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Vaquinha quer bancar viagem à Disney de crianças impedidas de ver Mickey

Correio do Estado - 27 de março de 2019 - 10:40

Barradas em um shopping em que veriam uma exposição do Mickey Mouse em São Paulo, crianças da rede pública de ensino da cidade de Guaratinguetá (SP) podem ter a oportunidade de visitar o camundongo mais famoso do entretenimento infantil em sua terra natal: a Disney.

A ideia de levar os pequenos aos Estados Unidos veio da cabeça dos publicitários Edgard Vidal, 28, e Wilson Dias, 28, de São Paulo. Eles criaram uma vaquinha virtual para custear a viagem do grupo até Orlando. "É uma maneira que vimos para amenizar o preconceito que eles sofreram", disse Vidal.

No dia 18 deste mês, 120 crianças de cinco escolas municipais de Guaratinguetá foram impedidas de entrar na exposição "Mickey 90 anos" montada no shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia, na zona oeste da capital paulista.

Uma funcionária da ONG Orientavida, entidade responsável pela exposição, disse ao grupo que o shopping era "elitista" e "não tinha nada" ali para eles comerem antes do início da abertura da mostra.

Segundo relato de Jozeli Gonçalves, diretora da Escola Rural Professora Francisca de Almeida Caloi, a funcionária da ONG disse também que a presença dos estudantes "fora do horário da exposição geraria problemas a ela com os seguranças do shopping", escreveu a diretora nas redes sociais.

Foi preciso intervenção da Secretaria de Educação de Guaratinguetá para que os estudantes pudessem entrar no local. O caso está sob investigação do Ministério Público.

A dupla de publicitários colocou a vaquinha virtual no ar três dias depois do fato, na última quinta-feira (21). De lá para cá, o financiamento coletivo "De Guaratinguetá para a Disney" já convenceu 1.346 pessoas que doaram pouco mais de R$ 81 mil –o valor corresponde a 7% dos R$ 1 milhão esperados. Ainda restam 55 dias de arrecadação.

Os exatos R$ 1.057.301 serão usados na compra das passagens aéreas aos 120 alunos e seus monitores, na confecção dos passaportes, na entrada ao parque da Disney, na alimentação e na estadia do grupo em Orlando.

Wilson Dias conta que foram calculados os gastos médios de um turista brasileiro que passa uma semana na Disney para quantificar a meta milionária. "O gasto gira entre R$ 8.000 e R$ 9.000 por pessoa", disse.

A vaquinha virtual chamou a atenção de outros parceiros. Uma agência de viagens da capital paulista propôs fazer uma assessoria técnica para baixar os custos do deslocamento dos alunos. Em vez de uma semana, a empresa propôs que as crianças ficassem quatro noites na cidade da Disney.

O empresário Vinício Grossi, de Santos (litoral sul paulista), também se sensibilizou com o projeto. Ele disse que vai arcar com ingressos de uma partida de basquete caso os estudantes de Guaratinguetá consigam bater a meta do financiamento.

Também se dispôs a pagar os ingressos de um espetáculo da Disney que será encenado em maio no ginásio Ibirapuera, em São Paulo. "Eu fiquei muito sentido com o absurdo que esses meninos e essas meninas sofreram. Espero que mais gente apareça para ajudar", afirmou.

Nesta terça-feira (26), Edgard e Wilson levaram o financiamento coletivo ao conhecimento da rede de educação de Guaratinguetá. Ana Maria Almada, a chefe de gabinete da pasta, disse que a secretaria vai tratar o projeto dos publicitários com parcimônia porque envolve "crianças que já passaram por um trauma". "A nossa preocupação é preservá-las sempre para que não se crie uma expectativa que tem muita chance de ser frustrada."

O plano dos publicitários é que, caso a meta seja alcançada, as crianças possam viajar entre janeiro e fevereiro de 2020 para a Disney. "Mesmo se a viagem não sair, já provocamos uma discussão. É o que importa", disse Edgard.

Desde quando o caso veio à tona, Almada contou que a rede tem recebido ofertas de passeios, entregas de brinquedos e de ingressos para espetáculos culturais a tratamento odontológico aos estudantes barrados na exposição. A iniciativa de Edgard e Wilson é a mais nova da lista, conta. "Vamos levar todas as propostas à direção das escolas, que comunicarão os pais, os únicos que poderão aceitar ou não cada convite."

O único convite aceito até agora pelos pais dos estudantes ocorreu nesta segunda (25). As 120 crianças impedidas de ver a exposição "Mickey 90 anos" voltaram ao shopping JK Iguatemi, onde visitaram a mostra do personagem ícone da Disney com tranquilidade.

De acordo com a ONG Orientavida, o caso mostrou "a necessidade de reforçar a preparação de todo o o time de atendimento e produção do evento. Assim, todos estão sendo orientados novamente para garantir que a recepção seja feita sempre com excelência", afirmou por meio de nota.

"Queremos também reforçar que as segundas-feiras são reservadas exclusivamente para receber escolas, ONGs e instituições públicas ou sem fins lucrativos, que podem ver a exposição gratuitamente. Esperamos que nossas ações possam, de maneira definitiva, reparar a sensação de todos os envolvidos", completou a ONG Orientavida.

O shopping JK afirmou, também por nota, que "não compactua com a atitude tomada pela colaboradora da mostra e ressalta que trabalha continuamente para que todos os clientes sempre se sintam acolhidos e bem-vindos."

Para Ana Maria Almada, da secretaria de Educação de Guaratinguetá, o retorno dos alunos ao palco da polêmica não deve ser visto como um pedido aceito de desculpas. "A gente aceitou aquilo como um presente e não como uma reparação. Os pais dos alunos têm sim todo o direito de entrar na Justiça caso sentirem essa necessidade", afirmou.

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