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Reflexões sobre a mentira

(*) Francisca Paris - 02 de abril de 2014 - 15:12

Se você perguntar para alguém qual é a sua opinião sobre mentir, certamente ele dirá que é contra e que não mente. Mas será que é verdade? Claro que há brincadeiras saudáveis em relação a isso, como as pegadinhas as quais estamos acostumados especialmente no dia 1º de Abril. O Dia da Mentira surgiu na França e veio para o Brasil em 1848. Em 1º de abril deste ano, veiculou-se em Pernambuco que D. Pedro havia falecido, informação que era mentirosa e foi desmentida no dia seguinte.

O problema não é brincar neste dia, mas quando a mentira vira um hábito. Muitos não refletem sobre a intenção ou o ato propriamente de enganar e acham que uma mentirinha não faz mal a ninguém. Porém, quando se é pai ou responsável pela educação de uma criança, é importante analisar quais os efeitos que a falta da verdade podem provocar, seja ela grande ou pequena.
Infelizmente, a mentira está arraigada em nosso cotidiano. Ela está cada vez mais presente no meio político, por exemplo, em que escândalos aparecem quase que diariamente e, mesmo havendo as provas dos crimes, os culpados insistem em mentir e negar. Quando não ocultam, transferem a culpa ou até tiram proveito da situação. E, vendo que conseguem se sair bem, se habituam a isso, aproveitando-se da conveniência de não ter que encarar a realidade dos fatos.
Mesmo sendo instruídas a não mentir, observamos que as crianças acabam usando desse artifício para tentar fugir de um castigo ou uma bronca. E fazem isso porque seguem os padrões daqueles com quem convivem. Isso significa que de nada adianta ensinar um pequeno a não mentir se quem o educa faz o contrário. Pais e responsáveis precisam dar o exemplo, pois os filhos os observam sempre e tendem a reproduzir as mesmas atitudes tal qual um espelho reflete a imagem a sua frente.
De acordo com um estudo feito por um professor de psicologia da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, em geral as pessoas contam três mentiras a cada dez minutos. A pesquisa revela, ainda, que é comum se recorrer a inverdades para manter um bom convívio social. Isso acontece, por exemplo, nos diálogos mais simples, como a clássica sequência: “Oi, tudo bem?”, “Sim, vou bem e você?” e “Estou bem também, obrigada”. Essas respostas não significam que o interlocutor esteja realmente bem, mas a afirmação de que tudo está nos conformes serve para evitar ter que revelar algo indesejável de sua vida particular ou profissional. Afinal, ninguém quer ouvir lamúrias logo no começo de uma conversa, especialmente se elas vierem de alguma pessoa com quem não se tem muita intimidade.
É claro que não estou aqui defendendo que todos sejamos os “supersinceros”, porque isso traria enormes conflitos sociais. Seria realmente difícil conviver se todos dissessem tudo o que se passa em suas cabeças, sem o menor filtro. Isso, certamente, traria chateações e tristezas, porque nem todos querem ouvir que aquela roupa não caiu bem ou que a pessoa é muito irritante ou inoportuna. Isso guardamos para aqueles com quem temos mais proximidade.
Mas, se a verdade dói e assusta em um primeiro momento, ela traz alívio e conforto depois. A mentira não traz refresco para quem a conta, já que ela não se resolve por si só. Ela também dói, só que de outra maneira, porque sufoca e não permite a expressão verdadeira. Além de dar muito trabalho, claro! Isso porque muitas vezes é preciso construir todo um castelo de mentiras para proteger uma única falsidade, o que desperdiça muita energia e gera um eterno estado de tensão, porque se cria a necessidade de manipular a tudo e a todos eternamente. É muito mais fácil falar logo a verdade!
Um dos diferenciais do ser humano em relação aos animais é a capacidade de conseguir prever as consequência dos seus atos. Então, ao evitar ser verdadeiro, a pessoa pensa que está fugindo das sequelas, mas elas aparecerão, cedo ou tarde. Não podemos deixar que o ludibriar seja parte do cotidiano, pois por pior e mais dura que seja a verdade, ela deve prevalecer.
O ideal é não mentir, nem por brincadeira, mas também não sou radical em relação a isso. As pegadinhas podem ser saudáveis e bacanas, porém é sempre importante lembrar o quanto o respeito e o cuidado com o outro são essenciais, de forma a evitar que alguém saia prejudicado. Então não há problemas em “sair da linha” um único dia se, no restante do ano, se reforçar o mal que se causa ao roubar, fingir e mentir.

(*) Francisca Paris é pedagoga, mestra em educação e diretora de serviços educacionais da Saraiva

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