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Geral

Senhora do Destino: a morte de Reginaldo

Globo - 09 de março de 2005 - 08:13

O destino foi generoso em ironias. A primeira: uma única pedrada mata Reginaldo e ela é atirada justamente por seu maior puxa-saco: Merival. Reginaldo preparava o comício da virada, iria se defender das acusações estampadas nos jornais e, sobretudo, se defenderia dos ataques de Dirceu de Castro. Para ele, o povo estava nas suas mãos. Mas desta vez ele estaria enganado. “Eles são pobres, mas não são bobos”, profetizava sabiamente Maria do Carmo, duvidando das chances do filho, mas não imaginando o desfecho trágico da sua última canalhice.

Pelo contrário. Incentivado pela primeira dama, Reginaldo se sentia preparado. Levava nos bolsos do terno o tradicional estoque de caras de coitado, de lágrimas de crocodilo e de mentiras as mais escabrosas. Sempre funcionava. Mas antes...Antes de seu show, os asseclas do partido. Eles teriam de discursar primeiro, e enrolar o povo como uma banda. A Comunidade da Pedra, no entanto, aguardava apenas por ele. Queria ouvir de Reginaldo suas desculpas. No fundo ainda acreditava no político, no filho de Do Carmo.

Esse era o trunfo de Reginaldo. Ele só não contava com uma última e inesperada revelação. A morte

A revelação há muito engasgava a garganta do velho Leão do Norte. Preocupado com a possibilidade de Reginaldo enganar o povo mais uma vez, Sebastião resolve vomitá-la. Decidido, vai contar toda a verdade sobre a morte de Leila para Do Carmo. Fula da vida, a mãe acha por bem da uma lição definitiva no filho. Chega! Chega de passar a mão naquela cabeça, ocultar mau-caratismo do filho para o resto da vida. Ela está decidida: vai espalhar a obra de Reginaldo no ventilador e vai ser agora, em pleno comício!

Ela chega no exato momento em que Reginaldo vai começar a falar. E pergunta ao filho às alturas, mas sem saber que o microfone dele continuava ligado: – “como foi mesmo que Leila morreu?”. A discussão esquenta, torna-se um quebra-pau em família. Do Carmo, diante de todos, acusa o filho de ser o responsável pela morte da esposa. E o povo, estarrecido acompanha tudo, todos os lances. Viviane tenta desligar o microfone, mas Sebastião não permite.

Quando Reginaldo percebe, já é tarde. “Povo de Vila São Miguel...Tudo o que vocês acabaram de ouvir é a mais deslavada das mentiras”. Aí é que Do Carmo se enfeza mesmo. Toma o microfone das mãos do filho e solta o verbo: “Reginaldo não presta”. A vaia que se sucede é monumental. Começa a revolta do povo, que cisma com o impeachment. Reginaldo sai de fininho e vai se refugiar na prefeitura.

Como ratos, os correligionários abandonam a sede, mas antes aconselham o prefeito a fazer o mesmo. “O bicho vai pegar”. Convencido, ele faz a limpa no cofre e trata de picar a mula, mas...Dá de cara com Merival. Antes de se transformar no pior dos algozes, Merival ainda lhe dá uma última chance de se redimir de seus pecados, mas o que faz Reginaldo? Ofende Merival. Foi seu último gesto canalha.

Depois da chuva de legumes e frutas, a pedrada fatal. Arremessada por Merival, a pedra voa e acerta a em cheio a testa do político. O baque promove toda uma viagem remissiva. Reginaldo volta a ser criança. Como seria bom se pudesse começar tudo de novo? Como são bonitos os tanques na rua, a guerra. Como são...

Ele não chega a ouvir o grito histérico da mãe que corre ao seu socorro. Reginaldo está morto em praça pública. Adeus.

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