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"Separar o joio do trigo", diz o diretor dos Correios

João Rocha/artigo - 25 de maio de 2005 - 06:38

A corrupção é um dos fatores mais negativos que atingem as instituições no Brasil. Além dos prejuízos financeiros causados aos cofres públicos, a corrupção trás no seu bojo outro fato grave que é a destruição da imagem do Estado junto ao povo. A persistência da corrupção leva à total perda de credibilidade dos entes estatais (seja do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário) junto à população, deteriorando o regime democrático e a confiança nas instituições nacionais. As denúncias de corrupção por parte de alguns integrantes da direção dos Correios, em Brasília, acontece num momento em que outras denúncias avolumam nos jornais, como é o caso dos deputados estaduais de Rondônia, passando a idéia de que o país vive uma “crise moral”.

Quero aqui me ater às denúncias que pesam sobre os Correios. Em primeiro lugar, é preciso situar a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) no contexto nacional. Empresa estatal, controlada pelo governo federal, a ECT é uma das empresas com mais credibilidade junto à população, fato constatado em diversas pesquisas de âmbito nacional que colocam os Correios como uma das instituições mais confiáveis do país. Essa confiança é fruto de décadas de atuação em todos os municípios do Brasil. Com um quadro de 109 mil funcionários a ECT é também a maior empregadora celetista (com carteira assinada) do Brasil. É também uma empresa lucrativa, que ao invés de absorver recursos públicos, tem repassado anualmente parte de seus lucros para o governo federal, como no ano passado quando repassou R$ 75 mihões ao governo. São recursos à disposição para serem investido em outras áreas, como a social, por exemplo.

Os prejuízos financeiros causados pela corrupção podem até ser recuperados, como uma atuação firme e autônoma da Polícia Federal, mas o estrago na imagem de uma empresa do porte dos Correios será mais difícil. Uma imagem positiva, construída ao longo de décadas, corre o risco de ir para o ralo por conta da irresponsabilidade de alguns. Por isso vimos à público defender uma empresa – e seus funcionários – que não podem ser responsabilizados por atos praticados por poucos.

Consideramos as denúncias como um fato grave, que deve ser tratado de forma dura e exemplar. Mas ao mesmo tempo nos insurgimos contra o uso desta situação para atacar a ECT como um todo, com a finalidade de privatizá-la. O governo Fernando Henrique (do PSDB) tentou privatizar os Correios. Não conseguiram. Agora, junto com as multinacionais que querem entrar nesse mercado lucrativo, voltam à carga para tentar vender novamente os Correios do Brasil. Para isso não medem conseqüências, não hesitando em jogar a história da ECT no lixo e omitindo os resultados positivos obtidos pela empresa nos últimos anos.

É preciso separar o joio do trigo: a corrupção é um mal que pode atingir todas as instituições – sejam públicas ou privadas - e deve ser combatida com todas as armas, o tempo todo. Mas é preciso ver por trás do jogo de cena o que está realmente em questão: a manutenção de um modelo que deu certo no Brasil (no caso um Correios Público e de Qualidade) ou a aventura de uma privatização cujas conseqüências em termos de demissões e queda da qualidade dos serviços ainda não foram dimensionadas.



João Rocha é Diretor Regional dos Correios no Mato Grosso do Sul

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