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Réu por feminicídio é confrontado por juiz após alegar 'esquecimento'

Luís Alberto afirmou que matou a musicista durante uma "briga besta" e a todo momento reforçou que estava sob efeito de drogas quando cometeu o crime

Campo Grande News - 17 de agosto de 2018 - 08:40

“Parecia um filme. Só lembro flashes”, foi assim que Luís Alberto Bastos Barbosa descreveu o dia em que matou a musicista Mayara Amaral. Mesclando momentos de confusão e esquecimento, com detalhes de sentimentos, o réu prestou o primeiro depoimento ao juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri.

Luís foi ouvido na tarde desta quinta-feira, na terceira audiência sobre o assassinato da musicista. Diante do juiz, ele lembrou que conheceu Mayara em um bar da cidade, através de amigos e que logo se envolveram no projeto de uma nova banda. Com os ensaios, os dois acabaram se aproximando e tiveram o que o réu chamou de “encontros casuais”.

Segundo Luís, o terceiro encontro entre eles aconteceu na noite em que Mayara morreu. Foi durante uma “briga besta”, regada com muito álcool e uso excessivo de droga. “Eu estava três dias sem dormir, com sintomas de sífilis e na função da droga”, afirmou. “Se eu tivesse consciente, nunca ia fazer uma coisas dessas”.

No depoimento, o réu alegou que a discussão começou quando Mayara insistiu para ele contar a namorada sobre o envolvimento dos dois. Neste momento os dois teriam se esganado, trocado tapas e ofensas. A briga continuou, e a vítima, segundo Luís, teria trancado a porta porta para evitar que ele fosse embora.

Foi quando Mayara teria falado que desconfiava ter uma DST, que havia procurado um médico. “Ela falou que não era para passar para mim, mas que foi inevitável”. A musicista teria tocado mais uma vez no nome da namorada de Luís, o que segundo ele, foi o estopim da briga. “Foi um momento de fraqueza, loucura, insanidade”.

“Não lembro se foram dois, três ou um, não lembro quantas vezes, só flasches”, afirmou o réu quando o juiz perguntou quantas vezes ele acertou Mayara. Luís também alegou não se lembrar o porque atingiu a apenas a cabeça da musicista. “Não queria bater. Só queria assustar”.

Quanto ao martelo usado no crime, Luís afirmou que sempre carregava para “quebra gelo”, que foi a primeira coisa que encontrou para “assustar” Mayara. Depois do crime, o depoimento do réu é vago.

Ele conta que foi para casa com dificuldade, mas quando confrontado pelo juiz, é claro.“Você atropelou uma criança?”, perguntou o juiz. A resposta de Luís no entanto foi imediata. “Não, tenho certeza que não”.

Ao contar os próximos passos, ele lembra que procurou deixar o corpo da musicista “em um lugar fácil de encontrar”, que escolheu o "Inferninho" porque sempre ia ao local com os amigos e que queria se livrar de tudo que o ligava ao crime. Para isso, tentou vender o carro da vítima e chegou a mandar mensagens do celular dela para incriminar outra pessoa. “Acredito que fiz isso, mas não fiz com clareza nenhuma”.

Os outros objetos de Mayara seriam queimados, foi por isso, segundo Luís, que ele parou para comprar combustível e não para atear fogo no corpo da musicista. “Eu já estava arrependido, não ia tacar fogo no corpo”. Para o juiz, ele alegou que onde deixou a vítima, lembra de ver vários focos de incêndio.

“Você lembra de ver vários focos de incêndio?”, questionou o juiz. “Não lembrava. Mas para chegar até aqui fui tentando lembrar, para falar para vocês”, respondeu.

“Nunca me imaginei preso, no sistema carcerário horrível desse país. Me arrependo muito, não era para isso ter acontecido. Quando a polícia me encontrou eu estava no meu quarto, usando droga, quase tendo overdose, no fundo eu queria me matar", defendeu mais de uma vez.

Manchas de sangue - Quem também prestou depoimento nesta tarde foi Anderson Sanches Pereira, que responde no processo da morte de Mayara por receptação. Ao juiz, o suspeito detalhou que Luís chegou a casa de Ronaldo da Silva Olmedo oferecendo o carro da musicista, um Gol modelo 1992, afirmando ser de uma amiga.

Segundo ele, era visível o desejo de Luís de se livrar do carro, que até estranhou o comportamento do rapaz, mas acreditou na amizade que ele tinha com Ronaldo. Inicialmente, para ficar com o veículo, Anderson deveria entregar R$ 1000, um celular J5 e o seu antigo carro, um Gol modelo 84.

Anderson não chegou a pagar, mas afirmou que Luís deixou o carro com ele mesmo assim. Na noite do mesmo dia ele e Ronaldo limparam o carro. “Tinha umas manchas de sangue no porta-malas, com resto de combustível e papel higiênico meio gastos”. Alegando não ter desconfiado de nada e até ter chegado se o carro não era roubado, o suspeito explicou que lavou o veículo para poder usar no outro dia e instalar um aparelho de som.

Ao Campo Grande News, o juiz Aluízio Pereira explicou que a análise do caso agora depende do laudo de insanidade mental feito por Luís no dia 7 deste mês. O resultado deve ser entregue no início da próxima semana. Um prazo de cinco dias será dado para o Ministério Público Estadual e para as defesas para se manifestarem e só depois o juiz decide pela pronúncia ou impronúncia do réu.

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