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Rogério Tenório de Moura: "Toda unanimidade é burra"

Rogério Tenório de Moura* - 21 de março de 2009 - 18:23

Recentemente ocupei este espaço para pedir bom senso aos detratores (leia-se urubus) de plantão que estavam, e ainda estão, a torcer contra a administração do atual prefeito. O problema é que a defesa ampla e irrestrita ao alcaide virou modismo. Não estou, em hipótese alguma, voltando atrás no que disse, quero deixar isso bem claro antes de mais nada. Já basta o ex-presidente FHC ter dito “esqueçam tudo o que escrevi”, referindo-se a toda sua obra enquanto sociólogo, obra que, diga-se de passagem, projetou-o à política.
A saída para Cassilândia vai muito além de simplesmente dar todo o apoio esperado pelo executivo municipal. Aliás, como dizia o escritor Nelson Rodrigues: toda unanimidade é burra!
Chegamos ao absurdo de escutarmos a declaração infantil de um vereador em dizer que estava votando a favor de um dado projeto porque todos os demais parlamentares haviam sido favoráveis, mas que ele estava contrariado! Em outras palavras “minha opinião não vai mudar nada mesmo, então que se dane aquilo em que acredito, vou ser só mais um em vez de me complicar tentando fazer a diferença”. E ainda há quem defenda o aumento do número de vereadores!
A verdade dos fatos é que, na prática, o prefeito Carlinhos não tem adversários políticos, a oposição aprovou, até aqui, todos os projetos por ele enviados à câmara indistintamente. Ao contrário do que muitos pensaram e propalaram, o fato da “velha guarda” ter feito maioria no legislativo municipal não tem atrapalhado em nada a administração do novo prefeito. O que tem havido é uma luta constante do mesmo para se tornar de fato um político, pois até que se prove o contrário, a eleição do mesmo foi mero casuísmo.
Creio que ele possa sim vir a se tornar um líder político, um administrador da máquina pública de sucesso, mas para tanto terá que deixar de lado certos ranços do setor privado e, sobretudo, estar mais aberto a transigir. Nunca deixei qualquer dúvida de que acreditava na boa vontade do prefeito, mas, como diz o ditado: de boas intenções...
Administrar um negócio próprio, única experiência profissional do prefeito Carlinhos, é muito diferente de administrar a coisa pública, sobretudo quando se trata de um negócio de pequeno a médio porte sem sócios a quem prestar contas, ter de ouvir e conciliar interesses, fazer concessões. A gestão pública é intrincada, apresenta diversas ramificações e lacunas que podem derrubar o gestor a qualquer momento, senão legalmente, moralmente; o que é muito pior, vide o caso Collor, cassado, mas não desmoralizado, renasceu das cinzas como uma phoenix.
Arnold Schwarzenegger aproveitou-se do desgaste de seu antecessor e de sua popularidade, enquanto ator de cinema, e projetou-se ao cargo de governador da Califórnia. Sua vitória era mais que previsível, mas, seu sucesso enquanto administrador, nem tanto. Porém, ao contrário do que esperavam, cercou-se de intelectuais saídos das melhores universidades do país, e não de seus companheiros de campanha. Aliás nem precisava, todo o knowhow político necessário é fartamente servido-lhe pela família de sua esposa, sobrinha do ex-presidente John Kennedy. Resultado: apresenta um dos maiores índices de popularidade entre os governadores americanos.
Carlinhos não tem experiência política para sair das saias justas do cotidiano de um gestor de uma pequena cidade, nem assessoria técnica com experiência para orientá-lo nos melindres da máquina pública, salvo meia dúzia de parcas e honrosas exceções. Portanto deveria se apegar à única força que lhe sobrou e que, por enquanto, tem dado-lhe todo o apoio: o povo. É por causa deste mesmo povo que a câmara tem sido uma extensão do gabinete do prefeito e as insossas críticas da oposição não tem passado de ecos suplantados pelos sonoros SIM a tudo aquilo que é remetido àquela casa de leis.
No entanto os escandalosos adicionais por dedicação plena dados à meia dúzia de chefes de setor, o aumento expressivo do número de cargos comissionados, o parco reajuste de 12% ao funcionalismo público e a sistemática negativa a todas as propostas de aumento salarial do magistério tem pesado contra o alcaide. Fazer ouvidos moucos ao funcionalismo público é, além de uma decisão equivocada, um péssimo presságio. Qualquer um que se debruce um pouco mais detidamente sobre a história da política local sabe que o administrador que parte para a queda de braço com o funcionalismo sempre leva a pior nas eleições subsequentes.
Faz-se salutar que não há crescimento econômico, a grande ânsia do povo cassilandense, sem Educação de qualidade; pois sem ela não há mão-de-obra qualificada e sem esta nenhuma indústria se mantém. Logo desprestigiar o magistério municipal é dar um tiro no próprio pé. Quem, em sã consciência, despende tempo, esforços e considerável soma em dinheiro para perceber proventos similares aos de um gari?! Que me perdoem estes, não estou desprestigiando-os, mas é fato inconteste em qualquer sociedade desenvolvida que quanto maior a qualificação, maiores são os ganhos. No entanto, hoje, somando-se todos os benefícios recebidos por parcela significativa dos “braçais” da prefeitura é melhor negócio trocar as salas de aula pelo trabalho não qualificado.
Que belo exemplo para as futuras gerações! Deste jeito basta à oposição fazer o que já tem feito: ensaiar uma tímida resistência e esperar que a corrente política vencedora “dê com os burros n’água”, assim a volta ao poder reduz-se a uma mera promoção automática, uma espécie de reconciliação do eleitorado com o vencido de outrora. E Cassilândia lamentavelmente continua na mesma, maktub!

*Rogério Tenório de Moura é licenciado em Letras pela UEMS, especialista em Didática Geral e em Psicopedagogia pelas FIC; vice-presidente do SISEC (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Cassilândia).













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