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Um problema que não é só do Brasil

Agência Notisa - 22 de novembro de 2004 - 06:45

O aumento do consumo de drogas, sobretudo entre os mais jovens, infelizmente não é uma exclusividade do Brasil: cerca de 30% dos adolescentes canadenses, entre 12 e 18 anos, usaram maconha no último ano. Problemas com as chamadas drogas de rua (drug streets), como a cocaína, a heroína, opiáceos e o crystal meth (abreviado de methamphetamine, derivado da morfina) também são freqüentes. “O custo social se traduz no aumento do número de casos de HIV/AIDS, cânceres, suicídio, depressão e em um forte impacto econômico, que chega à casa dos bilhões de dólares por ano”, afirmou Brian Rush, da Universidade de Toronto e do Centre for Addition and Mental Health (Centro para Dependência Química e Saúde Mental). “E os números são pelo menos duas vezes maior se incluirmos o tabaco no cálculo dos impactos”, disse o pesquisador durante os simpósios sobre tabagismo e outras drogas, encerrados sábado, no Rio de Janeiro.



Rush explicou que, no Canadá, não são apenas as drogas que causam dependência e necessitam de atenção. O jogo de azar patológico se tornou um problema de saúde pública em função da liberação dos cassinos no país. Lá, os viciados em jogos são tratados como dependentes reais pelo sistema de saúde. Mas, segundo ele, o jogo de azar dificilmente voltará a ser proibido devido aos altos impostos pagos pelos cassinos, dinheiro que se tornou fundamental para o governo.



Segundo Rush, apesar de os serviços de saúde pública no Canadá serem muito bons, o uso de drogas não é uma prioridade das políticas públicas se comparado a outras áreas, como a de saúde mental e de doenças crônicas. Ele explica que o problema está no percentual de dinheiro utilizado no tratamento de usuários. “Para a província canadense de Ontário apenas 0,1% dos 28,5 bilhões investidos (anualmente) na saúde são destinados para o uso de drogas, algo em torno de 100 milhões de dólares”, lamentou.



E no caso do tratamento do jogo patológico, a situação é ainda pior. Segundo o pesquisador, Ontário arrecada 1,5 bilhão de impostos pagos por atividades ligadas ao jogo e investe apenas três milhões no tratamento dos dependentes.



Ainda assim, ele elogia a realidade do sistema de saúde canadense, bem diferente da do Brasil. “O sistema de saúde canadense é quase todo público e difere muito pouco do particular”. Ele explica que somente pessoas com muito dinheiro pagam integralmente por serviços médicos, apenas para terem atendimento imediato. “Todos têm acesso à saúde pública de qualidade, mas têm que esperar por isso”, disse.



Boas idéias



Na opinião de Rush, em primeiro lugar, é preciso enterrar definitivamente alguns conceitos usados no passado. Como exemplo, ele cita a suposta crença de que cor de pele e religião dizem muito sobre que tipo de pessoa os pacientes são, ou que a violência gerada pelas drogas deve ser combatida com repressão.



Para ele, já há uma melhora significativa: antes acreditava-se que os melhores programas para tratar o dependente químico eram aqueles em que os indivíduos eram afastados do lar, da comunidade e da família. “Isso pode ser bom para alguns casos, mas para quem está iniciando o uso pode desastroso”, alertou. Além disso, no passado, o próprio uso de drogas era visto como um ato criminoso. “Hoje nós acreditamos que é um problema de saúde pública, e não criminal”., disse.



Segundo o pesquisador, a origem dos estereótipos inclusive os usados (até inconscientemente) pelos profissionais de saúde para definir condutas está no círculo social mais próximo, na educação e na experiência pessoal. “Nosso trabalho (o de tratar dependentes) é muito influenciado por diversas idéias. Devemos sempre reavaliar as que orientam nossas ações”, defendeu.



(Agência Notisa – jornalismo científico - science journalism)

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