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Após perder perna em acidente, boxeador volta ao ringue
A décima luta do 3º Desafio de Boxe Olímpico entre os Meios Médios (81 kg), travada entre Douglas Proença, de Coxim, e o campo-grandense Cleiton Alcântara, marcou o surgimento de um fenômeno de superação. A distância entre o acidente que ceifou a perna direita de Proença, em 2002, e o resgate de dignidade, diminuía a cada golpe aplicado no oponente. A eternidade de quatro rounds, marcado pela vitória em nocaute técnico, selou o ingresso de Proença no mundo dos esportes.
O público que estava no ginásio se surpreendeu quando Douglas Proença, paramentado, se dirigia ao ringue equilibrado numa perna mecânica. O final do combate separou a condição de portador de deficiência e o projetou nacionalmente. O presidente da Confederação de Boxe de Mato Grosso, Sebastian Borges, há 20 no esporte já oficializou convites para exibições de Douglas Silva fora do Estado. Nunca assisti uma luta assim, destacou o dirigente.
A Confederação Brasileira de Boxe também será informada sobre desempenho do atleta, que já projeta uma carreira internacional. O futuro do boxeador será tratado por seu treinador, o vice-presidente da Federação de Boxe de Mato Grosso do Sul, Edésio Ribeiro. Segundo ele, o próximo combate será em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, contra o vice-campeão nacional dos Meios Médios, Sandro Almeida e o invicto Vande Lopes, de Campo Grande.
Tenho que ganhar esta luta. Eu sei que posso. A frase martelou a cabeça de Douglas Proença até o momento em que soou o gongo. Durante a luta outro contratempo: Havia o risco da prótese cair porque não estava adaptada à prática esportiva. A mobilidade também estava comprometida porque entrava ar na junção com o joelho, impedindo que ele fosse de encontro ao adversário.
A cada intervalo Douglas Proença era incentivado pelo técnico, Edésio Ribeiro, com palavras de apoio. A dramaticidade da luta era compartilhada com o público e os pais do boxeador, únicos que conheciam os sonhos do lutador. O público invadiu o ringue no final da luta alguns chorando e carregaram o novo campeão nos braços.
O encerramento do combate, a normalização da adrenalina e a volta para casa fez Douglas Proença voltar no tempo em 20 de janeiro de 2002 quando ele e sua moto foram esmagados por uma carreta na BR-163, em Sonora, a 360 quilômetros de Campo Grande. Ele sofreu fratura exposta nos dois braços, bacia e várias partes da perna direita. Mesmo após 15 cirurgias e uma infecção por osteomielite o jovem ficou quase dois anos numa interminável tentativa de recuperar o movimento da perna direita.
Cada procedimento médico era antecedido por anestesia geral para que vários membros fossem operados simultaneamente. Um ano depois, andando de muletas, e 30 quilos mais magro, Douglas já vislumbrava que usar uma prótese não deveria ser pior do que ter uma perna que trazia somente dor em sua vida.
Convencer o médico de sua decisão tornou-se a tarefa mais difícil do a amputação do membro. Na tentativa de demovê-la da idéia o especialista pedia novos exames. Acordei feliz, foi a operação mais simples que fiz. Sabia que não iria mais sofrer, lembra o boxeador. Colocar a prótese e ter atividades normais aconteceu rapidamente, salientou.
O gosto pelo boxe teve influência do pai ex-lutador e os embates lendários de Evander Hollyfield contra Mike Tyson. Proença concretizou o sonho de lutar e ainda de quebra superou limites que seus ídolos do boxe nunca enfrentaram.