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Você tem competência comunicativa?

Eunice Mendes - 30 de setembro de 2014 - 13:00

“Como não podemos nos enxergar nos inúmeros papeis que representamos ao longo da vida, muitas vezes agimos como cegos e surdos sociais. Quem nos dá as pistas sobre quem somos e o modo como atuamos são as outras pessoas.” (por Eunice Mendes)

Você tem competência comunicativa?

Nos contos de fadas, um dos principais componentes é o animismo, que corresponde à atribuição de capacidades humanas para animais, seres fantásticos e até objetos. Adaptando esse conceito para o âmbito das empresas, poderíamos defender a existência do “organizacionismo”. Refiro-me àquelas características humanas marcantes, nem sempre positivas, que embora em um primeiro momento possam ser associadas a este ou aquele colaborador individualmente, afetam o ambiente corporativo como um todo, incluindo a comunicação que pulsa em cada um dos seus espaços e, consequentemente, a sua imagem perante o mercado.

As empresas se tornam humanas porque são formadas por nós: seres humanos. Dotados de consciência, capacidade de comunicação e... cheios de “defeitinhos”. Certamente, todos cometemos erros, afinal ninguém é perfeito, mas nos esforçamos para esconder essa condição; quando estamos sozinhos podemos até “relaxar a guarda”, mas muitos não conseguem ser condescendentes nem consigo mesmos. Sim, somos falíveis, contudo, em geral, não queremos admitir isso, então adotamos uma máscara, e saímos com ela por aí, vestidos de poderosos e bem resolvidos.

Mas assim como não há crime perfeito, mesmo contra a nossa vontade, vamos deixando pistas daquilo que realmente somos aqui e ali. As pessoas à nossa volta não decifram o enigma, mas percebem a “falha no sistema”, e como também é comum a todo ser humano, nos julgam por determinada característica que deixamos escapar. É assim que somos tachados por um estereótipo e nos assustamos quando nos vemos reduzidos a tão ignóbil sentença: “Onde já se viu fulano dizer que eu chato?” ou “Quem é sicrano para ficar espalhando por aí que eu sou autoritário?”.

Pondo a mão na consciência, como dizia minha avó, excluindo o veneno gratuito destilado, será que esse monstro pintado a nosso respeito não está, de fato, escondido dentro do nosso armário? Será que, de vez em quando – não tão de vez em quando assim – ele não escapa do seu esconderijo e sai por aí assustando todo mundo?

Como não podemos nos enxergar nos inúmeros papeis que representamos ao longo da vida, muitas vezes agimos como cegos e surdos sociais. Quem nos dá as pistas sobre quem somos e o modo como atuamos são as outras pessoas.

O que tento fazer a seguir é justamente listar alguns exemplos de comportamentos assumidos na interação com o outro marcados pelo autoengano e pelo despreparo para a convivência diária ou frequente no contexto profissional:

O atirador de facas. É aquela pessoa que está sempre mal-humorada, é agressiva e parece incapaz de baixar o tom de voz. Nas reuniões, só sabe apontar as falhas, jamais as conquistas da equipe. Nunca está disposto a entrar em sintonia com aquilo que os outros precisam ou desejam, e não consegue facilitar o aprendizado de quem quer que seja por se negar a falar a língua do outro. Vive de peito estufado, com a respiração curta, o queixo erguido. Tem gestos bruscos e exibe uma eterna expressão de impaciência.

Como mudar: o primeiro passo é fazer uma autoanálise e deixar emergir aquele lado mais humano e sensível, por meio do qual somos capazes de nos colocar no lugar da outra pessoa. A ansiedade faz com que esqueçamos que existem várias maneiras de dizer a mesma coisa; já quem para e pensa consegue fazer as escolhas mais adequadas para cada situação.

O espalha-rodinha. É aquele colega que, se você pergunta “Como vai?”, ele relata em minúcias, muito bem explicadinho, tudo o que fez desde a hora que acordou até o momento de dormir. Esse tipo de pessoa não dialoga, faz relatórios. Divaga, mostra duzentas fotos do passeio que fez no último feriado, conta as aventuras do cachorro, do gato, a briga com o vizinho... Por tudo isso, basta chegar para todo mundo sair de perto. Nas reuniões, toma a palavra e não passa para ninguém. Nunca faz perguntas, apenas discursos. Demonstra ter pouca habilidade social e nenhuma capacidade para ouvir.

Como mudar: saber ouvir é muito importante, não por caso existe um ditado chinês segundo o qual os ouvidos e a boca devem ser usados na proporção que ocupam em nós, ou seja, dois para um. Nas reuniões de trabalho, jamais se deve perder o foco, desperdiçar o tempo, por isso é crucial aprender a perguntar e a ouvir as respostas com atenção; só assim conseguimos estabelecer uma conexão verdadeira e alinhar raciocínios. Caso contrário, corremos o risco de sermos improdutivos e nos tornarmos míopes sociais.

