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Rogério Tenório de Moura: Homenagem Vitae

Rogério Tenório de Moura - 20 de fevereiro de 2008 - 08:34

Nesta semana fui surpreendido com uma grata homenagem à memória de meu saudoso irmão, o radialista Job Gomes de Moura Filho, falecido em setembro de 2006. A Câmara Municipal de Cassilândia deu o nome dele à avenida AB, localizada na Vila Pernambuco, que coincidentemente leva a alcunha do meu avô, o ex-prefeito Joaquim Tenório Sobrinho.
Naturalmente tal fato causou-me orgulho, além de uma boa dose de nostalgia, mas não é por isto que resolvi ocupar este espaço, amigo leitor. Na verdade o acontecimento em questão é o que me motivou a redigir as reflexões que se seguem.
Certa vez Machado de Assis escreveu que o curso natural da vida estava todo errado, que o natural, o mais humano, seria nascermos velhos, frágeis, doentes, dependentes e irmos melhorando, nos revigorando, até alcançarmos a força da juventude, a garra, a determinação e quanto mais produzíssemos, mais jovens e felizes nos tornássemos a ponto de terminarmos nossa existência na explosão de um orgasmo.
O mesmo acontece com as homenagens, passamos a vida inteira correndo atrás do sucesso, do reconhecimento profissional, dos bens materiais e só acabamos nos dando conta de que deixamos de expressar às pessoas o valor que elas tem para nós quando já não há mais tempo para isso.
É por isso que decidi ocupar este espaço hoje para prestar uma homenagem vitae à uma pessoa muito querida, não só por mim, mas por milhares de cassilandenses. Esse cidadão, embora não seja uma das pessoas mais religiosas que conheço, é a síntese mais perfeita do que é ser cristão com a qual já tive o prazer de conviver. Devo confessar que muitas vezes surpreendo-me a questionar o meu pseudocristianismo, digo isto porque, sinceramente, não sei se seria capaz de dar tamanhas provas de abnegação como já vi ele dar.
Não foi nem uma nem duas vezes que presenciei ele tirar o último tostão do bolso para ajudar um estranho, logo após comentar comigo os sérios problemas financeiros pelos quais vinha passando. Sei que parece incoerência, alguns radicais diriam até que chega a ser falta de amor próprio, mas o fato é que somos fruto daquilo que vivenciamos ao longo de nossa infância, de nossa mais tenra educação, salvo raras exceções que por contingência maior da vida e a duras penas se moldaram. O fato é que neste caso o dito popular “filho de peixe, peixinho é”, resume bem não só quem ele é, mas quem escolheu ser.
É verdadeiramente fato que já na vida adulta, após anos de experiência tanto acadêmica quanto de vida, escolhemos ser quem somos e poucas são as vezes em que uma pessoa que teria tudo para ter uma vida sossegada e confortável escolhe abrir mão de tudo isso para se dedicar ao bem da coletividade, mesmo sabendo que não raras vezes será incompreendido e vitima de pechas maldosas das quais jamais fez jus.
Não ter dia nem horário para ser abordado por qualquer um que esteja em busca de ajuda para solução de um problema, seja em um Natal em família ou até mesmo no velório de um ente querido e ainda assim não perder o bom humor; ser um alto funcionário da Receita Estadual e não conseguir manter seu orçamento equilibrado porque vive a ajudar aqueles que lhe pedem; deixar de realizar projetos pessoais e familiares porque a todo momento é requisitado para resolver os problemas de outrem, lutar, até mesmo quando sem mandato (sem ganhar nada pra isso) para melhorar a qualidade de vida do povo de sua cidade, mesmo sabendo que sempre aparecerão espíritos de porcos para ver maldade e segundas intenções onde não existem, parece insanidade? Pois esta é a rotina, o cotidiano de Luiz Tenório de Melo, o Luizinho.
É em nome de todas as pessoas que só tiveram a chance de estudar, de dar um enterro digno a um parente, de fazerem um tratamento de saúde, de sonharem com uma vida melhor graças ao senhor que lhe presto essa homenagem, tio, sem o menor receio de ser tachado de piegas, pois aprendi contigo a perseguir os ideais em que acredito, mesmo quando tudo e todos parecem estar contra mim.
Certa vez Juscelino Kubitschek disse que mesmo se discordarmos do posicionamento político de um homem público, mas percebermos sinceridade em suas ações, o mínimo que devemos a esse idealista é respeito por lutar por algo em que verdadeiramente acredita. Mesmo quando discordo do senhor, eu gostaria que soubesse que eu (e muita gente!!!) o admira e respeita muito. Quem dera tivéssemos nesse país mais políticos que lutassem, não importa se por causas justas ou equivocadas, mas que saíssem da inércia cômoda de seus gabinetes e realmente tivessem o desejo latente que o senhor tem de mudar o mundo a sua volta!

Rogério Tenório de Moura
é licenciado em Letras pela UEMS,
especialista em Didática geral
em Psicopedagogia pelas FIC

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