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Suicídios no Brasil são subnotificados

Agência Notisa - 08 de novembro de 2010 - 09:15

AGÊNCIA NOTISA – Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, a cada dia 24 pessoas se suicidam no Brasil. Porém, a própria instituição reconhece que esse número provavelmente não corresponde à realidade. “O Brasil está muito atrasado em termos de suicidologia. Os dados são precários. As taxas divulgadas são provavelmente maiores”, explicou Carlos Eduardo Estellita-Lins, médico e coordenador do Grupo de Pesquisa de Prevenção do Suicídio, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), durante o último dia do 28° Congresso Brasileiro de Psiquiatria, ocorrido semana passada na cidade de Fortaleza.

Segundo o especialista, são procedimentos importantes na tentativa de se evitar um suicídio: não deixar o paciente ficar muito tempo sozinho, proibi-lo de dirigir, proibi-lo de usar máquinas e ferramentas, não deixá-lo andar sozinho no metrô e em vias públicas, não deixá-lo acessar locais altos, entre outros.

“Os métodos para o suicídio variam de um país para o outro. Porém, os mais comuns, inclusive no Brasil, são enforcamento, armas de fogo e envenenamento”, disse Carlos. Segundo ele, há uma alta prevalência de suicídio também no começo do tratamento para depressão, motivada pelo efeito dos antidepressivos.

Ele ainda explicou que os médicos devem ter um rigor maior quando o paciente já tentou se matar mais de uma vez. “As chances de alguém tentar se suicidar, depois de já ter tentado alguma vez e ter fracassado, é muito grande. E, provavelmente, ele irá utilizar um método diferente”, disse.

Quando questionado se o paciente com risco de tentar suicídio precisa ser internado, o médico disse que sim. Porém, argumentou que é preciso antes avaliar a qualidade da internação e que o tratamento precisa continuar depois que a internação acabe. Segundo ele, a internação compulsória está sendo discutida no país, a exemplo da Inglaterra, onde o paciente de risco grave de suicido é internado à força, independente da vontade da sua família.

Carlos explicou que cada suicídio afeta entre seis e dez pessoas. E que a mídia possui um grande papel nesses casos, devendo agir com muita responsabilidade. “Se por um lado, o suicídio pode ser contagioso, por outro, o silêncio sobre os casos tende a ser mais danoso para a sociedade. A própria Organização Mundial de Saúde possui um protocolo para a divulgação de suicídios. Nele a instituição sugere: evitar sensacionalismo, detalhes do ato, enfatizar que o suicídio pode ter como causa uma depressão e que esta pode ser prevenida e tratada, entre outros”, disse.

A psiquiatra Ivete Contieri Ferraz explicou que o suicídio é contagiante, por isso muitas pessoas que são expostas a ele têm vontade de fazer o mesmo – fato agravado, quando a vitima é alguma celebridade. “A mídia tem um grande papel nesses casos. Ela deve noticiar sim, mas com racionalização e entendimento dos motivos que levaram àquela morte. A sua condição de impactar, é um ótimo momento para educar”, acredita.

Ela ainda disse que as pessoas mais suscetíveis a sofrer influência de um suicídio são jovens, mulheres e pessoas com transtornos depressivos.

Os especialistas afirmaram que o suicídio é uma tema diretamente relacionado às políticas públicas e que deve ser articulado com todas as esferas do poder, instituições não governamentais, Organizações não governamentais (ONGs) e universidades. “Como suicídio tem, muitas vezes, algum transtorno mental como causa, é importante que os psiquiatras também participem da discussão dessas políticas”, aconselhou Carlos.

O repórter da Agência Notisa viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)

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