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Geral

Selfie está mudando a forma como olhamos para nós mesmos

Saúde Plena - 06 de março de 2016 - 07:40

Selfie. A palavra, com certeza, já faz parte do seu vocabulário, e, se você observar, a pronuncia com mais frequência do que imagina. Vem do inglês, com origem no termo self-portrait — que significa autorretrato. O autor da imagem não se esconde por trás das câmeras. Ele aparece e, desta vez, em primeiro plano.

O uso do termo aumentou em 17.000% no período de um ano entre 2012 e 2013, de acordo com o blog do dicionário de Oxford. Devido a esse crescimento tão rápido, ‘selfie’ foi eleita pelo renomado dicionário “a palavra do ano de 2013”. Ela ganhou o mundo como sinônimo de foto de si tirada com um smartphone e compartillhada nas redes sociais.

Em 2015, Samsung e a consultoria Antennas Business Insights realizaram a primeira pesquisa sobre a selfie no Brasil. O resultado obtido foi expressivo: 90% dos brasileiros tiram selfies e a frequência é alta — 58% disseram fazer selfies quase todos os dias ou, pelo menos, uma vez por semana. Outro traço interessante sobre os brasileiros que o levantamento percebeu é que 72% dos entrevistados preferem tirar a foto conhecida como ‘ussie’, que é a selfie em grupo, com amigos e familiares.

Em qualquer cidade pacata do interior, há uma praça e em torno dela estão a padaria, a farmácia, o açougue etc. De acordo com o psicólogo especialista em dependência tecnológica Cristiano Nabuco, os habitantes dessas cidades vão até a praça para cumprir um objetivo muito específico: verem e serem vistos. “Faz parte da necessidade biológica do homem se manter em destaque. As redes sociais são a nova praça”, exemplifica. As pessoas criam novas identidades, postam coisas boas, como sucesso profissional, viagens e comida apetitosas. Afinal, ninguém quer ser visto na praça com aparência desleixada.

Uma das explicações para a adesão dos internautas à selfie é exatamente o cumprimento dessa função “instintiva”. Na internet, é possível que qualquer um seja a sua melhor versão, eternizar sua identidade e valores.

Porém, é preciso ter moderação. Pessoas que postam demasiadamente, em busca de aceitação, acabam sendo taxadas como chatas. O raciocínio comum é que quanto mais reconhecimento, melhor. Segundo o especialista, isso não é saudável. “Quando uma selfie não atinge muitas curtidas nas redes sociais é, frequentemente, apagada. Como se aquilo fosse uma mancha no currículo da pessoa”, afirmou.

O psicólogo ressalta a existência de estudos que mostram que quanto mais selfies um indivíduo posta nas redes sociais, mais inseguro ele é. Essa seria uma maneira de compensar sentimentos negativos e inquietudes. Isso porque a internet se configurou como uma realidade paralela na qual é possível obter sucesso e aceitação. Mesmo assim, os internautas devem usar o recurso de forma equilibrada, de modo a não misturar realidade e fantasia.

Glossário
Carfie: foto tirada no carro
Belfie: foto do bumbum
Helfie: foto dos cabelos
Welfie: foto na academia
Ussie: foto em grupo
Pelfie: selfie do animal de estimação
Felfie: selfie no funeral
Drelfie: selfie bêbada

“A” selfie ou “o” selfie?
A força de uso do verbete selfie justifica a sua inserção no dicionário como nome do gênero feminino. No entanto, ainda há alguma hesitação. Apenas o uso ditará o gênero que vai prevalecer, mas a palavra classifica-se, por enquanto, na categoria de nome feminino, pois se subentende, de uma maneira generalizada, como uma especificação do termo fotografia.

Coisa de jovem?
A internet costuma ser um território "jovem", mas, em se tratando de selfies, não é bem assim. As fotos não são algo exclusivo de uma faixa etária. “Não acho que esse fenômeno possa estar relacionado à idade, mas, sim, ao nível de 'conexão' dos indivíduos”, defende o psicólogo Cristiano Nabuco.

O que as imagens dizem
A estudante Natasha Mendes, 21 anos, reconhece que talvez tenha se excedido no período em que ficou fora do país: fez mais de 5 mil fotos. “Acredito que 90% delas sejam selfies. Mesmo quando viajava com amigos, nós preferíamos tirar selfies”, confessa. Em julho de 2015, ela se mudou para Paris com o objetivo de estudar francês. Apaixonada por fotografia, ela fez questão de registrar cada momento dos sete meses de intercâmbio.

No começo da viagem, ela diz que sentia vergonha de fazer o registro que muitos veem como algo egocêntrico, ainda mais no meio da rua. “Eu me sentia meio boba, com o bastão de selfie enorme esticado e sorrindo pro além. Até tentava disfarçar”, assume. A timidez foi passando quando a estudante percebeu a popularização do recurso. E foi aprimorando os cliques. “Com o tempo, você aprende o ângulo certo para cada tipo de foto”, diz.

