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Sentimento de culpa dos familiares pode atrapalhar o tratamento de pessoas com distúrbios alimentare

Agência Notisa - 16 de março de 2011 - 20:22

A convivência com transtornos alimentares, como a bulimia e anorexia, não é realidade que se restringe ao indivíduo doente: a própria dinâmica familiar acaba se modificando em função desta nova condição. No artigo “A participação da família no tratamento dos transtornos alimentares”, de autoria dos psicólogos Laura Vilela e Souza e Manoel Antonio dos Santos, é evidenciada a necessidade de que antigas ideias sobre a responsabilidade da família sejam revistas.

Publicado na revista Psicologia em Estudo de abril/junho passado, o artigo lembra que, quando da busca de razões para a ocorrência de bulimia/anorexia, é comum “a construção de um discurso social patologizante, que frequentemente é imputado às famílias e que, ao culpabilizá-las, contribui para que pais e mães sintam-se ainda mais impotentes ante o caráter insólito dos sintomas de seus filhos”.

Para os autores, esta abordagem determinista é equivocada, uma vez que apresenta risco de “cristalizar percepções de irreversibilidade que frequentemente acompanham as vivências dos pais cujos filhos são acometidos por esses ‘transtornos’”. Tendo em vista a reconhecida importância do apoio familiar para superação de tais problemas, este sentimento de “irreversibilidade” pode ter como efeito uma menor eficiência do tratamento.

Uma alternativa para evitar que isto aconteça está na criação de grupos de apoio psicológicos para familiares dentro das próprias instituições/clínicas. Dessa forma, é valorizada “a escuta dos sentidos que as famílias produzem sobre a sua própria experiência de conviver com um(a) filho(a) anoréxico(a) ou bulímico(a)”, de forma que se busca entender o que, para cada família, “é constituído como problemático”. Esta percepção, alertam os autores, “pode diferir das explicações propostas pelas teorias que lastreiam as crenças desses profissionais (envolvidos no tratamento) sobre as relações familiares”.

Durante a pesquisa, os autores analisaram audiogravações dos encontros do Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares (GRATA) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Universidade de São Paulo), realizadas ao longo de seis meses. Observando as falas dos familiares, os autores perceberam que o discurso de “culpa” dos pais ainda é fortemente sentido, sendo que “a diferença na gravidade dos sintomas entre os filhos levaria à diferença no ‘grau’ de culpabilização”.

O trabalho dos profissionais responsáveis pela coordenação do grupo de apoio é, na concepção dos pesquisadores, fundamental para diluir esta sensação. “Esse sentido (de culpa) precisa ser meticulosamente desconstruído pelo coordenador de grupo, uma vez que fortalece posicionamentos que contribuem para fixar os pais em um lugar de impotência e sofrimento”, afirmam no artigo. Agindo dessa forma, os pesquisadores acreditam que “o coordenador de grupo pode ajudar os familiares a revisarem as crenças que são sustentadas pelos discursos circulantes no grupo, tais como o da família também ‘adoecida’, ‘desestruturada’, ‘desviada da normalidade’ e necessitada de ‘se habilitar’, que dão origem a posicionamentos que dificultam o engajamento no tratamento e só contribuem para perpetuar as condições geradoras de sofrimento”.

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