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Um relato de quem sofreu com a chuva no Corredor da Servidão

Família precisou levar filha de três anos para casa dos avós

Bruna Girotto - 04 de janeiro de 2013 - 13:40

Fotografia feita do Corredor da Servidão logo após a forte chuva que caiu em Cassilândia (Foto: Ana Paula Borges)
Fotografia feita do Corredor da Servidão logo após a forte chuva que caiu em Cassilândia (Foto: Ana Paula Borges)

Ana Paula Borges vive com o marido e uma filha de três anos em uma casa localizada no Corredor da Servidão em Cassilândia (MS). Ela relatou, ao Cassilândia News, momento de tensão e desespero que passou na noite de ontem (03/01) em razão da forte chuva que atingiu o município e invadiu sua casa.

Cassilândia News - Que horas percebeu que deveria deixar a sua residência e ir para casa de seus pais?
Ana Paula - Desde às 22:49, quando tirei a primeira foto. A água e o barro começaram a invadir a área de nossa casa. Mas infelizmente, desde que as manilhas do Corredor da Servidão foram inutilizadas, isso tem acontecido em chuvas fortes.

Cassilândia News - Quais móveis estragaram?
Ana Paula - Foi questão de segundos até percebermos que a água entraria dentro de casa. Então meu esposo começou a rapar com um rodo freneticamente, numa tentativa de impedir que a água entrasse. Mas, é claro, essa água fedida entrou na nossa casa. Graças a Deus, estragou só a rack da tv. E o meu esposo continuava a rapar...

Cassilândia News - Como foi o desespero e o medo, em razão de ter uma filha pequena e da chuva e do barro estar invadindo a casa?
Ana Paula - Como em frente de casa não tem iluminação pública, não havia como termos noção do volume de água, tudo acontecia muito rápido. O que eu fiz foi correr e colocar minha filhinha de 3 aninhos em cima da mesa da cozinha, que foi o lugar mais rápido que me ocorreu no momento. Então, corri no fundo e busquei um outro rodo, e tentei rapar a água que invadia nossa casa. Ao mesmo tempo, dizia ao meu esposo: 'eu não sei o que faço, meu Deus, a água não para, a gente tem que sair daqui. A gente tem q tira nossa filha daqui'. E ele me respondia: 'liga para sua mãe, leve-a para casa de sua mãe. Foi o que fiz. Enquanto isso minha filhinha permanecia em cima da mesa, toda encolhidinha. Sabe aquele choro preso, suspirado? Era assim que ela ficava vendo a água entrar no quartinho dela. Não dá pra ter a ideia de quanto as coisas acontecem rápido. Meus pais que já têm mais de 60 anos vieram, então eu saí com minha filhinha nos braços, debaixo daquela chuva, ela com os olhinhos tão espantados, chorando suspirando, a água quase no meu joelho, uma enxurrada forte. Quando vemos pela TV, a gente vê, sabe que é triste, mas não consegue ter proporção da tristeza que é, da preocupação em salvar quem a gente ama. Como eu disse antes, não tem como prever se a enxurrada vai aumentar de repente ou se vai diminuir. Se na hora que você está atravessando, você pode cair. E eu estava com meu maior tesouro nos braços. Estava tão escuro! Deixei nossa filha na casa da minha mãe com ela e voltei. Em nossa casa, o meu esposo continuava a tentar segurar a força da enxurrada, agora com a ajuda do meu pai. Meu pai é diabético, está quase cego de um olho, e tem um sério problema de coluna, a cada gesto que ele fazia, gemia de dor. Mas continuava ali firme! E eu fazia o que podia dentro de casa, pra água não entrar dentro dos quartos. Nessa hora a gente agradece pelo desnível da casa, pois grande parte da água entrou pro banheiro e foi para o ralo!

Cassilândia News - Já conseguiu limpar o estrago da chuva? 
Ana Paula - Graças a Deus a chuva começou a diminuir, foi parando... tiramos o que deu pra tirar de água de dentro de casa. Trancamos e fomos pra casa da minha mãe. Chegamos em casa de manhã e imaginem a sujeira. Meu esposo está tirando do lado de fora com pá e carriola o barro fora de casa. Ainda não começamos a limpar dentro de casa, mas já tiramos algumas coisas pra conseguirmos limpar depois, claro que isso só será possivel com a mangueira! E por falar em mangueira, a pressão da água está tão ruim porque há 2 meses ou mais, há um vazamento de um cano na rua, ou melhor dois. Um em frente a casa dos meus pais e outro em frente a casa de um dos nossos vizinhos do nosso lado da rua. Não podemos comparar o que aconteceu conosco com as grandes tragédias das enchentes. Mas ver todo aquele volume de água entrando dentro de casa, que é um lugar que esperamos estar seguros... Graças a Deus, embora tendo colocado nossa filhinha pra dormir um pouco antes da chuva começar de fato, ela não pegou no sono por medo dos trovões e ela nunca tinha feito isso antes. Imaginem se tivéssemos que acordá-la? Enquanto eu atravessava com ela nos braços, senti um misto de pavor, com indignação! Tive medo de cair com ela, dela entrar em contato com aquela água tão nojenta. Tive medo da água aumentar enquanto atravessávamos! Mas ao amanhecer e ver meus vizinhos limpando suas casas, ver que o asfalto quase sumiu debaixo de tanto barro. O que tomou conta de mim, foi a indignação. Não é segredo pra ninguém que a verba pra resolver a situação do Corredor da Servidão é do tempo do ex-prefeito José Donizete. Quanto tempo já faz isso? Quanto material já foi desperdiçado, com esse começa e para da gestão do Carlinhos? E logo na reta final ele colocou um maquinário aqui no Corredor da Servidão fazendo "pose" de que estava fazendo algo. E não fez. Bastou as eleições passarem pra obra parar de novo! Até quando? E mais uma vez eu pergunto, contra fatos há argumentos? Não é porque a água entrou na minha casa. Eu moro de aluguel, poderia muito bem mudar daqui. Mas e aí? As outras pessoas que moram aqui? Todos nós merecemos respeito. A quem compete esta responsabilidade?

(As fotos postadas na galeria de imagem são das residências dos vizinhos da entrevistada e foram tiradas por ela na manhã desta sexta-feira).

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