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Superproteção de pais pode causar transtorno emocional na criança, diz psicóloga

Campo Grande News - 20 de julho de 2017 - 12:30

Em tempos que a educação de crianças e adolescentes está no centro da discussão em Campo Grande, envolvendo debates sobre punições, castigos, responsabilidade e as altas taxas de suicídios entre jovens, o Lado B conversou com uma psicóloga especializada na saúde emocional dessa faixa etária.

Ela é a profissional Karolina Leite, e falou com a gente sobre temas como a superproteção dos pais, tão presente nos dias de hoje, e como prevenir os filhos dos cada vez mais recorrentes transtornos de ordem emocional, como ansiedade e depressão.

"O Brasil é o país número 1 no mundo em casos de ansiedade. Ganhamos até de países que estão em guerra", destaca. "Além disso, estudos indicam que 50% dos trantornos mentais de adultos foram desenvolvidos até os 14 anos e 75% foram desenvolvidos até os 24 anos de idade", completa.

Um dos fatores que podem desencadear tais problemas é o excesso de proteção dos pais. Por mais que tenham boas intenções, blindar os filhos de todos os problemas e frustrações pode criar um jovem adulto imaturo emocionalmente.

"A superproteção passa a imagem de 'você não é capaz de passar por isso'. Outra pessoa vem e resolve a situação para a criança", explica Karolina, citando exemplos do cotidiano, como pais que não aceitam um filho de recuperação na escola, e tentam contestar os professores ao invés de encarar a realidade. "Essa fase é uma preparação para a vida adulta. A criança e o adolescente precisam passar problemas e resolvê-los. É por isso que a gente vê várias reportagens hoje em dia falando que a nova geração decepciona no mercado de trabalho. Eles não sabem lidar com frustrações".

Outra maneira de superproteger, muito comum atualmente, acontece por meio dos eletrônicos. Crianças que desde muito cedo se inserem nos tablets, computadores, videogames e smartphones e acabam se isolando do convívio com outras crianças. Mais tarde, elas podem apresentar dificuldade em se relacionar em sociedade.

"Antigamente a empatia era desenvolvida mais naturalmente. As crianças brincavam mais, tinham um grupo grande amigos. É assim que aprendem coisas como dividir, valorizar a vontade do outro, a ter empatia. É comprovado que crianças que são colaborativas desenvolvem melhores relações com professores e colegas de trabalho, acabam dando mais continuidade aos estudos, tem menor índice de desemprego, divorcio e até criminalidade", esclarece.

Lei do Castigo - Polêmica recente na Capital foi a discussão de lei que impõe serviços como forma de castigos nas escolas públicas do Estado. Para a psicóloga Karolina, a punição em si é ineficaz na mudança de comportamento. "Para mudar, a gente evita a punição e traz o elogio, o reforço do comportamento adequado, mesmo que a criança ainda não o tenha desenvolvido", ensina.

Porém, é importante que a criança lide com as consequências de suas atitudes inadequadas. Pra isso, o castigo deve vir acompanhado de um diálogo claro e direto.

"É importante que a criança tenha a consequência dos seus atos. Assim a gente ensina a responsabilização, que é natural. Ela precisa se responsabilizar, se frustrar quando faz algo errado", pontua. "Mas é necessário que haja um esclarecimento dessa punição. O pai que tira o tablet da criança porque ela foi mal na prova, deve determinar: 'você está perdendo o tablet pra poder ter mais tempo de estudar e ir bem na próxima prova", exemplifica.

Prevenção - Karolina decidiu se especializar na área após trabalhar numa escola da Capital que preparava crianças de 9 a 11 anos para o concurso do Colégio Militar. Por conta da pressão e ansiedade, os estudantes passavam mal, chegavam a vomitar na hora da prova. "Com essa carga excessiva de cobranças, vários fatores de proteção ficavam de lado, como brincar, ter contato com amigos e com os pais", pontua.

O método estudado por Karolina, criado na Austrália e chamado "Friends" ("Amigos", em português) mostra que a criança e o adolescente precisam de uma rede forte de amigos e familiares.

"Pais que dão atenção dirigida, familiares, tios, igreja, escoteiros e bons amigos. Tudo isso é rede apoio", define a especialista. "Em países mais desenvolvidos, os professores são treinados para desenvolver habilidades socioemocionais nas crianças, a habilidade de reconhecer as emoções em si mesmo e nos outros. Isso é prevenção e promoção de saúde emocional. Como não temos essa cultura aqui, temos índices altos de suicídio e adoecimento".

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