Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Terça, 23 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

Status determina maior expectativa de vida, diz pesquisa

Agência Notisa - 29 de junho de 2005 - 06:45

Michael Marmot afirma que a baixa renda não é o principal determinante para se viver mais ou menos. Outros fatores de satisfação e que não tem a ver diretamente com o dinheiro influenciam na expectativa.



O pleno acesso a cuidados médicos não deve mais ser encarado como o principal motivo para uma pessoa ter ou não boa saúde. Estudos indicam que outras características como “baixa” posição social ocupada ou o local de moradia podem se traduzir em doenças cardiovasculares, diabetes melito ou colesterol elevado. O epidemiologista Michael Marmot, da University College London, vencedor do Prêmio Ipsen de Longevidade de 2005, apresentou os resultados de sua pesquisa acerca dos determinantes sociais que podem afetar a longevidade ou a mortalidade.

”Sim, a pobreza faz mal à saúde. Mas este fator não é determinado pela quantidade de dinheiro que uma pessoa possui. Analisando o gradiente social, vemos que pessoas que obtêm maior recompensa pelo seu trabalho, seja remuneração ou posição social, vivem mais do que aquelas que não se sentem realizadas profissionalmente”, afirmou Marmot, que também é Presidente do Comitê sobre Determinantes Sociais em Saúde da Organização Mundial da Saúde, que busca implementar programas com o objetivo de analisar a expectativa de vida em diversos países. O prêmio recebido pelo pesquisador americano é oferecido, todos os anos, por uma fundação francesa aos cientistas – pertencentes a qualquer área do conhecimento humano – que mais se destacaram no estudo dos temas relativos à longevidade.

Em pesquisa realizada junto aos funcionários públicos europeus verificou-se que empregados com (considerada) menor posição social, como porteiros, mensageiros e cozinheiros, apresentavam o dobro da taxa de mortalidade do que profissionais que ocupam cargos administrativos como altos executivos. “Em Washington D.C., a cada quilômetro percorrido de metrô, a expectativa de vida cai um ano. Sendo assim, a diferença de expectativa de vida entre brancos, que habitam uma área de maior poder aquisitivo, e negros que estão em outro extremo da cidade, em local de maior pobreza, é de aproximadamente 20 anos”, informou o cientista.



Mas a questão dos recursos materiais não pode ser analisada de maneira isolada. Mesmo em países ricos, onde existe água potável, alimentação, saúde e educação pra a grande maioria da população, há diferenças visíveis. Na cidade escocesa de Glasgow, a diferença de expectativa de vida entre os mais ricos e os menos favorecidos – que não podem ser considerados pobres – é de 12 anos. De acordo com o pesquisador, “na Suécia, um país com grande igualdade entre os indivíduos, foi descoberto que profissionais graduados com doutorado tem menor taxa de mortalidade quando comparados àqueles com mestrado. Estes também apresentam menor número de mortes quando relacionados aos que possuem somente o diploma de graduação universitária. Assim, o status aparece como um fator determinante para garantir vida mais longa”.



Marmot afirma que não há relação entre renda e expectativa de vida. Pesquisas recentes mostram que a expectativa de vida em Cuba, onde a receita bruta é de US$ 5.259, é de 76,5 anos. Já nos Estados Unidos, que possui receita bruta de US$ 34.320, a expectativa de vida é de 76,9 anos, praticamente igual. A maior receita determina uma expectativa de vida maior por conta do status ocupado, e não pela quantia de dinheiro recebida. Estudos mostram que atores vencedores do Oscar vivem até 4 anos a mais do que aqueles que foram indicados pela Academia, mas não receberam o prêmio. Segundo o cientista, “os indicados também possuem grandes quantias de dinheiro, além do prestígio e reconhecimento profissional. No entanto, o fato de receber um prêmio é capaz de aumentar a auto-estima dos atores premiados, a ponto de promover forte impacto positivo em sua saúde. Mais uma vez a uma posição social de destaque determina maior longevidade”.

A hierarquia é capaz de afetar a saúde. Quanto mais baixa, menor a longevidade. No entanto, as conseqüências da posição hierárquica ocupada para a saúde de um indivíduo, dependem das situações em que ele vive e trabalha. Finalizando sua apresentação, Marmot deixou uma pergunta em aberto: “de que adianta tratarmos a doença das pessoas, se as enviamos de volta às condições de vida que as mantêm doentes?”.




Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

SIGA-NOS NO Google News