Geral
Cliente nunca tem razão, mas loja vive cheia na Capital
Entre o burburinho de uma pequena multidão de mulheres, muitas com crianças no colo, o destaque de loja de roupas na avenida Calógeras é a proprietária, uma pessoa que de tão sincera mais parece uma personagem de novela.
A empresária Magda Murad não para de gritar e é sempre muito direta. Loja cheia, ao contrário do que parece, para ela é um tormento. Vender para pobre é complicado, eles acham que R$ 10,00 é dinheiro, reclama aos berros sem o menor constrangimento diante das clientes.
Ao conversar com ela a impressão é de que na loja, localizada entre a Barão do Rio Branco e Dom Aquino, cliente nunca tem razão e é um incomodo, uma antítese ao que prega todo marqueteiro famoso. Estou já há quinze anos aqui me degradando, comenta, lembrando que o pai tinha loja há 40 anos na Calógeras. Mas era granfa. Depois quebrou e morreu, diz.
A turca, como é chamada pelas clientes, tem planos para daqui dois anos. Vou vender a loja e mudar para São Paulo, morar com minha filha que casou, solta a gargalhada. Cansei de tanta tormenta, explica.
Na fila, as consumidoras já não se assustam com as ofensas, só dão risada, cheias de peças nos braços. E a mulher continua: No Natal, me chamaram de p..., protesta.
As vendedoras, com ar de assustadas, andam de um lado para o outro, sempre com os olhos arregalados. Tem sempre alguém roubando, justifica Dona Magda.
Para evitar o prejuízo, também há seguranças. São homens fortes, com cara fechada, em locais estratégicos e sobre patamares para ver tudo por cima.
A irmã também ajuda nas vendas e é ainda mais pitoresca. Ao se irritar com o falatório da mulherada avisa em tom áspero: O santo vai azedar, a ciganona vai baixar aqui, porque hoje o sangue tá pesado, avisa, também gritando.
Depois, ela mira em uma mulher e apontando para sacolinha que a cliente tem na mão faz o lembrete: Você sabe que tem de pagar isso, né?!
A consumidora vai para fila e ouve outra bronca, agora da Dona Magda, que fica o tempo todo no caixa. Ei, fica quieta aí na fila porque você tá dando muito trabalho hoje. Tá bem doidona hoje.
Constrangida, a cliente diz bem baixinho: Eu só queria pagar.
Sobre o motivo de loja sempre cheia, apesar dos pesares, a proprietária ensina: Nosso lucro em cima das mercadorias é pequeno e por isso garantimos um preço bom e nosso cliente.
Depois de tantos berros e desabafos, dona Magda abre o sorrisão para a equipe do Lado B e diz tchau, com direito a beijo jogado.