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Artigo: conheça a estévia, uma planta doce
A estévia é um arbusto pequeno com propriedades edulcorantes em suas folhas, devido à presença de glicosídeos com poder adoçante muito superior à sacarose. Existem oito glicosídeos na estévia, porém apenas dois em quantidades elevadas: esteviosídeo e rebaudiosídeo. O esteviosídeo possui a maior concentração, 5 a 15% da matéria seca foliar, e um poder adoçante de 250 a 300 vezes superior à sacarose. O rebaudiosídeo, em menor concentração nas folhas, de 3 a 6%, é mais doce, com um poder adoçante de 350 a 450.
Quando os conquistadores espanhóis aportaram na América do Sul, observaram a existência de uma planta que era utilizada para adoçar bebidas medicamentosas e, especialmente, o mate cozido pelos índios tupi-guaranis. O tempo passou e apenas no século 19 esta planta voltou a ser mencionada novamente. Isto ocorreu em 1899, quando um famoso naturalista suiço, radicado no Paraguai, chamado Moisés Santiago Bertoni (1857-1929), obteve referências da planta de ervateiros e índios, em uma de suas viagens às florestas do leste paraguaio em 1887. No Paraguai, a estévia é conhecida na linguagem Guarani por diversos nomes, a maioria derivada da palavra Caá-êhê, com um significado geral de erva doce.
Já nos anos 20 e 30 do século passado, países como os EUA, Polônia e Rússia pediam sementes ou mudas para o Ministério da Agricultura do Paraguai, para estudos e introdução da planta em suas respectivas terras. Outro fato, digno de nota, refere-se ao interesse dos ingleses pela estévia no início dos anos 40. Procurava-se, em 1941, um substituto para o açúcar (de cana-de-açúcar ou beterraba) e a sacarina, devido à crescente escassez de adoçantes durante a II Guerra Mundial. Julgava-se essencial, e de interesse nacional, examinar a possibilidade de produzir substitutos do açúcar natural nas Ilhas Britânicas, onde a estévia chegou a ser cultivada nos verões de 1942 e 1943.
A primeira descrição da estévia feita no Brasil foi em 1926, quando editou-se o primeiro volume do Dicionário das Plantas Úteis do Brasil, do grande botânico brasileiro Manuel Pio Correa (1874-1934). As primeiras notícias na mídia a respeito da estévia datam, provavelmente,de 1926, quando foram publicadas reportagens em matutinos de São Paulo, e na revista "Chácaras e Quintaes", em 1927. Em 1943, novamente o assunto da planta edulcorante voltou à tona, em artigo publicado na Tribuna Farmacêutica, de Curitiba, onde o autor fazia considerações sobre a "novidade".
Na década de 70, o interesse comercial ressurgiu através dos japoneses, quando intensificaram-se aulatinamente os estudos relativos à planta.
Atualmente a comercialização do esteviosídeo tende a crescer cada vez mais, principalmente no Sudeste Asiático e em outras partes do mundo. A expansão do mercado deste adoçante natural e não calórico, sem restrições ao consumo humano, abre novas perspectivas para o cultivo da estévia no Mato Grosso do Sul, uma nova opção para a agricultura familiar. Tendo em vista a importância que pode representar a cultura da estévia no setor de adoçantes não calóricos, que movimentou em 2002 no Brasil cerca de R$ 1,5 bilhões no mercado consumidor final, a Embrapa Agropecuária Oeste realizou nos dias 26, 27 e 28 de agosto um Workshop para a elaboração de uma publicação relacionada ao sistema de produção da estévia, destinada a técnicos e agricultores. Também foram definidas as diretrizes para a pesquisa e fomento da cultura no estado. O evento contou com a participação de representantes da Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados, da Embrapa Sede, de Brasília, e da Steviafarma,
empresa de Maringá, PR, que extrai e comercializa o esteviosídeo.
Oscar Fontão de Lima Filho
Pesquisador Científico
Doutor em Nutrição Mineral de Plantas
Embrapa Agropecuária Oeste
Dourados, MS