Para a psicóloga Ana Maria Martins, especialista em terapia cognitivocomportamental, não se pode atribuir um sentido generalizado ao ato de tirar selfies. A obsessão em ser sujeito da imagem pode ter diferentes significados para cada pessoa. Pode ser o simples desejo de se ver ou a vontade de registrar um momento para consulta pessoal. Segundo ela, a barreira do vício é cruzada quando há alguma forma de prejuízo. “Por exemplo, quando a pessoa para de se envolver com os momentos e companhias para ficar totalmente imsersa no ato de tirar fotos”, pondera.

O crescimento da internet e das redes sociais permitiu a qualquer pessoa um espaço para buscar atenção ou notoriedade. A selfie, como forma de registrar um momento e compartilhar o sentimento associado a ele, é uma forma válida de expressão e comunicação moderna. Entretanto, o professor da Universidade Católica de Brasília Alexandre Cavalcanti Galvão comenta que a selfie se torna um assunto delicado diante de uma situação. “Quando a pessoa começa a se autofotografar inventando um estado de espírito, é preciso prestar atenção. A necessidade de pegar emprestado um sentimento diferente do real é o que deve chamar a atenção”, ressalta Alexandre.

De acordo com o professor, essa necessidade de se mostrar em situações positivas é um condicionamento cultural. Alexandre ressalta que a sociedade permite cada vez menos exibir “sentimentos pesados”. “Não permitimos que as pessoas se sintam tristes e chorem por suas perdas, queremos que o luto passe rápido”, aponta. Nesse sentido, a selfie apenas reproduz um padrão social mais amplo.

Para eternizar o momento

1) Maquiagem
A maquiagem específica para a selfie é um assunto que interessa boa parte das mulheres. Afinal, é melhor iluminar o rosto? Ou será que é preferível abusar do contorno? Devo passar um batom mais claro ou escuro? Cintilante ou mate? É melhor pesar ou pegar leve na make? Dúvidas como essa podem tirar o sono das apaixonadas por selfie. A busca por maquiagem para selfies é tanta que, no YouTube, existem incríveis 21.600 resultados somente para essa procura. Alguns vídeos atingem, inclusive, a marca de um milhão de visualizações.

A maquiadora Laísa Amorim dá algumas dicas fundamentais para sair bem na foto. Na opinião da profissional, uma selfie nunca pode ser feita de cara lavada, mas atenção: o exagero também não é caminho certo. É importante que a pessoa se preocupe em deixar a pele bem maquiada, sempre usando os truques de contorno para destacar os melhores ângulos do rosto, que estará em primeiro plano. Para os olhos, a máscara de cílios é o grande segredo. “É preciso caprichar na máscara, tanto nos cílios superiores quanto nos inferiores. Isso é essencial, porque dá uma levantada no olhar de maneira natural”, esclarece a profissional. Para finalizar, um pouco de sombra marrom no côncavo e um toque de iluminador nas têmporas. Depois disso, é só abusar das caras e bocas.

2) Acessórios
Se, aparentemente, a tendência é registrar cada instante vivido por meio das selfies, passa a ser importante investir em acessórios para garantir a qualidade técnica do clique. O utensílio mais famoso para essa finalidade é o bastão de selfie (ou pau de selfie). Tem como função aumentar a abertura do ângulo para a foto, de forma a incluir mais elementos do cenário.

Desde o surgimento, o acessório foi alvo de algumas críticas e polêmicas. O pau de selfie tem sido barrado em alguns museus, pontos turísticos (na Torre Eiffel, por exemplo) e parques de diversões (os do complexo Disney não permitem). Durante seu intercâmbio, a estudante Natasha Mendes observou essa proibição. “A justificativa é compreensível. Ao andar com um bastão de selfie em um museu, há o risco de o visitante estragar alguma obra”, considera a jovem. Além, disso, o bastão pode atrapalhar a visão de outros visitantes.

A novidade em matéria de acessórios para garantir uma selfie ainda melhor são as capinhas que acendem e iluminam. O apetrecho ficou famoso graças à socialite norte-americana Kim Kardashian e logo virou febre entre os adeptos do autorretrato digital. As amigas e proprietárias do Ateliê das Duas, Camila Nereu e Monnike Falcão, compraram a capa assim que ficaram sabendo da sua existência. Para Monnike, o principal truque para uma boa selfie é a luz. Por isso, ela decidiu investir no acessório. “Já comprei outras coisas, como lentes que dão efeitos diferentes na foto, mas essa capa foi a melhor aquisição”, reconhece.

O efeito Kardashian: A socialite norte-americana sempre declarou abertamente o seu vício pelas selfies. No ano passado, a Editora Rizzoli compilou os melhores momentos em um livro, Selfish. Duas semanas após o lançamento, já estava na lista dos mais vendidos, na categoria Fotografia e Arte, na Inglaterra e no Estados Unidos. São 350 páginas de fotos da celebridade %u2014 sozinha ou na companhia de amigos e familiares.

