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Receitas escritas à mão contêm três vezes mais erros

Agência Notisa - 23 de abril de 2009 - 07:26

Estudo mineiro avaliou erros de prescrição de medicamentos perigosos e alerta para a omissão de informação, presente em 86,5% das receitas com ao menos uma falha.

Após avaliar 4.026 receitas médicas de 456 pacientes com medicamentos potencialmente perigosos, pesquisa mineira identificou que 44,5% deste tipo de prescrição apresentava algum tipo de erro e concluiu que a padronização no processo de prescrição e a eliminação daquelas feitas à mão podem reduzir o número de erros. Segundo o artigo científico, disponibilizado on-line na Revista de Saúde Pública e que ainda aguarda publicação, o percentual de erros pode, eventualmente, ser ainda mais alto, pois não foi possível considerar a condição clínica do paciente e discutir os casos com o médico responsável pelas receitas.



Conduzida por Mário Borges Rosa e colegas da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG), a pesquisa analisou as prescrições quanto a: legibilidade, nome do paciente, tipo de prescrição, data, caligrafia ou grafia, identificação de quem a prescreveu, análise do medicamento e uso de abreviaturas.



O estudo observou que um dos erros mais perigosos encontrados foi o uso intensivo e sem padronização de abreviaturas nas prescrições, esta última com uma média superior a 30 ocorrências por receita médica. Os pesquisadores ressaltam que “já é antiga a ideia” de eliminar o uso de abreviaturas, citando como exemplo o caso de um paciente canadense que teve lesão grave permanente: “ele recebeu 70 unidades de insulina em vez das sete prescritas, porque a abreviatura ‘U’ foi confundida com o número zero”. Se não for possível escrever por extenso em toda a receita, os pesquisadores recomendam, ao menos, alguma padronização.



Metade das prescrições estudadas estavam escritas à mão. De acordo com os pesquisadores, erros de prescrição podem ser reduzidos com a utilização de editores de textos para a indicação do medicamento, evitando o manuscrito. Outros medicamentos potencialmente perigosos que apresentaram alto índice de erros de prescrição foram o fentanil (analgésico narcótico), com 22,1%, e o midazolam (indutor do sono), com 11,4%. Além disso, eles identificaram que a heparina (anticoagulante) foi a droga com maior número de erros – 33,7% das receitas avaliadas continham ao menos um problema – e que a média de erros por cada uma das 4.026 receitas estudadas é de 3,3, predominando a omissão de informação (86,5%).



“A heparina e o midazolam foram responsáveis pela maioria dos erros relacionados à concentração. Verificou-se tendência à omissão da forma farmacêutica quando a heparina e o fentanil eram prescritos, pois, juntos, originaram a quase totalidade dos registros (de erros de omissão da forma farmacêutica)”, detalham.



Os autores destacam no artigo que, em 1999, um estudo norte-americano (To err is human: building a safer system) estimou que cerca de 98 mil morrem anualmente, nos EUA, em consequência de erros associados à assistência à saúde. Na opinião de Borges Rosa e colegas, muitos paradigmas são confrontados na discussão de erros em instituições de saúde. “Os profissionais de saúde normalmente associam falhas nas suas atividades à vergonha, perda de prestígio e medo de punições. De modo geral, o ambiente nas instituições de saúde não é propício para uma discussão franca sobre o assunto”, consideram.




Agência Notisa (science journalism – jornalismo científico)


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