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Tartarugas marinhas começam desova ainda sob ameaças

Agência Brasil - 03 de novembro de 2003 - 14:07

A temporada de desovas de tartarugas marinhas já começou no extremo sul da Bahia. Os primeiros doze ninhos foram encontrados desde o final de setembro e muitos outros devem surgir nos próximos meses. Até março, são esperadas cerca de 300 desovas feitas por fêmeas de quatro espécies, que voltarão às praias em que nasceram no Sul do estado para cavarem ninhos para seus ovos.

O pico da temporada começa este mês. Vai da segunda quinzena de novembro a meados de dezembro. Ao final, apenas nas desovas que são regularmente acompanhadas, devem nascer na região cerca de 26 mil filhotes.

Os dados são da organização não governamental Projeto Amiga Tartaruga (Pat), que há 5 anos assina o protocolo para Proteção das Tartarugas Marinhas com o Projeto Tamar, do Ibama, para monitorar as desovas em cerca de 200 km de litoral no Sul da Bahia, atuando principalmente no trecho entre as cidades de Prado e Belmonte.

Segundo o coordenador geral da organização, Paolo Botticelli, das cinco espécies de tartarugas marinhas que desovam no Brasil, quatro procuram regularmente as praias do extremo sul da Bahia. "Todas estão na lista internacional de espécies ameaçadas de extinção, sendo que duas delas, a tartaruga gigante e a tartaruga de pente constam como criticamente ameaçadas na lista da União Internacional pela Conservação da Natureza", diz Paolo. As outras tartarugas que procuram as areias quentes do Sul da Bahia para desova são as tartarugas cabeçuda e oliva. Indivíduos juvenis de uma quinta espécie de tartaruga, a verde, freqüentam esse trecho do litoral para se alimentar.

O Pat recebe visitas periódicas dos técnicos do Projeto Tamar, que mantém 20 bases no país e monitora cerca de mil quilômetros de litoral. Por ano, o Tamar acompanha o nascimento de cerca de 600 mil filhotes de tartarugas marinhas, número que ultrapassa 10 milhões desde a criação do Centro.

Ameaças

Apesar das medidas de proteção, as tartarugas marinhas continuam ameaçadas na região. E o perigo vem de várias formas. O principal problema hoje são as redes de pesca. Muitas vezes os animais são acidentalmente presos nas malhas e, impedidos de vir à superfície para respirar, acabam desmaiando. Caso não recebam socorro, ou sejam atirados ao mar ainda desmaiados, morrerão afogados. "Só em 2002 avistamos 274 tartarugas marinhas afogadas ou doentes na área monitorada pelo Pat. Quase todas da espécie Chelonia mydas, ou tartaruga verde", relata Botticelli.

Outro destino das tartarugas capturadas acidentalmente é o comércio ilegal. Além de infringir a lei, quem compra carne de tartaruga marinha corre o risco de contrair uma série de doenças graves. "A bibliografia existente indica que as tartarugas podem ser vetores de hepatites, turbeculoses e salmonelas, podendo eventualmente colocar em risco a saúde das pessoas que se alimentam de sua carne", diz o técnico.

As tartarugas também são vítimas da fibropapilomatose, um tipo de doença viral, cujos efeitos ainda não são conhecidos nas pessoas que se alimentam delas. Cerca de 60% das tartarugas verdes no litoral do extremo Sul da Bahia apresentam na pele os tumores característicos dessa virose, que pode leva-lás também à morte.

A fotopoluição é outra grave ameaça. A instalação de luzes fortes próximo aos locais de postura afugenta as tartarugas que chegam para a desova e desorienta os filhotes. Atraídas pelas luzes, as tartaruguinhas se afastam do mar e acabam indo parar em estradas, onde correm risco de morte, ou em áreas de restinga, onde podem morrer desidratadas. Entre 1997 e 2001, o Pat registrou a morte de mais de 5.500 filhotes por atropelamento na orla norte de Porto Seguro.

Hoje, há uma portaria do Ibama (nº 11 de 30/1/95) e uma Lei Estadual (nº 7034, de 13/12/97) que restringem a iluminação em locais de notificação de tartarugas marinhas. Nessas áreas devem-se utilizar luminárias especialmente desenhadas para que a luz não incida diretamente sobre a praia. No extremo sul da Bahia, a legislação protege especialmente o trecho do litoral entre Prado e Ponta do Corumbau. Essa região é hoje legalmente considerada como área zero lux, onde não é permitida nenhuma iluminação na orla. Nas demais praias da região, que registram a presença de ninhos de tartarugas, a iluminação deve atender a critérios técnicos estabelecidos pelo Ibama.

Outro problema que coloca as tartarugas em risco é a poluição das águas por elementos orgânicos e inorgânicos, como petróleo, lixo, esgoto, que interferem na alimentação, locomoção e prejudicam o ciclo de vida desses animais. A caça no momento da postura e a coleta dos ovos ainda representam uma grave ameaça, apesar da diminuição gradativa nos últimos anos, resultado de campanhas educativas.

O tráfego de pedestres e veículos nas praias durante o período de desova pode aumentar a mortandade dos filhotes, porque tornam a areia compacta e traz o risco de atropelamento. Além disso, as marcas de pneus na areia dificultam o deslocamento dos filhotes em direção ao mar.

Dinossauros do mar

As tartarugas marinhas existem há mais de 150 milhões de anos e conseguiram sobreviver a todas as mudanças do planeta. Têm a visão, o olfato e a audição extremamente evoluídos, além de uma fantástica capacidade de orientação. Na época da reprodução realizam viagens transcontinentais para voltar às praias onde nasceram e desovar. Cada fêmea pode fazer de três a cinco desovas por temporada, com intervalos médios de 10 a 15 dias. Em cada uma depositam em torno de 130 ovos. Pesquisadores do Projeto Tamar já registraram ninhos com apenas 16 e até com 240 ovos. Só as fêmeas saem à praia. Os machos têm a vida toda na água.

No Brasil, as desovas acontecem entre setembro e março no continente, e entre dezembro e maio nas ilhas oceânicas. Sempre ao anoitecer, já que o calor da areia durante o dia prejudica a postura. À noite, as tartarugas escolhem um trecho da praia livre da ação das marés e com as nadadeiras anteriores escavam um grande buraco redondo, de mais ou menos dois metros de diâmetro - a cama, onde se alojam para iniciar a confecção do ninho.

Depois da postura a tartaruga-mãe volta para o mar e entre 45 e 60 dias após, as tartaruguinhas rasgam o ovo e iniciam a subida dos cerca de 50 centímetros de areia. Uma ajuda a outra até alcançarem a superfície e se dirigirem para o mar. O nascimento ocorre quase sempre à noite. Para chegarem ao mar elas se orientam pela luminosidade do horizonte. Mas uma chuva forte, provocando o resfriamento da areia, pode levar também ao nascimento de uma ninhada durante o dia. (Ascom Ibama)

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