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Saúde: Arrancar cabelos pode ser sintoma de compulsão
A tricotilomania é uma forma de compulsão que afeta pacientes depressivos e pode provocar falhas no couro cabeludo e calvície, explicou palestrante.
A tricotilomania é um transtorno no qual os pacientes arrancam (fio por fio dos) cabelos para aliviarem a ansiedade. O quadro é uma compulsão e leva o doente a brincar com os cabelos, acariciar um fio e posteriormente arrancá-lo. Depois, o indivíduo pode descartá-lo ou comê-lo, reiniciando o processo. A psicanalista Alessandra Ricciardi Gordon discorreu sobre o tema no 22º Congresso de Psicanálise, que ocorreu de 29 de abril a 2 de maio, no Hotel Intercontinental, no Rio de Janeiro.
A tricotilomania é a compulsão em uma de suas manifestações clínicas. É similar à bulimia comer descontroladamente e à anorexia falta ou perda de apetite , distúrbios em que o paciente perde a capacidade de controlar seus impulsos. Normalmente, é caracterizada por uma série de rituais, que se repetem quando se estuda a história humana. Até os registros mais antigos sobre a doença apresentam os mesmos padrões: o paciente alisa os cabelos, escolhe um fio, acaricia e brinca com o fio, depois o remove cuidadosamente, brinca mais um pouco e o descarta ou come. Após ter acabado com um fio, reinicia o processo com outro. Esse ritual geralmente acontece longe de observadores, disse a psicanalista.
Em sua palestra, Alessandra analisou o caso de uma paciente (que não teve o nome ou cidade onde reside revelados) afligida pela doença. A paciente, segundo a analista, apresentava fortes sintomas de ansiedade. Durante as seções, esfregava as mãos e arrancava o esmalte furiosamente, e demonstrava sinais de inquietação e insegurança. De acordo com Alessandra, a paciente sofria de depressão, não conseguia montar seu apartamento ou manter relações estáveis. A paciente também era obcecada por exercícios e constantemente se entregava a homens desconhecidos, afirmou.
Para a especialista, sua paciente se encontrava em um perpétuo estado de inquietação. Segundo ela, durante as seções em que não mencionou o arrancar cabelos parecia nervosa e desconfortável. Conforme discorria sobre seus problemas, se mostrava uma mulher com uma história cheia de rejeições e desencontros. Não se sentia bem com o próprio corpo ou com a maneira pela qual os outros o percebiam e, de certa forma, parecia presa a adolescência. A psicanalista constatou que a paciente era incapaz de fazer durar seus relacionamentos e ter qualquer visão otimista da vida. Em algum momento, o arrancar cabelos ocupou na sua vida uma função de fornecer prazer e satisfação, explicou.
Para a psicoterapeuta, a tricotilomania ocupava, no cotidiano da paciente, um nicho dedicado à auto-satisfação. Nas palavras de Alessandra, o arrancar cabelos se tornou uma diversão para a paciente. Em seus momentos de solidão, os cabelos eram algo sobre o qual tinha controle. Contrastando o que experimentava com os parceiros , ela dominava os cabelos, os usava e depois descartava, tendo sobre os mesmos um controle total. De acordo com Alexandra, do ponto de vista psicanalítico, o ritual assumiu uma função masturbatória auto-erótica que lhe dava prazer e satisfação. Arrancar cabelos tornou-se para a paciente uma obsessão que lhe gastava tempo e a impedia de se concentrar em como dar conta de seus problemas. Ao mesmo tempo, se tornou um momento sagrado de introspecção, por isso a dificuldade em abandonar o hábito, disse.
Entretanto, com o tratamento continuado através das sessões de psicanálise, a paciente, de acordo com Alessandra, demonstrou progressos consideráveis. Gradualmente sua ansiedade foi reduzida e aos poucos ela foi conseguindo montar sua casa, concluiu.
Agência Notisa (science journalism jornalismo científico)
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