Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Quinta, 18 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

Sociedade precisa discutir autoridade da escola e Eca

Agência Notisa - 27 de junho de 2005 - 06:57

Em entrevista à Notisa, pesquisador de educação que estará presente na 3ª Jornada Escola e Violência aponta que temas polêmicos precisam ser revistos.



Não são raros os relatos de violência dentro das escolas públicas do Rio de Janeiro. Brigas entre alunos, ameaças a educadores, invasão do espaço escolar por estranhos e até mesmo a existência de estudantes eventualmente armados. Mas como enfrentar este problema? Na opinião do pesquisador e professor da Faculdade de Educação da Uerj, Luiz Cavalieri Bazílio, as soluções possíveis passam, necessariamente, por três medidas: a aprovação do estatuto do desarmamento, a recuperação da autoridade do professor dentro da escola e uma reavaliação do significado do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por parte dos profissionais da área de educação.



“Nós temos assistido um agravamento da violência na escola que envolve inúmeras questões, entre elas a questão do narcotráfico e a posse de armas de fogo”, alerta Bazílio. Para ele, a aprovação do estatuto do desarmamento ajudaria a minimizar em parte esse problema. “Não acredito que isso vai diminuir o volume de armas nas mãos de traficantes, mas com certeza vai dificultar o acesso a armas de pequeno calibre, justamente as mais encontradas nas mãos de alunos”, explica o pesquisador, que participará na próxima terça-feira (28/06) de um debate sobre o assunto, durante a III Jornada Escola e Violência, organizada pela Faculdade de Educação da Baixada Fluminense do campus da Uerj de Duque de Caxias, Rio de Janeiro.



Crise de autoridade



Por telefone, Bazílio afirmou à Notisa que a autoridade da escola diante do aluno está em crise, o que seria mais um fator de tensão. “Ao longo do tempo, as relações se tornaram muito informais. Alguns ritos de poder e de autoridade importantes foram perdidos nesse processo e não foram substituídos por outros”, defende. O professor faz questão de ressaltar que não se trata de uma volta ao autoritarismo do passado. “Há 35 anos, quando eu ainda era um estudante ginasial, o diretor entrava em sala e todos paravam de fazer tudo e ficavam de pé. Não estou defendendo que isso ocorra hoje, mas acho que tem que se pensar em outros formatos que retomem alguma liturgia de poder. A relação professor-aluno e a relação direção-aluno, na verdade, têm que se caracterizar como relações assimétricas em alguns momentos. Não dá para ser ‘coleguinha’ sempre”, afirma o pesquisador.



No decorrer do tempo, Bazílio identifica um esvaziamento do apoio pedagógico ao professor. “Minha percepção é a de que antes havia um suporte e que, hoje, o professor está mais sozinho diante do aluno”, critica. Por outro lado, faltaria à classe docente um diálogo maior entre si. “Acho que os professores têm discutido suas dificuldades de maneira pouco organizada, algo mais próximo do desabafo que do enfrentamento do problema em si”, diz.



Segundo Bazílio, parte dessa crise de autoridade vivida pela escola enquanto instituição e pelos educadores deve-se à má interpretação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tanto por alunos, quanto por profissionais da educação. O pesquisador participou de uma pesquisa junto a escolas do Rio de Janeiro, entre 2001 e 2004, e conta que alguns professores afirmaram que “a escola perdeu autoridade em função dos Conselhos Tutelares (criados após o ECA)”, o que não seria verdade. Ele cita como exemplo depoimentos colhidos durante o estudo em que o professor, diante de um aluno bagunceiro, ameaça mandá-lo ao Conselho Tutelar. Ou o inverso: estudantes que não acatam a ordem do professor para saírem de sala de aula, alegando que a medida é contra o ECA. “Há casos, inclusive, em que a guarda municipal é acionada para resolver conflitos dentro da escola. A atuação de um agente externo na solução de problemas internos só agrava a situação a médio e longo prazos”, afirma.

Bazílio admite que suas opiniões são polêmicas e que o consenso sobre o assunto é muito difícil. “Tenho certeza de que muitos participantes da III Jornada Escola e Violência não concordarão com as minhas posições”, diz.

Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

SIGA-NOS NO Google News