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Waldomiro Alves Gonçalves, a história do homem público

Por Corino Rodrigues de Alvarenga - 05 de abril de 2016 - 21:42

Waldomiro Alves Gonçalves, a história do homem público

Valdomiro Alves Gonçalves, além de político ilustre, foi o primeiro doutor filho de Cassilândia. Ele nasceu na Fazenda Pontal, de propriedade do pai, o velho João Cadete, no dia 10 de novembro de 1935. O pai havia nascido em Campina Verde, onde nasceu também Chiquinho Cadete, uma das pessoas mais importantes na sua influência como homem de sucesso.

Na segunda década do século passado, a família veio para o nosso Estado, trazendo a esperança de vencer, através do trabalho braçal.

Assim que chegou por aqui, Chiquinho conheceu o Major Leodório Rodrigues, chefe do clã que se tornou famoso em Paranaíba sob a liderança do Coronel Gustavo da Silva, que durante 50 anos foi o chefe-maior das grandes reivindicações das comunidades da nossa região.

Valdomiro contou que o velho desenvolveu intensa atividade agropecuária, trabalhando inicialmente em propriedades do Major Leodório e depois adquiriu propriedade rural no então município de Paranaíba. O pai, João Cadete, uniu-se por laços matrimoniais com Dolores Alves Garcia, filha da tradicional família Garcia que é muito influente em Cassilândia, Paranaíba e outros municípios do Estado.

João Cadete tornou-se amigo das mais expressivas famílias daquela região. E a exemplo de seu pai, Chiquinho Cadete, ligou-se fraternalmente à liderança política do Coronel Gustavo, além de ser aliado de Antônio Paulino e Sebastião Leal, o primeiro prefeito eleito de Cassilândia.

Voltando no tempo, em 1932, por ocasião da revolução constitucionalista, o pai submetera-se à liderança do afamado Coronel, integrando-se a um corpo de expedicionários, que na região e especialmente em Três Lagoas, combateu as forças legalistas de Getúlio Vargas. Ao retornar, no final da emboscada revolucionária, o Coronel Gustavo e seus companheiros retornaram a Paranaíba, derrotados, porém, orgulhosos por terem lutado por uma causa que consideravam justa, não perdendo jamais sua capacidade de liderança na comunidade.

Coronel Gustavo residia em uma propriedade rural que ficava distante alguns quilômetros de Santana de Paranaíba e, dias depois de seu retorno, teve que ir do povoado à fazenda. Porém, começou a correr o boato de que ele seria tocaiado e morto no caminho. O Coronel Gustavo convidou alguns amigos à sua propriedade, mas quase todos se recusaram a acompanhá-lo, temendo a morte.

Dois homens apenas tiveram a coragem de acompanhar o Coronel Gustavo: seu irmão Olegário e o velho João Cadete. Isso ocorreu em 1932 e daí nasceu o compromisso moral e político do Coronel com seu pai, que estava desejoso de ver seu filho tendo um futuro brilhante na política.

Em 1966, Valdomiro foi eleito deputado estadual, com o incondicional apoio do Coronel Gustavo, que perdurou também por outras batalhas políticas e eleitorais futuras. Valdomiro fez questão de frisar que somente chegou ao sucesso em sua carreira política graças à fidelidade e ao tronco de amizade do pai e do velho Coronel Gustavo Rodrigues durante mais de três décadas.

O velho João Cadete criou os filhos com muita rigidez e seriedade, e Valdomiro, de todos eles, foi o que demonstrou possuir grande habilidade, carisma e jeito para a política, chegando a diversos postos importantes na vida pública.

Valdomiro lembrou que na década de 40 a estrada que ligava Paranaíba a Cassilândia passava pela propriedade de seu pai, facilitando assim o contato com as duas comunidades.

Tempos depois, passando por Paranaíba, ele citou que viu uma concentração de pessoas de notável padrão social, ouviu um inflamado discurso feito pelo saudoso advogado Dr. Wladislau Garcia Gomes, o saudoso Dr. Zico, e sentiu vontade de ser doutor também, aprender muito e ter o dom do bom discurso. Assim aflorou o seu dom político e o bom tino para a boa oratória. Também nascia ali o primeiro advogado a militar em Cassilândia.

Em 1950, deixou a fazenda para dar início aos seus estudos em Três Lagoas, onde acabou residindo na casa de um velho amigo de João Cadete, muito conhecido naquela cidade e parte da memória três-lagoense, o professor Magiano, em cujo colégio ficou até 1954. Depois ingressou no curso ginasial no Colégio 2 de Julho, cursando três séries e transferindo-se para o Rio de Janeiro, concluindo o ginasial na escola Rui Barbosa, na Rua Gago Coutinho, no bairro do Flamengo. Naquele meio tempo, serviu ao Exército no ¼ R. C. Motorizada.

Casou em 1957, em 11 de julho, na cidade de Três Lagoas, com Nalda Ferreira Gonçalves, de cuja união nasceram os filhos Flávio, César Augusto, Rosana, Waldomiro e Andreia.

Valdomiro retornou em 1958 a Araçatuba, Estado de São Paulo, onde estudou o primeiro e o segundo anos no clássico, conhecidíssimo Instituto de Educação Manoel Bento da Cruz, transferindo-se para a cidade de Campinas, onde concluiu o curso no Atheneau Paulista, em 1961. Naquele mesmo ano ingressou na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, colando grau em 10 de fevereiro de 1966. Em 4 de março, foi nomeado promotor de Justiça interino da recém-instalada Comarca de Cassilândia.

