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Cassilândia: Detectado mais um caso de raiva bovina
O Iagro de Cassilândia detectou mais um caso de raiva bovina no município, próximo a divisa com o Chapadão do Sul, segundo informação do chefe do escritório local, o veterinário Lino de Castro.
Entende que a construção de usinas hidrelétricas na região e a proibição de capturar os morcegos dentro da caverna, pelo Ibama, está fazendo aumentar a incidência. Em Goiás já teve notícia de raiva, como a morte de gado, e também no município de Cassilândia. Na região, coincidentemente estão sendo construídas hidrelétricas. O último caso de raiva foi encontrado perto de uma que está sendo construída no Rio Aporé.
Com a formação do lago o habitat dos morcegos é atingido e eles têm que procurar outros lugares.
A proibição do Ibama
Lino de Castro afirmou que o Ibama proibiu o combate do morcego dentro das cavernas. Entende ter sido um dos fatores que tem aumentado o número de morcegos e consequentemente a volta da raiva. Quando podiam ingressar nas cavernas capturavam um morcego e com o tratamento feito, um eliminava de 20 a 30.
Hoje o Iagro precisa colocar redes na saída das cavernas ou em currais. Mas, não funciona, como antigamente. Assim nós não vamos conseguir bloquear o aumento dos morcegos hematófagos, que é o transmissor da raiva e consequentemente ele vai chegar na cidade, enfatizou.
Algumas considerações sobre a raiva bovina
Publicado em 23/08/2004 por Lívio Molina, professor da EV-UFMG
A raiva dos herbívoros respons vel por enormes prejuízos econmicos diretos. Na Amrica Latina, o prejuízo da ordem de 30 milhões de dólares/ano, sendo que no Brasil este valor se aproxima de 15 milhões de dólares, com a morte de cerca de 40.000 cabeças bovinas. Os prejuízos indiretos, no Brasil, estão calculados em 22,5 milhões de dólares. A infecção natural ocorre em praticamente todos os mamíferos domsticos e silvestres.
Os morcegos são transmissores de raiva, principalmente os que se alimentam de sangue e principalmente da raiva dos animais domsticos de campo, como os bovinos e os eqinos. Ressalta-se que esta situação ocorre na Amrica Latina em função da presença do morcego hematófago Desmodus rotundus apenas na faixa compreendida entre o Mxico e a região central da Argentina, sendo esta espcie de quiróptero a mais importante na transmissão na raiva dos herbívoros. Com a colonização europia no continente americano e a introdução dos animais domsticos, principalmente bovinos e eqinos, alm das alterações ambientais consequentes, foram proporcionadas condições ideais para a proliferação do Desmodus rotundus.
tambm conhecida como hidrofobia e causada por um vírus. Trata-se de uma doença incur vel e fatal contra a qual existe tanto vacina como soro mas não tratamento depois que a doença se manifestou. Diversos países estão livres dessa doença. Existem a raiva urbana e raiva selvagem. A grande maioria dos casos humanos acontece nas cidades e são devidos a mordidas de cães raivosos.
Existem dois tipos de raiva animal, em relação aos sintomas: a raiva furiosa e a raiva muda ou paralítica. No cão, o período de incubação de 10 dias a 2 meses ou mais. Na fase que antecede
manifestação mais gritante da doença, os animais apresentam alterações de conduta, procuram se esconder em locais escuros, ficam anormalmente agitados. A excitabilidade reflexa fica exaltada. O animal se assusta ao menor estímulo. O apetite diminui ou acaba e a região onde ele foi mordido fica irritada. Depois de 1 a 3 dias, os sintomas de excitação e agitação se intensificam muito e o cão fica perigosamente agressivo, com tendência a morder objetos, animais e at o próprio dono. Muitas vezes, morde-se a si próprio, provocando srias feridas. A salivação abundante porque o cão não consegue engolir a saliva em decorrência da paralisia dos músculos da deglutição. O latido fica diferente por causa da paralisia parcial das cordas vocais. Os cães raivosos tendem a abandonar suas casas e a percorrer grandes distâncias atacando, com fúria, seus iguais ou outros animais. Na fase terminal da doença, freqentemente pode-se observar convulsões generalizadas, descoordenação muscular e paralisia dos músculos do tronco e das extremidades.
