercício físicos, almoçar em companhia da família e ouvir música - que vai do clássico a Roberto Carlos, passando pelos Beatles. Acostumado a ser um estudioso da política, como cientista político, ou espectador, como jornalista, Singer ainda está se ambientando com o outro lado, o de fazer parte da equipe de governo.

Foi a sua ligação com a política que o aproximou do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu pai, o economista Paul Singer, foi um dos fundadores do PT. Com a ditadura militar, André se envolveu no movimento estudantil e passou a conviver mais de perto com o então líder sindical Lula. Em meados dos anos 80, estreitou laços com o presidente quando atuou como repórter da Folha de São Paulo, cobrindo, entre outros grandes momentos da vida política do País, as Diretas Já. Acabou deixando temporariamente o jornalismo para participar da campanha de Lula em 1989 e, daí por diante, apesar de manter seu trabalho jornalístico no comando de redações como a da revista Superinteressante, não parou mais de colaborar com o Partido dos Trabalhadores.

Leia a seguir a entrevista concedida em sua sala, no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos metros do gabinete daquele por quem ele fala, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Agência Brasil - Como aconteceu sua aproximação com Lula?

André Singer - Eu participava de movimentos estudantis na década de 60 e nós organizamos atividades de apoio às greves dos metalúrgicos do ABC. Desde a década de 80 sou filiado ao PT. Quando trabalhava como repórter, na Folha de São Paulo, afastei-me das atividades do partido e o contato com Lula passou a ser entre repórter e fonte. Nas eleições de 89, estava saindo da Folha e me engajei na campanha no segundo turno. Ao final, fui convidado a organizar um livro sobre a campanha, que se chamou “Sem Medo de Ser Feliz”. Era um livro jornalístico, com fotos e textos, e uma entrevista com o atual presidente, publicado em 1990. Dez anos depois, publiquei um outro livro, que é um livro acadêmico, de ciência política, sobre as campanhas de 89 e 94. No final de 2001, fui convidado para ser o porta-voz da campanha e aceitei. Comecei a trabalhar na campanha em abril de 2002.

Agência Brasil - Como é o trabalho do porta-voz da Presidência?

André Singer- Eu acho que a definição do que faz o porta-voz é a de que ele expressa o ponto de vista da Presidência e, mais especificamente, do presidente, quando ele julgar que o assunto merece ser abordado por ele. O trabalho do porta-voz é um tanto quanto diversificado, porque pode incidir sobre qualquer assunto que esteja na órbita do presidente e da Presidência. O julgamento sobre o que dizer e quando dizer cabe ao presidente. Normalmente, o meu contato com ele é diário e, muitas vezes, ocorre em torno das perguntas enviadas pelo comitê de imprensa do Planalto. Esse envio diário das perguntas já estava estabelecido quando iniciamos o governo e é um hábito que eu considero saudável, porque permite respostas refletidas, o que interessa tanto à imprensa como à Presidência.

Agência Brasil - Como são elaboradas as respostas às perguntas enviadas pelos jornalistas?

André Singer- Quando recebo as perguntas, eu procuro primeiro fazer uma coleta de informações em torno do tema para que possa estar o mais informado possível sobre o assunto. Quando eu for conversar com o presidente, devo ter condição, se for o caso, de apresentar a ele uma visão minha que possa eventualmente ser útil. Nós conversamos - às vezes essa conversa é mais longa, às vezes mais curta, depende da agenda do presidente. Geralmente transformo as anotações em uma espécie de roteiro para mim mesmo. Às vezes, eu volto ao presidente com esse roteiro para ele dar uma olhada e, se quiser, alterar alguma coisa. É raro que isso aconteça, mas às vezes acontece.

Agência Brasil- O senhor sugere assuntos sobre os quais acha importante o presidente se pronunciar, ou formas como ele pode responder a uma pergunta?

André Singer- Já aconteceu de eu sugerir uma determinada resposta ao presidente. Ele escuta. É claro que ele é quem tem a noção exata de quais são os assuntos sobre os quais quer se pronunciar, mas, às vezes, por estar acompanhando o noticiário e por acompanhar reuniões, eu faço sugestões baseadas nas próprias falas dele. Durante as reuniões, ele diz coisas que eu anoto e fico com aquilo como uma referência que possa ser usada em um determinado momento em que surja uma questão sobre o assunto. Então, às vezes, eu apresento sugestões que têm relação com algo que ele já vem falando, e ele acata essa sugestão. É uma situação que eu não diria que é freqüente, mas ocorre.

