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Vírus influenza contamina aves há mais de 120 anos

Lana Cristina/ABr - 15 de fevereiro de 2004 - 15:40

O vírus influenza foi diagnosticado pela primeira vez em aves, em 1878, na Itália. O microorganismo só foi identificado, porém, em 1901. Depois, por volta da década de 30, a ciência classificou o influenza em três tipos: A, que acomete aves, mamíferos, incluindo o homem; e B e C, que só acometem humanos. Os dois últimos caracterizam a gripe comum que contamina homens e mulheres, em toda parte do globo, anualmente.

Luciano Doretto, que é médico veterinário especializado em patologia aviária, conta que o influenza tem grande capacidade de mutação e esse fator pode explicar as contaminações humanas registradas ultimamente. "É o poder de mudar que lhe confere alta virulência e patogenicidade", observa Doretto. No caso da passagem do tipo "A", que vem sendo registrado na Ásia, para o homem, ocorre ainda a baixa resistência do sistema imunológico. Sem defesa, o vírus toma conta do organismo e a pessoa pode ir à morte.

A mutação é uma característica recorrente nos três tipos de influenza e explica também porque se contrai gripe várias vezes ao longo da vida e mesmo pouco depois de uma crise. "Há casos em que numa família de cinco pessoas, o primeiro a contrair a doença volta a manifestá-la depois da contaminação do quarto indivíduo. Além de seu sistema imunológico estar menos preparado, o vírus que o acomete no segundo episódio certamente não é o mesmo do primeiro, porque teve a capacidade de sofrer uma mutação", exemplifica Doretto.

Em 1918, 50 milhões de pessoas morreram do vírus influenza subtipo H1N1. Outro surto ocorreu na década de 50, quando 10 milhões de pessoas morreram de gripe humana asiática. Já o tipo A, H5N1, acometeu humanos pela primeira vez em 1997, em Hong Kong. Foram 18 pessoas infectadas diretamente por aves e seis morreram. O subtipo H7N7 foi isolado, em 1996, de uma mulher, na Inglaterra, que havia entrado em contato com patos. No mesmo ano, duas garotas de Hong Kong se recuperaram de uma gripe atípica, mais tarde atribuída ao influenza H9N2. A China isolou cinco amostras de H9N2 que acometeram humanos em 1998.

Os Estados Unidos já registraram vários surtos da gripe dos frangos, mas nunca em humanos. Em 2003, Holanda e Dinamarca também tiveram plantéis contaminados. Em 2002, o Chile registrou um surto da doença nas aves. Nesta semana, aliás, os Estados Unidos confirmaram a descoberta de dois focos do vírus da gripe aviária, do subtipo H7N2, no estado de Delaware. Foram sacrificados 84 mil frangos e 76 granjas próximas às duas granjas infectadas estão em regime de quarentena. O vírus H7N2 também foi detectado no mercado de animais vivos em Nova Jersey, segundo anunciaram hoje (12) autoridades do estado americano.

Como forma de precaução, o Brasil já declarou suspensa a importação de material genético americano. De lá, vêm matrizes de frango de linhagem superior usadas para melhoria genética do plantel nacional. A indústria aviária americana vive, assim, um momento delicado mesmo que o vírus encontrado seja de uma cepa mais branda. As notícias sobre a infecção no estado de Delaware já havia provocado o bloqueio de exportações para vários países. As autoridades do estado de Nova Jersey afirmaram, no jornal Star-Ledger, que o vírus da gripe do frango é encontrado tipicamente em 40% dos mercados de aves vivas do estado.

Depois de perder mercado nas ocasiões passadas em que registrou o vírus, os Estados Unidos, há alguns anos, estudaram atentamente o grau de responsabilidade do homem na transmissão do vírus de granja para granja. A conclusão foi a de que a transmissão se dá, em 80% dos casos, pelo trânsito humano, sendo 50% pelo homem em si e os outros 30% devido a veículos e equipamentos manipulados pelo homem. Hoje, com a constatação dos casos de Delaware e Nova Jersey, as autoridades locais pedem que ninguém se aproxime das granjas em quarentena. Um apelo especial foi dirigido a jornalistas, sempre a postos para coberturas mesmo em situações de perigo. É que o vírus pode ser transmitido pelos sapatos, equipamentos, veículos e, mesmo pelo vento.

O estudo que comprova a responsabilidade do homem na transmissão do vírus é considerado referência no mundo inteiro, quando da tomada de decisões no âmbito sanitário ao registrar-se o surto da gripe dos frangos. Por isso, a erradicação dos plantéis é uma medida praticamente global, o que explica, o receio de autoridades sanitárias de que se repita a atitude do governo do Paquistão que é acusado de demora na notificação da doença.

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