A forma muda, ou paralítica, caracteriza-se pelo predomínio dos sintomas paralíticos e a fase de excitação muito curta ou mesmo inexistente. A paralisia começa pelos músculos da cabeça e pescoço; o animal sente dificuldade de engolir parecendo que est engasgado com um osso. O dono, ao socorrer o cão, acaba se contaminando. Em seguida, vem a paralisia das extremidades, a paralisia geral e a morte.A raiva dos gatos , na maioria das vezes, do tipo furioso com sintomatologia semelhante
dos cães.
Os bovinos e eqinos contraem raiva, principalmente atravs da mordedura de morcegos infectados. A sintomatologia, entretanto diferente. A raiva bovina transmitida por morcegos tem um período de incubação longo, variando de 25 a mais de 150 dias. Os sintomas predominantes são do tipo paralítico.
O período de incubação vari vel, porm o mais comum entre 25 e 90 dias. Depende da susceptibilidade do animal, do estado imunit rio, da idade, do local da mordedura e da quantidade de vírus inoculado. A forma mais freqente em bovinos a paralítica. Os sintomas iniciais são: isolamento do animal, tristeza, hiperexcitabilidade. A seguir, surgem sintomas que sugerem engasgo, hipersalivação, tremores musculares, paralisia dos membros posteriores, os animais caem e apresentam movimentos de pedalagem; a morte ocorre entre 3 e 5 dias do início dos sintomas.
Os eqinos, ovinos e caprinos infectados pelo vírus da raiva, após um período vari vel de excitação, apresentam fenmenos de paralisia que dificultam a deglutição e provocam descoordenação das extremidades. O paladar desses animais se altera e eles engolem objetos não digeríveis. Os suínos apresentam uma fase de excitação muito violenta e a sintomatologia, em geral, muito semelhante
dos cães. As aves, só muito excepcionalmente adquirem raiva.
Qualquer doença que cause encefalite pode provocar sintomas semelhantes aos da raiva. Nos bovinos, a raiva pode confundir-se com botulismo, enterotoxemia, babesiose, intoxicações e outras doenças com sintomatologia nervosa. Nos eqinos, deve-se fazer o diagnóstico diferencial em relação
encefalomielite, rinopneumonite e intoxicações.
Assim, o diagnóstico clínico apenas sugestivo, devendo ser confirmado em laboratório, principalmente quando houver contato de pessoas com o animal suspeito. Considerando-se o perigo de contaminação do operador e que a eficiência dos mtodos de diagnóstico depende das condições de conservação da amostra, a colheita desse material deve ser feita por mdico-veterin rio. Em laboratório, as tcnicas mais utilizadas são:
1.Imunofluorescência.
2.Identificação de corpúsculos de Negri pela coloração de Sellers.
3.Inoculação intracerebral em camundongo.
As tcnicas 1 e 2 são as mais r pidas, pois na inoculação intracerebral os camundongos devem ser observados por 30 dias. Os hospedeiros animais que mantêm o vírus r bico na natureza são os carnívoros e os morcegos. Os herbívoros e outros animais não mordedores, os roedores e os coelhos não desempenham nenhum papel na epidemiologia.
Para o adequado controle da raiva dos herbívoros, três medidas devem ser adotadas sistematicamente: vacinação, controle populacional do morcego hematófago e atendimento de foco. O cão o principal vetor da raiva humana. A infecção se transmite de um cão ao outro e do cão para o homem e aos outros animais domsticos por mordeduras.
O vírus da raiva um vírus que possui RNA, pertencente
família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus. Os membros desta família possuem natureza protica complexa, o que os torna bons indutores de imunidade, quando comparados a outros vírus. Isto significa que, em condições de campo, os animais vacinados apresentam bom nível de anticorpos e imunidade duradora.
O animal deve estar saud vel no momento da vacinação, para que outros processos metabólicos e patológicos não interfiram na resposta imunológica. Os cuidados de vacinação devem ser adequados quanto
via de aplicação, dose, tipo de vacina e, principalmente, conservação do produto, tanto no momento da vacinação como desde a sua produção. Os principais tipos de vacina utilizados atualmente no Brasil são: viva atenuada e inativada.
As condições de meio ambiente existentes no Brasil vêm favorecendo o aumento da população de morcegos hematófagos. Considerando a circulação do vírus da raiva entre as populações de quirópteros (ciclo areo da raiva), e a importância do morcego hematófago na epidemiologia desta doença nos herbívoros, medidas criteriosas e efetivas de controle devem ser seguidas. Atualmente, a medida oficial de controle adotada baseia-se no uso da pasta vampiricida (
base de substâncias anticoagulantes), seja nos morcegos hematófagos ou nas mordeduras nos animais agredidos.
Publicado no site Rehagro