Geral
Artigo: A velhice, por Manoel Afonso
TODOS QUEREM VIVER MUITO... MAS NINGUÉM QUER FICAR VELHO.
A gente continua se vendo por dentro como
sempre foi, mas de fora os outros reparam.
(Gabriel G. Marques)
Não adianta chiar e fazer biquinho! Ninguém está condenado à juventude eterna. Ignorar ou não a fila dos idosos nos caixas dos bancos é opção exclusivamente sua.
Engraçado! Com o passar dos anos começamos a fazer umas contas e observações estranhas. Falamos do passado distante como se fosse um simples ontem, fazemos comparações inevitáveis e passamos a questionar fatos e o destino de personagens que num certo período integravam nosso mundo.
Nada escapa ao atento crivo: a última viagem de férias, o casamento do fulano, a morte do vizinho da esquina, a compra da sonhada casa, a formatura da filha do amigo, a aposentadoria do tio e assim por diante. Até nossos ídolos são lembrados: cantores que perderam o espaço, campeões esportivos superados e gente da mídia que simplesmente desapareceu ou perdeu papel de destaque na programação. E naquele balanço fatal de final de ano a dura constatação de que o tempo passou vapt-vupt.
Como ironiza Mário Quintana: É o que dá ver tanta televisão. Ela nos engana direitinho, valoriza demais a juventude, a aparência física e o poder das receitas para se conseguir felicidade e longevidade sem problemas. Como diz um amigo meu: atrás disso está assim de gente faturando com produtos diversos.
Não há dúvida que o escritor colombiano foi feliz em sua afirmativa (em sua última obra) citada abaixo do título. Continuamos teimosamente vendo as outras pessoas com os olhos de ontem, como se o tempo não tivesse passado. Mas em contrapartida, somos vistos exatamente como estamos atualmente: mais magros, gordos ou seja de visual diferente pelo peso natural dos anos vividos.
Claro que cuidar da saúde faz bem e trabalhar na medida do possível também. . A falta do que fazer faz a gente pensar abobrinhas. Cada caso é um caso, mas o Otávio Frias, da Folha de São Paulo, comandava a empresa até o ano passado quando tinha 93 anos de idade. Foi o tipo do cara que nem teve tempo para ficar matutando e se lamuriando contra calendário e o relógio. .
Se não há almoço grátis no banquete da vida, claro que a longevidade - que lhe proporciona tantas emoções e experiências fantásticas também tem seu preço. Pare e pense: já imaginou o que seus amigos que se foram ao longo da infância e juventude perderam por não terem vivido tanto quanto você? Se não pensou, é bom pensar logo! O mundo gira... você conclui a faculdade, arruma um emprego, casa, tem filhos e com o tempo o apartamento fica grande demais. Todos terão ido em busca de seus sonhos.. É exatamente a repetição do que fizeram seus avós e pais. Portanto você não será o primeiro e nem o último a experimentar esse ciclo imutável da vida.
E como cautela é igual caldo de galinha, que não faz mal a ninguém, é bom você seguir a tradição oriental, que trata carinhosamente seus velhos, porque se o mundo gira, ele dá volta! E aí...
MANOEL AFONSO
([email protected])
( comentarista da TV.Record-MS)