O maria-vai-com-as-outras. Sua comunicação não tem identidade, ou melhor, tem qualquer uma, mas nenhuma delas é capaz de fixar a sua marca. Em outras palavras, não tem voz própria. Sua opinião é sempre a da maioria. Normalmente, também é visto pelos outros como um funcionário puxa-saco. A linguagem corporal desse tipo de comunicador costuma ser a do eterno “bonzinho”: sorriso duvidoso colado na boca, postura subserviente, ombros caídos e uma aparência de quem não tem energia.

Como mudar: é preciso ter coragem de dizer o que pensa, mesmo sob o risco de que as opiniões emitidas não sejam aceitas por alguns ou que as pessoas não apreciem. Isso significa ser coerente com os próprios sentimentos e atitudes. Para ser respeitado é preciso ter voz e uma estrutura interna firme.

O conselheiro de plantão. Está sempre disposto a atender os colegas que chegam com alguma dificuldade; o problema é que nem sempre sua ajuda foi solicitada. Mesmo assim, faz questão de dar o seu palpite, sentenciar uma solução, um caminho a ser tomado, pois, no seu entender, é a pessoa que mais lê, a mais experiente e, consequentemente, a mais sábia. Pior ainda, se os outros não aceitam suas sugestões, sente-se ofendido como se uma ordem sua tivesse sido descumprida.

Como mudar: ao perceber que esse tipo de comportamento é recorrente em nossa inter-relação com as outras pessoas, devemos nos esforçar para sermos mais empáticos, abertos para ouvir e, sobretudo, evitar fazer diagnósticos precipitados. Muitas vezes o outro só necessita falar e não está buscando interpretações ou sugestões.

O rádio-peão. Vulgo “fofoqueiro de plantão”. Sabe tudo o que acontece na empresa e usa isso como forma de poder. Normalmente, trabalha pouco, porque se perde nas conversas do café, contando quem saiu com quem, quem brigou com quem, quem corre risco de demissão. Ao contrário do que se imagina, não age de forma espalhafatosa; fala baixo, tem um humor ácido e dá risadinhas irritantes. Não é um funcionário confiável, pois pode manipular as informações e jogar uns contra os outros, inventando mentiras e provocando a discórdia entre os colegas.

Como mudar: uma boa terapia pode funcionar, pois enquanto olhamos para a vida dos outros, deixamos de cuidar de nós mesmos, dos nossos planos, das nossas habilidades. Esse tipo de atitude semeia raiva e sofrimento.

Como essas, existem outras características que podem ser identificadas em todos nós e, vez ou outra, manifestam-se em determinadas circunstâncias, especialmente aquelas em que existe a necessidade de interagir. Piadinhas à parte, é preciso encarar seriamente a necessidade de refinar o autoconhecimento e desenvolver uma comunicação mais eficaz para evitar consequências desastrosas no dia a dia organizacional.

Por isso, peço que reflita sobre a pergunta que dá título a este artigo: Você tem competência comunicativa?

Se respondeu “não” ou, por um breve segundo, hesitou em dar o próprio veredicto, bem-vindo ao clube: somos todos humanos. Falíveis. Cheios de “defeitinhos”. Mas isso não é desculpa para acomodar-se. O trabalho é longo e exige a disposição de uma formiguinha, porém o resultado compensa, permitindo o estabelecimento de um clima saudável no ambiente de trabalho e a formação de equipes mais produtivas.

Algumas rotas para essa mudança foram propostas aqui neste artigo de forma bem-humorada e ao mesmo tempo muito séria, como convém a todo trabalho que se pretenda não estressante, mas certamente existem outras que vamos apresentar em novas oportunidades.

Lembre-se: respiramos comunicação o tempo todo, mas respirar não é tão simples assim. Para que o ar entre e saia de forma mais eficiente dos nossos pulmões, precisamos parar e pensar no movimento que estamos realizando, não é verdade? O mesmo vale para quem se comunica. Temos de treinar duro e sempre para aprimorar a nossa performance pessoal e profissional, que, no fim das contas, é o nosso principal cartão de visitas.

Somos do tamanho e da qualidade da comunicação que conseguimos estabelecer nos meios em que atuamos.

Eunice Mendes é atriz, pedagoga e especialista em Comunicação Empresarial há mais de 30 anos com 03 livros publicados. O artigo é livre para publicação, desde que citada autora, qualificação e site www.eunicemendes.com.br.

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