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Geral

Recado do Cheida:Contra veneno de cobra, veneno de cobra

Luiz Eduardo Cheida* - 11 de julho de 2009 - 08:23

O Paraná despeja no ambiente 40 mil toneladas, ou 40 milhões de quilos, de agrotóxicos por ano. Este veneno vai para as plantas, o solo, o ar, a água e para dentro do resto de seus habitantes.


O Estado é o segundo consumidor nacional desta nefasta mercadoria. E talvez, não por coincidência, o primeiro em número de câncer de fígado e pâncreas.


Aqui, nas regiões que plantam fumo, e aplicam veneno associado a sais e metais, o número de câncer em crianças, a depressão psíquica e o suicídio de jovens adultos, é maior que a média estadual. Talvez, não por coincidência...


A progressiva esterilização do solo; o aparecimento de novas pragas; a ressurgência das super-pragas; a redução da piscosidade dos rios e a contaminação do leite materno, são alguns exemplos de um modelo agrícola que, para vender mais, combinou máquina, agrotóxico e adubo químico.


Já passou da hora de buscarmos um outro modelo.


Entretanto, o agricultor não aplica veneno na propriedade porque é um delinqüente ambiental. Por que é cruel. Ele o faz porque esta é a lógica do modelo. E dizer a ele que, de agora em diante, não poderá mais usar estes produtos é deixá-lo com um peso na alma porque, mesmo ciente das conseqüências, continuará impregnando sua propriedade do mesmo jeito. Porque o mercado exige!


Ora, mas se é uma questão de mercado, vamos abrir um outro mercado: veneno de cobra se combate com veneno de cobra.


O Governo do Estado compra, para a merenda escolar, mais de 1 milhão de refeições por dia. Então, que compre aquelas feitas de produtos orgânicos!


Com isso, garante-se um mercado aos agricultores que converterem suas propriedades e, ao mesmo tempo, acena-se com mais saúde para nossas crianças.


Aliás, segundo a ANVISA, o residual de agrotóxicos permitido em um ser humano é calculado levando-se em conta o organismo de um homem de 60Kg. Mulheres e crianças estão fora.


Mais um motivo para começar pelas crianças.


Para quem pensa que não há produção, nos últimos 10 anos, no Paraná:


- O número de produtores de orgânicos saltou de 300 para 5.300.
- A safra de orgânicos pulou de 450 toneladas para 107.000 toneladas. Um aumento de 2.000%. A continuar os incentivos governamentais, projeta-se para o ano 2.018 uma safra de 2 milhões de toneladas.


Por tudo isso foi que eu, e os deputados Luciana Rafagnin e Elton Welter fizemos e acabamos de aprovar, na Assembléia Legislativa, projeto de lei que institui a obrigatoriedade da Merenda Escolar Orgânica.


Tem alimento orgânico para abastecer toda merenda escolar? Não.


Mas, contrariamente ao que poderíamos pensar, isso é bom. É sinal que a produção pode crescer porque o mercado existe.


Para se ter uma idéia, todo o feijão orgânico produzido no Estado, não chega à metade da demanda da merenda escolar.


- E os rio vai ficar limpo? – canta na orelha meu pernilongo de estimação.


- Vai dá pra ver o fundo – respondo, zunindo.


- Então vai dar peixe até debaixo d´água!


Mesmo sem entender do assunto, até meu pernilongo acerta na mosca.


Um forte abraço e até sexta que vem.

Luiz Eduardo Cheida* é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos



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