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Artigo: Porque preocupar-se com a brucelose bovina?

Karina Neoob de Carvalho Castro* e Andrea Maria de Araújo Gabriel** - 19 de fevereiro de 2009 - 07:33

Quem nunca apreciou aquele leite cremoso tirado logo cedo, no curral,
diretamente da vaca? E uma deliciosa fatia de queijo fresco artesanal?
Irresistível, não? Porém, nosso paladar poderá nos envolver,
atraindo-nos a um caminho perigoso: a brucelose.

Compondo o grupo das zoonoses, doenças transmitidas dos animais ao
homem, a brucelose é causada por uma bactéria/,/ que pode alojar-se
dentro das células de defesa, o que dificulta seu controle. Devido à
inespecificidade de sintomas, torna-se difícil o diagnóstico no homem,
sendo conhecida como “Doença das mil faces”. Na fase inicial, o
indivíduo enfermo pode apresentar sintomas como fraqueza, mal-estar,
dores musculares e articulares, cefaléia e febre intermitente. O quadro
pode evoluir e, geralmente, o tratamento é prolongado.

O consumidor pode contrair a brucelose, através da ingestão de leite cru
e derivados, preparados com leite que não foi submetido à tratamento
térmico, onde a bactéria pode persistir durante vários meses. Em
diversas regiões do Brasil é comum as pessoas consumirem produtos de
origem animal, que não sofreram inspeção pelos órgãos e profissionais
competentes. O comércio clandestino destes produtos constitui ameaça à
saúde pública.

Vale ressaltar que a brucelose humana é de caráter principalmente
ocupacional, ou seja, o grupo de maior risco é composto pelas pessoas
que lidam diretamente com os animais infectados, como veterinários,
criadores e tratadores, e ainda os que trabalham com produtos de origem
animal. Portanto, a manipulação de leite e derivados ou carne
contaminada, também pode levar à transmissão da doença ao homem.

A brucelose não é transmitida habitualmente de um ser humano a outro e,
portanto, a profilaxia no homem deve ser feita pelo controle da doença
nos animais. Uma das principais medidas de controle é a vacinação,
obrigatória em todas as fêmeas bovinas e bubalinas de 3 a 8 meses de
idade, sendo utilizada a vacina B19. Sem o certificado de vacinação, as
fêmeas não podem participar de leilões e demais eventos.

Outra importante forma de controle da brucelose bovina é a eliminação
dos animais reagentes positivos aos testes sorológicos. Estes exames
diagnósticos devem ser realizados por médico veterinário habilitado,
sempre que forem adquiridas fêmeas com idade igual ou superior a 24
meses, vacinadas entre três e oito meses de idade, e em fêmeas não
vacinadas e machos com idade igual ou superior a oito meses. Muitas
vezes, a introdução da brucelose no rebanho faz-se a partir da compra de
bovinos aparentemente sãos que, no entanto, estão infectados pela
bactéria/ Brucella abortu/s. A emissão de Guia de Trânsito Animal (GTA)
fica condicionada à apresentação de atestados de exames negativos para
brucelose.

A brucelose bovina encontra-se disseminada por todo o território
nacional, sendo uma das principais causas de aborto em vacas. Animais
sexualmente maduros, especialmente vacas prenhes, são mais suscetíveis à
infecção, porém touros também adquirem a doença, podendo desenvolver
inflamação dos testículos. Quanto aos bezerros, aqueles que não adquirem
a doença via intra-uterina, ao ingerir leite de vacas brucélicas,
poderão infectar-se. Estes animais só manifestarão sintomas de brucelose
na fase da maturidade sexual, parecendo, até então, animais saudáveis,
porém tornar-se-ão fontes de infecção para o rebanho.

A infecção por /B. abortus/ em bovinos ocorre principalmente pela
ingestão de alimentos e água contaminados com produtos de aborto, como
fetos, descargas uterinas e restos placentários. Nas vacas brucélicas a
primeira, e muitas vezes, a segunda gestação terminam em aborto, sendo
eliminadas as bactérias junto à placenta, contaminando os pastos e
consequentemente, os animais do rebanho. As gestações seguintes
normalmente ocorrem sem grandes problemas, aparentando que o animal está
curado ou, ainda, que ocorreu apenas algum problema de menor importância
na prenhez anterior. Porém, apesar de não apresentar sinais clínicos,
estas vacas continuam eliminando bactérias e contaminando o ambiente.

A brucelose bovina tem importância sócio-econômica e de saúde pública
para o Brasil, podendo determinar consequências significativas para o
comércio internacional de animais e seus produtos. Somente em 2004, no
Brasil, foram diagnosticados 81.298 casos. Estima-se que esta
enfermidade leve a redução de 20 a 25 % na produção leiteira, devido aos
abortos, mortalidade de bezerros e demais problemas de fertilidade,
determinando assim, importantes prejuízos econômicos à pecuária nacional.

O leite é um dos alimentos mais completos, devendo ter garantia de
qualidade para segurança do consumidor. Uma das medidas mais importantes
para assegurar a qualidade dos produtos de origem animal é a educação
sanitária, pois visa a conscientização dos diversos profissionais
envolvidos neste setor, bem como da população consumidora.

*Pesquisadora da Embrapa da Agropecuária Oeste (Dourados, MS)

[email protected]

**médica veterinária, doutora em Reprodução Animal, professora da
Universidade Federal da Grande Dourados

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