Agência Brasil - O senhor tem autonomia para elaborar notas e pronunciamentos com base em conversas que teve com o presidente?

André Singer - De uma certa forma, sim. Nós conversamos sobre o conteúdo, sobre o que ele gostaria que estivesse expresso na nota ou no pronunciamento, e eu dou uma forma minha, eu redijo aquilo. O conteúdo é dado por ele e, muitas vezes, a própria forma é praticamente dele. Muitas vezes, ele praticamente dita. Eu mudo uma ou outra palavra, a ordem de uma ou outra coisa. Outras vezes, ele dá uma idéia geral e eu proponho uma forma que, muitas vezes, ele também modifica. Essas modificações podem ser maiores ou menores. Já aconteceu de ele mudar muita coisa e de não mudar nada.

Agência Brasil - Já aconteceu de o presidente não gostar de alguma declaração sua?

André Singer - (Risos) Eu acho até que deve ter acontecido, mas ele nunca me disse assim. Ele é uma pessoa muito atenta e muito aguda na percepção dele. A sensação que eu tenho é que ele acha às vezes que está mais preciso ou que está menos preciso. Às vezes, ele gosta mais e às vezes gosta menos. Mas, ele nunca me disse assim, taxativamente, ‘disso eu não gostei’.

Agência Brasil - Como é ser o portador da voz da maior autoridade do País?

André Singer - Em primeiro lugar, é uma enorme responsabilidade. É um peso muito grande. Eu não posso errar, porque as conseqüências de um erro podem ser muito graves, então eu sei que preciso ter cuidado redobrado com o que eu estou falando. Eu procuro, toda vez que os jornalistas fazem perguntas, ser muito fiel àquilo que eu posso dizer. Aquilo que eu não sei eu não digo. Às vezes, quando eu tenho uma impressão ou um entendimento, mas não estou muito seguro se essa é a posição do presidente, eu digo que aquele é o meu entendimento. Claro que esse é um recurso limitado, porque os jornalistas não estão interessados na opinião do porta-voz, e sim na do presidente. Mas, de certa forma, esse é um recurso que me permite manter uma postura de transparência. Essa função tem a ver com transparência e com credibilidade, tanto com o presidente da República como com a imprensa.

Agência Brasil - Como é a vida particular do porta-voz em Brasília, o senhor já se acostumou com a cidade?

André Singer - Eu me mudei com minha família para Brasília. Minha filha mais velha ficou em São Paulo, minha filha mais nova e minha mulher vieram. Nós conseguimos estabelecer uma rotina boa. Brasília é uma cidade boa para viver, boa de locomoção, muito agradável. Eu tenho uma vida saudável. Tem dia que fico até tarde aqui e, no dia seguinte, eu tenho que chegar cedo para a reunião com o núcleo de comunicação, às vezes é cansativo. Mas, em alguns dias é possível sair cedo. Um hábito bom que adquiri aqui em Brasília e que não tinha em São Paulo é o de almoçar em casa, o que é muito bom. Eu corro todos os dias, na maioria das vezes em uma esteira que eu tenho em casa e, agora, recentemente, nós organizamos um futebol das pessoas que trabalham aqui, no comitê do porta-voz, da imprensa, da Secretaria de Comunicação e da Secretaria Internacional. Eu jogo na defesa, não passo do meio de campo. Geralmente jogamos uma vez por semana. Além disso, eu gosto muito de música, principalmente de Beatles e Roberto Carlos. Eu gosto muito de música popular brasileira e gosto também de música clássica, mas não conheço muito sobre música clássica. Eu ouço, mas não tenho formação.

Agência Brasil - Qual a sua avaliação do governo?

André Singer - O governo mostrou que se trata de uma esquerda madura, responsável e capaz de governar. Nós tínhamos consciência das dificuldades, e essa consciência é parte do processo de amadurecimento da esquerda. O que me deixou particularmente satisfeito foi perceber que o governo está dotado de quadros com muita capacidade.

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