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Rosildo Barcellos e a sua reflexão de aniversário

Rosildo Barcellos - 03 de abril de 2007 - 07:35

Nesse fim de semana comemorei meu natalício. Foi uma reunião levada a termo por um amigo,já de longa data. Na verdade fui como convidado do meu próprio aniversário. Pudemos então conversar sobre o que faz a verdadeira amizade e o que passamos para chegar ao ponto em que estamos hoje. Falamos sobre educação infantil, desobediência, traumas. Claro, assunto batido, discutido, revisto, mas sempre presente.
Lembrei de como meus pais eram chatos na escolha de um novo amigo. Ele lembrou também de seus genitores.Não entendia os critérios, mas hoje sei que são necessários esses critérios. Não porque tenham de ser ricos ou pobres escuros ou claros, mas que tenham pelo menos o mesmo objetivo na vida:tentar ser feliz.
De repente estávamos lembrando de como outros amigos nossos eram tratados. Uma vez presenciamos a mãe de um deles esperar em pé por quase uma hora para ver o quarto arrumado antes de sair para fazer um trabalho escolar. Não dava para entender..tinha empregada ou eles mesmos que eram adultos fariam isso em dez ou quinze minutos.
E aquela frase clássica...dói mais em mim do que em você .Ouvi tantas vezes!
E ficamos disputando para ver qual das mães era mais malvada. Sim...minha mãe era má. Era a mãe mais má do mundo... As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos de comer cereais, ovos e torradas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas.Brócolis,jiló,quiabo...é o fim do mundo E a lista de maldades não acaba por aí, ela obrigava-nos a jantar à mesa, bem diferente das outras mães, que deixavam os filhos comerem vendo televisão.
Ela insistia em saber onde nós estávamos a toda hora (tocava nosso celular de madrugada e fuçava em nossos e-mails). Era quase uma prisão. Meu pai tinha que saber quem eram os nossos amigos . Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos só uma hora as vezes menos.
Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violou, com certeza, as leis de trabalho infantil. Nós tínhamos que agradecer a Deus pelo alimento, tirar a louça da mesa, esvaziar o lixo e todo o tipo de trabalhos recheado de crueldade. Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. Ela insistia sempre conosco para lhe dizermos a verdade, e apenas a verdade. Meu pai falava sempre...se for pra mentir é melhor nem falar nada! E a mesada... muito menos que um salário mínimo e só depois de lavar todos os carros e mostrar a tarefa da escola pronta.
A nossa vida era mesmo chata. Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que nós saíssemos. Tinham que subir, bater à porta para ela os conhecer;oferecer um suco,bolachas...diziam que fazia parte da etiqueta.
Enquanto todos podiam voltar tarde à noite com 12, 12 anos, nós tivemos de esperar pelos 16 para chegar mais tarde e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar...curiosa!). Por causa da nossa mãe, nós perdemos imensas experiências da adolescência. Sabia que até hoje não acostumei a falar palavrão ?
Só que eu percebi uma diferença:nenhum de nós esteve envolvido com drogas, com roubos,furtos, atos de vandalismo, violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime.Andamos de cabeça erguida pelas calçadas. E hoje pessoas leem o que eu escrevo. Foi tudo por causa dela. Aquela megera e meu pai austero.Era um complô,isso tenho certeza. E pegar o carro sem habilitação...nem pensar.Poxa mas todos os outros colegas pegavam? Tudo bem que um deles matou um casal deixando tres filhos órfãos mas isso não ia acontecer com a gente, foi só um descuido. Mas qual o que, carro só com a CNH bonitinha na mão.
Então chegamos aqui...meus trinta e uns. Dizem que somos esquisitos,mas comprovadamente adultos, honestos e educados,cada um tem seu emprego;claro a vida não está facil,o dinheiro não sobra , mas podemos dormir tranquilo quando recostamos a cabeça no travesseiro e olhando para nossos filhos estou sinceramente e decididamente inclinado a ser um pai mau tal como a nosso pai foi em pleno acordo com nossa mãe malvada. Sabe,para falar a verdade eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: Não há suficientes pais malvados...hoje deixamos a educação das crianças para as creches ou para a tela da televisão.O que podemos esperar ?

*articulista e conselheiro da Asnarf

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