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Cassilândia: Detectado mais um caso de raiva bovina

07 de abril de 2009 - 15:56

O Iagro de Cassilândia detectou mais um caso de raiva bovina no município, próximo a divisa com o Chapadão do Sul, segundo informação do chefe do escritório local, o veterinário Lino de Castro.

Entende que a construção de usinas hidrelétricas na região e a proibição de capturar os morcegos dentro da caverna, pelo Ibama, está fazendo aumentar a incidência. Em Goiás já teve notícia de raiva, como a morte de gado, e também no município de Cassilândia. Na região, coincidentemente estão sendo construídas hidrelétricas. O último caso de raiva foi encontrado perto de uma que está sendo construída no Rio Aporé.

Com a formação do lago o habitat dos morcegos é atingido e eles têm que procurar outros lugares.

A proibição do Ibama

Lino de Castro afirmou que o Ibama proibiu o combate do morcego dentro das cavernas. Entende ter sido um dos fatores que tem aumentado o número de morcegos e consequentemente a volta da raiva. Quando podiam ingressar nas cavernas capturavam um morcego e com o tratamento feito, um eliminava de 20 a 30.

Hoje o Iagro precisa colocar redes na saída das cavernas ou em currais. Mas, não funciona, como antigamente. “Assim nós não vamos conseguir bloquear o aumento dos morcegos hematófagos, que é o transmissor da raiva e consequentemente ele vai chegar na cidade”, enfatizou.


Algumas considerações sobre a raiva bovina

Publicado em 23/08/2004 por Lívio Molina, professor da EV-UFMG

A raiva dos herbívoros ‚ respons vel por enormes prejuízos econ“micos diretos. Na Am‚rica Latina, o prejuízo ‚ da ordem de 30 milhões de dólares/ano, sendo que no Brasil este valor se aproxima de 15 milhões de dólares, com a morte de cerca de 40.000 cabeças bovinas. Os prejuízos indiretos, no Brasil, estão calculados em 22,5 milhões de dólares. A infecção natural ocorre em praticamente todos os mamíferos dom‚sticos e silvestres.

Os morcegos são transmissores de raiva, principalmente os que se alimentam de sangue e principalmente da raiva dos animais dom‚sticos de campo, como os bovinos e os eqinos. Ressalta-se que esta situação ocorre na Am‚rica Latina em função da presença do morcego hematófago Desmodus rotundus apenas na faixa compreendida entre o M‚xico e a região central da Argentina, sendo esta esp‚cie de quiróptero a mais importante na transmissão na raiva dos herbívoros. Com a colonização europ‚ia no continente americano e a introdução dos animais dom‚sticos, principalmente bovinos e eqinos, al‚m das alterações ambientais consequentes, foram proporcionadas condições ideais para a proliferação do Desmodus rotundus.

 tamb‚m conhecida como hidrofobia e causada por um vírus. Trata-se de uma doença incur vel e fatal contra a qual existe tanto vacina como soro mas não tratamento depois que a doença se manifestou. Diversos países estão livres dessa doença. Existem a raiva urbana e raiva selvagem. A grande maioria dos casos humanos acontece nas cidades e são devidos a mordidas de cães raivosos.

Existem dois tipos de raiva animal, em relação aos sintomas: a raiva furiosa e a raiva muda ou paralítica. No cão, o período de incubação ‚ de 10 dias a 2 meses ou mais. Na fase que antecede … manifestação mais gritante da doença, os animais apresentam alterações de conduta, procuram se esconder em locais escuros, ficam anormalmente agitados. A excitabilidade reflexa fica exaltada. O animal se assusta ao menor estímulo. O apetite diminui ou acaba e a região onde ele foi mordido fica irritada. Depois de 1 a 3 dias, os sintomas de excitação e agitação se intensificam muito e o cão fica perigosamente agressivo, com tendência a morder objetos, animais e at‚ o próprio dono. Muitas vezes, morde-se a si próprio, provocando s‚rias feridas. A salivação ‚ abundante porque o cão não consegue engolir a saliva em decorrência da paralisia dos músculos da deglutição. O latido fica diferente por causa da paralisia parcial das cordas vocais. Os cães raivosos tendem a abandonar suas casas e a percorrer grandes distâncias atacando, com fúria, seus iguais ou outros animais. Na fase terminal da doença, freqentemente pode-se observar convulsões generalizadas, descoordenação muscular e paralisia dos músculos do tronco e das extremidades.

