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Tecnologia brasileira é alternativa para enxertos ósseos

Agência Notisa - 12 de janeiro de 2005 - 15:01

Pesquisa desenvolvida com ratos comprova qualidades do polímero de mamona 100% nacional, que é biocompatível, osteocondutor e osteointegrável.

Traumatismos, infecções e deformidades congênitas estão entre as principais causas da perda de tecido ósseo. Em muitos casos, há a necessidade de se realizar um enxerto para que o osso se recupere normalmente. Um dos materiais disponíveis atualmente para este tipo de procedimento é o polímero da mamona, desenvolvido no Brasil e utilizado em humanos há 12 anos. Interessados em avaliar a reação do organismo à este biomaterial, pesquisadores da USP e da UNESP provocaram um defeito ósseo em um grupo de 45 ratos e utilizaram o polímero na reconstrução da parte danificada. Eles concluíram que, além de ser barato, o produto derivado do óleo da mamona não provocou qualquer processo inflamatório, não eliminou nenhuma substância tóxica e permitiu a reconstituição do osso à medida que foi absorvido pelo organismo.

Desde a Segunda Guerra Mundial, o polímero da mamona é amplamente utilizado, para vários artefatos, de cabos telefônicos até material bélico. Sua aplicação médica foi descoberta quase por acaso em 1985, após uma pesquisa realizada pelo professor Chiérice, do Instituto de Química da USP de São Carlos, para a Telebrás, interessada em cabos telefônicos. Na época, um grupo de médicos, que tratavam pacientes com câncer de próstata, entrou em contato com o professor em busca de uma alternativa para o silicone, matéria-prima cara usada na fabricação de próteses após a orquiectomia (extração dos testículos). Quando a equipe de Chiérice estava analisando alguns polímeros inúteis para a Telebrás, identificou a potencialidade do biomaterial. “Esse tipo de pesquisa gera centenas de resultados e um dos polímeros criados possuía características semelhantes a alguns materiais já utilizados na área médica”, explica o professor “Que eu tenha conhecimento foi a primeira vez que se utilizou pra fins médicos”, acrescenta.

Na opinião dos pesquisadores, as principais características dos biomateriais são a biocompatibilidade, o fato de não serem tóxicos ou carcinogênicos, possuírem resistência mecânica e estabilidade química e biológica. “Assim, o grande desafio no estudo dos biomateriais é encontrar um material que tenha um alto grau de semelhança com o tecido vivo, de modo que o organismo possa reconhecê-lo como parte de sua estrutura e não como um agressor ao seu meio”, afirma o texto sobre a pesquisa que também pode ser consultada em artigo da revista Acta Cirúrgica Brasileira.

A experiência exatamente não identificou cápsulas fibrosas em nenhum dos períodos. “Sua presença representaria a resposta orgânica frente à presença de material ou corpo estranho, não reconhecido pelo organismo como próprio”, explica Lizete Ramalho, professora da UNESP que participou do estudo.
Após a cirurgia de reconstrução óssea nos ratos, os animais foram divididos em cinco grupos de nove e sacrificados em períodos diferentes para análise: 15, 30, 60, 90 e 120 dias. Foi comprovada a capacidade de osteocondução do polímero, ou seja, de conduzir ou direcionar a reconstrução óssea sobre e entre a estrutura do material de preenchimento. “As superfícies das partículas dos biomateriais servem como uma matriz sobre a qual a reparação óssea ocorre, sendo este fenômeno provavelmente favorecido pela penetração de capilares sangüíneos através dos poros do biomaterial”, afirma a pesquisa.

Segundo o estudo, a “capacidade de osteocondução foi observada precocemente, nas peças cirúrgicas removidas dos animais sacrificados após períodos de 15 dias”. Os cientistas observaram, já nestes animais, que os poros do polímero encontravam-se preenchidos por tecido conjuntivo rico em células e capilares sangüíneos neoformados, o que, segundo eles, foi fundamental para a posterior deposição de tecido ósseo maduro.

Os macrófagos, por sua vez, foram encontrados em todos os períodos analisados. Segundo Lizete Ramalho, trata-se de células comuns, residentes no tecido conjuntivo com atividade fagocitária (digerem células mortas e matérias não reconhecidos pelo organismo, por exemplo). “A presença do polímero derivado do óleo de mamona dentro de um defeito ósseo, com o passar do tempo dá lugar ao tecido ósseo neoformado (formado recentemente). Esta dinâmica acontece na presença de macrófagos e outras células capazes de promover a remodelação óssea (osteoblastos e osteócitos)”, explica.

Segundo Chiérice, considerado “pai do polímero de mamona”, o biomaterial foi aperfeiçoado desde sua criação e utilizado como alternativa tanto na medicina como na odontologia. Hoje com 61 anos, o professor, que leciona Química desde 1969, nunca obteve nenhum lucro direto com a criação e considera que o mais importante na ciência é a superação: “você cria uma coisa muito boa, mas você tem que ser logo superado”, afirma.

Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

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