Em 15 de agosto de 1966, desincompatibilizou-se para disputar sua primeira eleição à Assembleia Legislativa de Mato Grosso, por Cassilândia, ficando na primeira suplência por apenas sete votos. Assumiu o cargo de deputado em caráter transitório por quatro meses, em substituição ao então deputado de Campo Grande, Luiz Gonzaga Del Neto, período em que eclodiu a maior crise política do governo Pedro Pedrossian, com a tentativa de parte dos deputados de oposição de votar pela saída do governador. Ao cabo de sua convocação, em novembro de 1967, retornou à função de promotor de Justiça, em Cassilândia, e, em 4 de abril de 1968, foi nomeado efetivamente no cargo de promotor por força de concurso público, assumindo naquele meio tempo as funções de deputado estadual, também em caráter efetivo, substituindo o então deputado campo-grandense Manoel de Oliveira Lima, que fora nomeado ministro do Tribunal de Contas.

No curso do mandato, exerceu as funções na Assembleia Legislativa, como consecução política. Foi segundo-secretário em 1968; vice-presidente da Assembleia Legislativa em 1970. Tendo feito seu trabalho parlamentar, foi reeleito deputado em 1970 com 7.381 votos, o sexto deputado mais votado de todo o Estado, exercendo no biênio 1971/72 o cargo de primeiro secretário; e no biênio 1973/74 de presidente da Assembleia Legislativa. Em 1974, elegeu-se deputado federal com 23.077, o quarto colocado da bancada federal. E em Brasília, exerceu as seguintes funções: membro efetivo das Comissões Permanentes de Comunicação e Serviço Público e suplente das Comissões de Relações Exteriores e Justiça. Durante os quatro anos, foi membro da Comissão do Centro-Oeste, tendo sido vice-presidente da mesma no ano de 1977. Teve Valdomiro Alves Gonçalves, como filho de Cassilândia, participar historicamente no movimento que culminou com a criação de nosso Estado, o Mato Grosso do Sul. Valdomiro votou a lei que consagrou uma antiga luta.

Em Brasília, tornou-se amigo íntimo de políticos de expressão nacional como Tancredo Neves, José Sarney, Marco Maciel, Francelino Pereira, Aureliano Chaves e de tantos outros.

Em 1978, com a divisão estadual, Valdomiro candidatou-se a uma cadeira de constituinte de Mato Grosso do Sul, desistindo de disputar a reeleição, uma vez que perdera cerca de oito mil votos, obtidos na região Norte do Velho Mato Grosso. Como deputado constituinte, foi líder da bancada da Arena e do governo Harry Amorim Costa. Com a ascensão ao governo do Estado, sendo prefeito até então de Campo Grande, Marcelo Miranda, continuou no desempenho das mesmas funções de líder da bancada e de líder do governo para, em seguida, ser conduzido ao cargo de primeiro-secretário da Assembleia Legislativa em substituição do deputado Horácio Cerzósimo, nomeado conselheiro do Tribunal de Contas.

No biênio 1981/82, foi presidente da AL, já no governo Pedro Pedrossian. Em 1982, candidatou-se ao Senado Federal pela legenda PDS, obtendo a expressiva votação de 73.004. Afastado da militância política, retornou às suas atividades de promotor de Justiça na Comarca de Campo Grande, e, em maio de 1985, chegou ao auge de sua carreira no Ministério Público como procurador de Justiça do Estado, quando integrou o Órgão Superior do Ministério Público do Estado e exerceu as funções em segundo grau da Justiça, isto é, opinando e emitindo pareceres que eram apreciados pelo Tribunal de Justiça, enquanto que em primeiro grau os promotores de Justiçam ainda atuam junto aos juízes das comarcas do interior e da Capital.

Voltando à história política, a sua grande paixão, Valdomiro reconheceu que, se teve oportunidade de militar nessa área durante 16 anos de extensa luta e exercendo cargos eletivos, foi graças à sólida amizade que o pai João Cadete e a família cultivaram com o saudoso Coronel Gustavo, bem como pelos laços de eterna amizade entre a família Cadete e todos os os amigos que confiaram na hora da escola. Ele lembrou ainda que outras pessoas de Cassilândia foram imprescindíveis à sua vida pública. Entre tantos outros, o nome de Sebastião Leal é visto como forma de reconhecimento, afinal foi um dos primeiros a apoiar a sua carreira política.

"No curso da minha atividade política, consegui angariar, não só na região do Bolsão, mas de todo o Estado, amizade e prestígio que me valeram o êxito, talvez, na vida parlamentar", disse ele, argumentando que "não pude fazer tudo aquilo que gostaria de ter feito a Cassilândia, posto que as decisões político-administrativas quase sempre dependem direta e indiretamente dos governantes". Valdomiro não gosta de citar as obras que conseguiu ao longo dos anos como parlamentar em prol de Cassilândia, mas sabemos que elas são dezenas, centenas, milhares talvez.

Grande parte de seus correligionários e admiradores considera seu trabalho importante para a cidade, mas citam que "Valdomiro nunca foi devidamente valorizado em nossa cidade".

Valdomiro Alves Gonçalves é considerado por muitos como o mais ilustre dos cassilandenses, além de ter sido o primeiro filho da terra a se formar em nível superior e de ter feito uma das mais brilhantes carreiras políticas de todo o Estado.

Livro A História de Cassilândia, de Corino Rodrigues de Alvarenga.

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