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Vergonha ainda é a principal barreira para tratar a incontinência urinária

Saúde Plena - 01 de abril de 2016 - 13:00

Quando Kate Winslet declarou em um programa de televisão do Reino Unido que sofria de incontinência urinária, a atitude da atriz hollywoodiana foi muito elogiada. Isso por que, apesar de ser um problema comum, a condição é negligenciada não apenas pelo paciente que se sente envergonhado e sequer menciona o problema ao médico quanto pelos próprios profissionais de saúde que não investigam de forma ativa essa queixa. Estima-se que 10% da população brasileira sofra com o problema. Entre os idosos (acima de 65 anos), a incidência chega a 20%. “As pessoas acreditam que a incontinência urinária integra o processo natural de envelhecimento, pensam que não existe um tratamento eficaz e ficam constrangidas em falar sobre o assunto”, afirma o urologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), Cristiano Gomes.

Incontinência urinária não é normal em nenhuma idade; é uma doença e tem tratamento
A história de um encontro, um cocô na bolsa e as reflexões sobre a incidência da constipação intestinal em mulheres Doutor em Urologia pela Faculdade de Medicina da USP, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG) e membro do Departamento de Urologia Feminina da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Fabrício Leite de Carvalho cita dados de uma pesquisa brasileira que evidencia a omissão do problema e a demora em procurar ajuda. “Um estudo com mulheres entre 34 a 57 anos que integram o Programa de Saúde da Família em Mato Grosso revelou que as pacientes diagnosticadas com incontinência urinária sofriam com o problema cinco anos antes de relatá-lo ao médico e também que 61% delas nunca tinham mencionado o problema para o seu médico da família”, cita.

A demora em procurar ajuda afasta as pessoas da vida social e pode evoluir para um quadro de depressão. Apesar de não ter uma relação de causa e efeito, o urologista Cristiano Gomes afirma que estudos consistentes mostram que as mulheres diagnosticadas com depressão têm maior prevalência de incontinência urinária quando comparadas a mulheres da mesma faixa etária que não são afetadas por esse tipo de transtorno mental. “A incontinência urinária afasta a mulher da vida social, da intimidade com o parceiro, dos encontros familiares. O medo de que as pessoas percebam o cheiro de urina provoca o isolamento social. O grande impacto da incontinência urinária é na qualidade de vida”, afirma o especialista.

Apesar de a perda involuntária de urina ter uma prevalência maior no sexo feminino, é importante dizer que atinge homens e mulheres de todas as idades, raça e nível socioeconômico. Conversar sobre um problema de saúde que afeta milhares de pessoas é um passo importante para prevenir os transtornos mentais decorrentes dessa condição e também o caminho para solucioná-lo. O depoimento de Kate Winslet, 40 anos, é importante por isso. Ao falar abertamente sobre “se molhar como parte das consequências de ter tido filhos”, ela conseguiu não apenas colocar o assunto em pauta, mas abordá-lo com leveza. “Quando você tem mais de um filho, é isso que acontece [se molhar]. É impressionante: dois espirros, tudo bem. Três espirros, fim de jogo”, disse em sua participação no Graham Norton Show. No caso das mulheres, um dos fatores de risco para a incontinência urinária é a gravidez e o parto.

Longa espera
Alice Aparecida Rodrigues, 54 anos, teve quatro filhos e a partir da terceira gestação, em 1996, começou a apresentar sintomas de incontinência urinária. Por 19 anos, ela conviveu com o problema e durante todo esse tempo ficou sem usar vestido ou saia. “Eu não conseguia segurar o xixi. Parei de sair de casa. Quando era uma questão de necessidade, usava absorvente”, conta.

Casada há 30 anos, ela diz que o marido e os filhos tinham conhecimento do problema. Mesmo assim, foi só no ano passado que a história tomou outro rumo. Em uma consulta ginecológica, segundo ela, a médica percebeu o problema e indicou a cirurgia. Desde junho do ano passado, Alice ficou livre da incontinência urinária. “Não ter mais aquela preocupação de correr para o banheiro a toda hora, é um grande alívio”, diz.

