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Artigo: A lebre e a tartaruga
Há histórias que são emblemáticas, com toda a sua coorte de personagens, fatos e mensagens. Bruxas, fadas e duendes freqüentam o imaginário infantil e a sua exploração deve ser feita de modo adequado pelos especialistas que têm a responsabilidade de fazer educação.
Veja-se o caso de a lebre e a tartaruga. Hoje, nas escolas municipais de educação infantil e particular (em todo território nacional), no uso da técnica do diálogo/questionamento, muitas crianças afirmam que a tartaruga chegou primeiro, na famosa corrida, porque a lebre ficou dormindo, quando na verdade ela foi sacrificada pelo desejo de ser esperta, numa aplicação à fábula da nefasta lei de Gerson.
Questionamentos e confrontos de pontos de vista, como são hoje sugeridos pelos escritores brasileiros, contribuem para a superação do natural egocentrismo das crianças, possibilitando a conquista gradual da autonomia de pensamento. Assim nascem os indivíduos socialmente críticos, por intermédio da viabilização da sua autoconstrução.
O emprego, nessas questões, da literatura infantil representa um grande conforto, pois idéias, confrontos e interesses transbordam de um contexto extremamente prazeroso para as crianças. Daí nasce a motivação e os resultados naturalmente constituem uma conseqüência desse processo. Quando a criança é egocêntrica ela não se coloca no ponto de vista do outro; o tipo de contato social com as crianças da mesma idade limita-se somente a estar junto. Paulatinamente é que ela conquista o prazer de fazer alguma coisa junta. É a isso que chamamos de processo de socialização, em que a escola exerce papel decisivo.
Por todos esses fatos, mais relevantes ainda quando se trata do período pré-operatório (em geral dos dois aos sete anos de idade), é essencial que a escolha do material didático com que se irá trabalhar se faça de modo adequado. E que os professores estejam devidamente preparados para o uso desses preciosos instrumentos da cultura.
(*) é professor universitário, jornalista e escritor.