Fique bem na foto

1. Busque uma boa luz
2. Preste atenção ao plano de fundo
3. Faça algo criativo
4. Tente novas poses
5. Evite fotos de baixo para cima

Aplicativos para edição

CamMe
Permite que o usuário faça selfies sem as mãos a partir do reconhecimento de movimento. Para ativar a câmera do smartphone, basta abrir e fechar a mão (funciona a até 5m de distância). Gratuito. Disponível para iOS.

Selfshot
Ajuda a fazer selfies com pouca luz. Ideal para os cliques à noite e na balada. Porém, a maioria dos recursos do aplicativo são liberados apenas para a versão Premium, que custa US$ 0,99. Disponível para Android e iOS.

B612
Oferece mais de 40 filtros para aplicar nas suas imagens enquanto a câmera do celular está ativa. Além dos efeitos, você pode fazer montagens automáticas com duas, três ou mais imagens. Gratuito. Disponível para Android, iOS e Windows Phone.

Coleção de likes
Não dá para negar que, com ou sem acessórios de última geração, o medidor de sucesso das fotos nas redes sociais são as curtidas e os comentários. Muitas pessoas publicam selfies já contando com uma repercussão positiva e, às vezes, se desapontam quando a selfie não se torna objeto de atenção. Isso não é um motivo de preocupação para a empresária Camila Nereu. Ela não repara muito na quantidade de curtidas, mas acha que, caso percebesse um número muito menor, isso poderia causar uma insegurança momentânea.

Um aspecto curioso sobre o hábito de capturar a própria imagem é que as empresárias concordam que nunca se dão por satisfeitas logo com o primeiro clique, por mais que fique bom. Elas sempre tiram várias fotos antes de escolher uma para compartilhar na internet. “Acho que isso é muito comum entre as mulheres. Normalmente, nós tiramos mais fotos. Sejam selfies ou não”, frisa Camila. A empresária deixa escapar que jamais postaria uma foto triste ou desarrumada. “O Instagram não é bem a vida real”, conta.

A pedido da reportagem, Camila e a sócia, Monnike Falcão, revelaram um segredo. Depois de tanto investimento para chegar à “selfie perfeita”, quantos autorretratos elas carregam no celular? Das 35 mil fotos que Camila tem no celular, 1.500 são selfies. No caso de Monnike, que trocou de celular em janeiro deste ano, já foram 1.300 fotos em um mês — sendo que 96 são autorretratos.

Casos extremos
Existe um aspecto curioso e assustador sobre as selfies. A busca sem limites por uma foto incrível, que seja capaz de gerar muitas curtidas e comentários, algumas vezes resulta em um fim trágico. Há relatos inacreditáveis, como o do turista japonês de 66 anos que faleceu após rolar escadaria abaixo no monumento indiano Taj Mahal — enquanto buscava o ângulo ideal para o registro. Uma pesquisa feita pelo site de tecnologia Mashable aponta para um dado inesperado: o número de mortes causadas por selfies em 2015 superou os óbitos por ataques de tubarões. Enquanto 12 acidentes fatais foram originados pelas selfies, apenas oito foram causados por tubarões. Para o psicólogo Cristiano Nabuco, a necessidade de fazer uma selfie a qualquer preço diz muito sobre a personalidade das pessoas.
“Ela é decorrente da vontade que uma pessoa apresenta de ser imperativamente notada pelos seus pares ou ainda a de procurar ganhar alguma notoriedade, nem que seja instantânea e/ou passageira”, explica.

Na Rússia, dois casos distintos incentivaram o governo a lançar uma cartilha com orientações para a “selfie segura”. Em uma das situações uma jovem de 21 anos ficou entre a vida e a morte ao disparar, sem querer, uma arma que iria “ilustrar” uma selfie. Em outra, um grupo de jovens foi eletrocutado ao encostar em fios de alta-tensão enquanto tentava tirar uma selfie sobre os trens. Sutilmente, a cartilha russa avisa: “Lembre-se: você não pode postar uma selfie incrível se estiver morto".

Dependência da web
De acordo com Núcleo de Dependência de Internet, em São Paulo, apresentar pelo menos cinco dos oito critérios listados abaixo pode configurar dependência.

1. Preocupação excessiva com a internet.
2. Necessidade de aumentar o tempo conectado (on-line) para ter a mesma satisfação.
3. Exibir esforços repetidos para diminuir o tempo de uso da internet.
4. Apresentar irritabilidade e/ou depressão.
5. Quando o uso da internet é restringido, apresenta labilidade (instabilidade) emocional.
6. Permanecer mais tempo conectado (on-line) do que o programado.
7. Ter o trabalho e as relações familiares e sociais em risco pelo uso excessivo.
8. Mentir aos outros a respeito da quantidade de horas conectadas.

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