A forma muda, ou paralítica, caracteriza-se pelo predomínio dos sintomas paralíticos e a fase de excitação ‚ muito curta ou mesmo inexistente. A paralisia começa pelos músculos da cabeça e pescoço; o animal sente dificuldade de engolir parecendo que est engasgado com um osso. O dono, ao socorrer o cão, acaba se contaminando. Em seguida, vem a paralisia das extremidades, a paralisia geral e a morte.A raiva dos gatos ‚, na maioria das vezes, do tipo furioso com sintomatologia semelhante … dos cães.

Os bovinos e eqinos contraem raiva, principalmente atrav‚s da mordedura de morcegos infectados. A sintomatologia, entretanto ‚ diferente. A raiva bovina transmitida por morcegos tem um período de incubação longo, variando de 25 a mais de 150 dias. Os sintomas predominantes são do tipo paralítico.

O período de incubação ‚ vari vel, por‚m o mais comum ‚ entre 25 e 90 dias. Depende da susceptibilidade do animal, do estado imunit rio, da idade, do local da mordedura e da quantidade de vírus inoculado. A forma mais freqente em bovinos ‚ a paralítica. Os sintomas iniciais são: isolamento do animal, tristeza, hiperexcitabilidade. A seguir, surgem sintomas que sugerem engasgo, hipersalivação, tremores musculares, paralisia dos membros posteriores, os animais caem e apresentam movimentos de pedalagem; a morte ocorre entre 3 e 5 dias do início dos sintomas.

Os eqinos, ovinos e caprinos infectados pelo vírus da raiva, após um período vari vel de excitação, apresentam fen“menos de paralisia que dificultam a deglutição e provocam descoordenação das extremidades. O paladar desses animais se altera e eles engolem objetos não digeríveis. Os suínos apresentam uma fase de excitação muito violenta e a sintomatologia, em geral, ‚ muito semelhante … dos cães. As aves, só muito excepcionalmente adquirem raiva.

Qualquer doença que cause encefalite pode provocar sintomas semelhantes aos da raiva. Nos bovinos, a raiva pode confundir-se com botulismo, enterotoxemia, babesiose, intoxicações e outras doenças com sintomatologia nervosa. Nos eqinos, deve-se fazer o diagnóstico diferencial em relação … encefalomielite, rinopneumonite e intoxicações.

Assim, o diagnóstico clínico ‚ apenas sugestivo, devendo ser confirmado em laboratório, principalmente quando houver contato de pessoas com o animal suspeito. Considerando-se o perigo de contaminação do operador e que a eficiência dos m‚todos de diagnóstico depende das condições de conservação da amostra, a colheita desse material deve ser feita por m‚dico-veterin rio. Em laboratório, as t‚cnicas mais utilizadas são:

1.Imunofluorescência.
2.Identificação de corpúsculos de Negri pela coloração de Sellers.
3.Inoculação intracerebral em camundongo.

As t‚cnicas 1 e 2 são as mais r pidas, pois na inoculação intracerebral os camundongos devem ser observados por 30 dias. Os hospedeiros animais que mantêm o vírus r bico na natureza são os carnívoros e os morcegos. Os herbívoros e outros animais não mordedores, os roedores e os coelhos não desempenham nenhum papel na epidemiologia.

Para o adequado controle da raiva dos herbívoros, três medidas devem ser adotadas sistematicamente: vacinação, controle populacional do morcego hematófago e atendimento de foco. O cão ‚ o principal vetor da raiva humana. A infecção se transmite de um cão ao outro e do cão para o homem e aos outros animais dom‚sticos por mordeduras.

O vírus da raiva ‚ um vírus que possui RNA, pertencente … família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus. Os membros desta família possuem natureza prot‚ica complexa, o que os torna bons indutores de imunidade, quando comparados a outros vírus. Isto significa que, em condições de campo, os animais vacinados apresentam bom nível de anticorpos e imunidade duradora.

O animal deve estar saud vel no momento da vacinação, para que outros processos metabólicos e patológicos não interfiram na resposta imunológica. Os cuidados de vacinação devem ser adequados quanto … via de aplicação, dose, tipo de vacina e, principalmente, conservação do produto, tanto no momento da vacinação como desde a sua produção. Os principais tipos de vacina utilizados atualmente no Brasil são: viva atenuada e inativada.

As condições de meio ambiente existentes no Brasil vêm favorecendo o aumento da população de morcegos hematófagos. Considerando a circulação do vírus da raiva entre as populações de quirópteros (ciclo a‚reo da raiva), e a importância do morcego hematófago na epidemiologia desta doença nos herbívoros, medidas criteriosas e efetivas de controle devem ser seguidas. Atualmente, a medida oficial de controle adotada baseia-se no uso da pasta vampiricida (… base de substâncias anticoagulantes), seja nos morcegos hematófagos ou nas mordeduras nos animais agredidos.

Publicado no site Rehagro

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