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Artigo: Negligência familiar e suas consequências

01 de fevereiro de 2009 - 07:30

Finalmente uma telenovela brasileira traz à tona os embates entre família e escola de forma fidedigna! Refiro-me à nova produção da “Todo Poderosa” denominada “Caminho das Índias”. Todos os alunos e professores nos dramas televisivos eram, até então, um tanto quanto inexpressivos, superficiais. Em suma passavam longe do que se enfrenta realmente no dia a dia de uma sala de aula. Creio que os policiais sentem a mesma coisa ao assistir a um filme “hollywoodiano”.
Para situar aos mais desavisados no que se refere à teledramaturgia, como eu mesmo geralmente sou, o personagem vivido pelo ator Duda Nagle é um aluno rebelde, sem limites, totalmente apoiado pelos pais em tudo o que apronta. Antônio Calloni , que vive o pai do rapaz, é relapso em suas obrigações paternas e busca compensar sua negligência apoiando-o sempre, mesmo quando isto significa desqualificar a escola em que o garoto estuda após o mesmo ter praticado uma inquestionável agressão física à professora ou escondê-lo de um oficial de justiça por ter cometido delitos.
Caricatural demais? De maneira nenhuma. Tais despautérios fazem parte do cotidiano de quem “vive dentro de várias escolas cassilandenses”. Senão vejamos: o que o amigo leitor diria de uma criança que não traz a tarefa de casa feita nunca (mas nunca mesmo) ou se esquece quase todos os dias de trazer o material correto para as aulas do período? E de um educando que admite constantemente que não estuda para as provas (que dirá ter hábito de estudo diário)? Isso para não se referir às leituras de livros literários que devem ser feitas em casa, mas nunca chegam a termo. E de um aluno que mesmo flagrado portando armas brancas, assediando as colegas e ameaçando os colegas desmente-lhe diante da mãe (que, aliás, fica a favor de seu rebento buscando motivos esdrúxulos que justifiquem tais comportamentos). E se eu lhe dissesse que alguns desses pais foram candidatos ao cargo de CONSELHEIRO TUTELAR nas últimas eleições?!
Estas “pequenas” displicências paternas levam os pequenos a se habituarem a uma vida escolar letárgica que, naturalmente, levar-lhes-á a uma vida profissional inerte e a uma existência igualmente medíocre.
Exagero? Então continuemos com nossa lista de, digamos, equívocos caseiros. Coloque-se por um instante na posição de Diretor Pedagógico e visualize seu gabinete sendo invadido por um pai que participou de uma única reunião ao longo do ano todo, que nunca assinou os recados nem os boletins que lhe foram enviados, que jamais lhe procurou para conversar sobre as dificuldades encontradas pelo filho e de repente começasse a esbravejar jogando toda a culpa pela reprova do filho em todas as matérias (isto mesmo, em todas!) nos professores, na escola, em você.
E a lista de sandices não pára por aí. O cardápio não seria completo se não fossem dadas as desculpas pela omissão: não tenho tempo para vir à escola; ele já é bem grandinho, dei responsabilidade para ele tomar conta da vida escolar dele; a escola está pegando pesado demais, ele é tão pequenininho; o professor está de marcação; são trabalhos demais; o livro é muito grande, oitenta páginas para se ler em um mês é muito; duas provas em um único dia vão confundi-lo; reprovar um aluno só por causa de três pontos; meu filho não mente pra mim, ele me conta tudo...
E por aí vai. Poderia ficar aqui o dia todo esmiuçando os detalhes de tais desculpas e refutá-las uma a uma, mas para o leitor que mantém um mínimo de bom senso a amostra acima já é o suficiente; já para os que não querem ver, não há clarão capaz de iluminar suas mentes obsoletas e inesquadrinháveis. Como afirma o ditado: o pior cego é o que não quer ver.
No entanto gostaria ainda de fazer uma triste ponderação: lembra-se do caso do índio pataxó que foi queimado vivo por adolescentes bem-nascidos? Eles alegaram em sua defesa terem pensado que a vítima em questão se tratava de um mendigo, como se o fato de estar desprovido de bens materiais tirasse de alguém sua condição de SER HUMANO! Os pais de tais criminosos saíram em suas defesas até a última instância, como se pudesse haver alguma desculpa para tal feito. Logo imaginem que tipo de relação deveriam ter com a escola de seus filhos.
Agressão física a professor e incompreensão familiar nós já temos em Cassilândia, daí a vivenciarmos em nossa comunidade espancamentos e assassinatos com requintes de sadismo há apenas um passo.

Rogério Tenório de Moura é licenciado em Letras pela UEMS, especialista em Didática Geral e em Psicopedagogia pelas FIC, vice-presidente do SISEC (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Cassilândia).

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