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Rogério T. de Moura: Santo da casa não faz milagre?

Rogério Tenório de Moura - 23 de fevereiro de 2009 - 12:44

Diz o ditado popular que o pasto do vizinho é mais verde que o nosso. Tal assertiva reforça o sentimento de inferioridade, comum, sobretudo, às camadas mais desprestigiadas de nossa sociedade. Some-se a isso o fato de vivermos em uma cidade interiorana de um dos Estados menos evidenciados tanto pela mídia quanto pela União, pra não falarmos das grandes indústrias, e teremos a nítida sensação de que os outros sempre têm as melhores coisas, então, acabamos preferindo um “santo” de outra paróquia.
Tal premissa tornou-se contundente para mim quando eu tinha uns quatorze anos. O ex-peão de rodeio Cassius Clay Ferreira era, na época, uma das estrelas nacionais do esporte. Confesso que nunca fui o que se pode dizer de “grande apreciador” de esportes, sobretudo do rodeio, mas minha curiosidade (e meu irmão) me impeliram a ir conferir a montaria do grande ídolo cassilandense. Admito que o que mais me chamou a atenção não foi o desempenho do atleta em si, mas a reação do público. Passado o momento de euforia por mais uma conquista de nosso conterrâneo, não pude deixar de notar o zum zum zum nas rodas que se formavam questionando o mérito de nosso herói municipal. Foi aí, pela primeira vez que percebi que não importa o quanto você possa ser capaz e merecedor de suas conquistas, na cultura popular santo de casa não faz milagre mesmo e ponto final.
Por conta de tal ceticismo, até mesmo Jesus deixou de fazer milagres onde nasceu, porque todos viam nele apenas o filho do humilde carpinteiro. Note que Jesus, quando curava, sempre dizia: "vai, irmão, tua fé te salvou". É o que precisamos aprender com o mais sábio homem que já viveu. Não importa quem somos ou onde estamos, um homem é do tamanho da sua crença. Como afirmava Henry Ford, fundador da famosa fábrica de automóveis: se você acha que você pode ou que você não pode, você está absolutamente certo. Perceba que o que importa é em que você crê, o resto é consequência.
Certa vez assisti a uma entrevista de um publicitário australiano, especialista em marketing turístico, que esbravejava dizendo que o Brasil era o único país do mundo que fazia questão de fazer propaganda de suas mazelas. Ainda afirmou despudoradamente que era óbvio que seu país também tinha problemas, como qualquer outro, a diferença é que eles varrem a sujeira para debaixo do tapete e ressaltam aquilo que têm de bom.
Precisamos abandonar velhos paradigmas, para não dizer preconceitos, e valorizar o que é nosso. Temos atletas de ponta no rodeio, na natação e no futebol de salão; artistas plásticas de nível internacional, como a professora Márcia Leal; poetas de primeira grandeza, como David Rezende ... e paro por aqui para não cometer nenhuma injustiça.
Logo, precisamos perceber que o que vem de fora só parece melhor porque vem maquiado, porque a fotografia sempre é mais bonita que o original (dados os tratamentos a que essa é submetida). No próximo ano vivenciaremos mais um período eleitoral e, novamente, cairão de pára-quedas sobre nossas cabeças ilustres desconhecidos jurando amor eterno por nossa cidade. Gente que ninguém sabe de onde veio e nem para onde vai. Então lhe questiono, amigo leitor, você irá cair novamente no conto do vigário? Vai ficar esperando que um extraterrestre (leia-se extra-cassilandense) abrace nossa causa, ame e defenda nossa cidade como nós que aqui moramos, trabalhamos e criamos nossas famílias?
Se sua resposta é sim, sinto muito por você que não terá defesa diante de seus filhos ao amargar mais quatro anos de inércia letárgica do poder estadual em relação à nossa comunidade.
Não há o que ser questionado, é indubitável que um “pangaré cassilandense” é melhor, para nós que aqui fincamos nossas raízes, que, por exemplo, um alazão campo-grandense.
Não, não sou xenófobo, simplesmente faço apologia a defendermos aquilo que é nosso porque a vida me ensinou que se não fizermos isso, ninguém o fará. Por mais que tenhamos nossas diferenças com um dado político, quando o assunto não é a política local, devemos colocar nossas diferenças de lado e entendermos que por pior que o camarada em questão seja, tudo o de melhor que ele fizer, seja no parlamento estadual, seja no nacional, será por nossa cidade. E por uma questão muito óbvia, porque representamos a maioria esmagadora de seu reduto eleitoral, porque somos seus vizinhos, amigos, familiares, colegas de clube, irmãos de igreja. Porque mesmo que seja por mero interesse, o político em questão não vai querer ficar “mal na fita” com aqueles que fazem parte da história de vida dele, do seu dia a dia. Logo, por menos que ele faça, supondo que seja um pasmado, ainda o fará por Cassilândia. É bíblico: os cães comem do que sobeja da mesa de seus senhores. Que me desculpem os irmãos sul-mato-grossenses de outros municípios que contarão também com seus candidatos próprios, mas eu me nego veementemente a continuar sendo cachorrinho de quem quer que seja.
Assim sendo, apelo a toda a classe política de nossa cidade a deixarem a vaidade e os interesses pessoais de lado e se unirem em prol de Cassilândia. Que a eleição de 2006 sirva de lição, três candidatos a deputado estadual em uma cidade que mal consegue eleger um é uma sandice! Escutem a população pela qual vocês tanto anseiam lutar, façam uma pesquisa popular e que o mais bem cotado seja o candidato, não do grupo de situação ou de oposição, mas o de Cassilândia. Dêem-nos essa prova de maturidade e nós, certamente, a começar por mim, dar-lhes-emos o devido respaldo, independentemente de quem for o candidato.
Rogério Tenório de Moura é licenciado em Letras pela UEMS, especialista em Didática Geral e em Psicopedagogia pelas FIC; vice-presidente do SISEC (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Cassilândia).

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