Diagnóstico
Existem quatro tipos de incontinência urinária (veja arte) e o fator para a perda involuntária de urina pode ser diferenciado no caso de mulheres, homens e crianças. No caso da incontinência urinária por esforço, a prevalência é maior em mulheres na pós-menopausa e em razão de vários partos. “O relaxamento da musculatura perineal faz com que os esfíncteres não sejam capazes de resistir ao aumento súbito da pressão abdominal”, explica Fabrício Leite de Carvalho. Já a incontinência paradoxal, que é uma falha no esvaziamento da bexiga, é mais comum em homens.

No caso da bexiga hiperativa, o urologista Cristiano Gomes afirma que o problema afeta os dois gêneros de forma semelhante. “Cerca de 5% das mulheres e homens jovens têm sintomas de incontinência de urgência”, diz.

Grande parte dos homens submetidos à cirurgia de próstata vai desenvolver incontinência urinária que tende a melhorar espontaneamente com o tempo. “Um mês depois da cirurgia, a maioria dos homens apresentará esse quadro. Um ano depois, apenas 10 a 15% dos pacientes permanecem com incontinência urinária. Esses dificilmente terão melhora espontânea ou com medicamento. Portanto, vão precisar do tratamento cirúrgico”, afirma Gomes.

O diagnóstico do tipo de incontinência urinária se dá, na grande maioria dos casos, clinicamente. No entanto, em caso de dúvida, o especialista pode lançar mão de alguns métodos como o exame de urina, o exame físico e a ultrossonografia.

Crianças
No caso das crianças, a incontinência urinária é mais comum no período da noite. Segundo Fabrício Leite de Carvalho, espera-se que até os 6 anos o controle da urina ocorra de forma fisiológica. Depois dessa idade, a enurese noturna, como é chamada a perda involuntária de xixi durante o sono, pode limitar a vida social da criança, como por exemplo, o desejo de dormir na casa de um amigo. “Se for essa a situação, pode ser necessário o tratamento. A enurese noturna se dá por falta de amadurecimento do trato urinário e neurológico da criança”, explica.

Fabrício diz que o tratamento inclui medidas comportamentais - diminuir a quantidade de líquido à noite, levar a criança para urinar antes de dormir ou colocar um despertador para programar uma ida ao banheiro – e medicamentos. “O remédio é para inibir a perda urinária noturna até a criança se adaptar”, esclarece.

O urologista Cristiano Gomes diz que a bexiga hiperativa também pode afetar meninos e meninas. “Essa causa é bem menos frequente e a perda urinária acontece durante o dia e à noite”, explica.

Tratamento
O tratamento varia de acordo com o tipo de incontinência urinária e deve se ajustar ao estilo de vida da pessoa. De modo geral, a eficácia é de 90%. Os casos mais difíceis de serem tratados são os associados a doenças neurológicas como Parkinson ou esclerose múltipla. Neste ano, os planos de saúde incluíram em seu rol de procedimentos o uso da toxina botulínica. A técnica é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo e utilizada para o controle da bexiga hiperativa (ou incontinência de urgência). Por um exame endoscópio, o especialista injeta pequenas doses na parede da bexiga do paciente. A alta é geralmente no mesmo dia da internação e são necessárias reaplicações entre nove e 12 meses para manutenção do efeito terapêutico. O método é considerado seguro e eficaz, mas algumas pessoas podem desenvolver retenção urinária. Por isso, a indicação do procedimento deve ser criteriosa.

Os estimuladores elétricos também são indicados no tratamento da bexiga hiperativa e também têm cobertura dos planos de saúde. No sistema público, esses dois procedimentos não são cobertos, mas os procedimentos cirúrgicos, sim.

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